Violência obriga o comércio a fechar mais cedo em Niterói

Niterói
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Desde maio seguranças de shopping no Centro estão usando cassetetes

Foto: Douglas Macedo

O sentimento de insegurança nas ruas de Niterói vem refletindo diretamente no comércio varejista da cidade. Nos cinco primeiros meses deste ano, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), foram registrados 139 roubos a estabelecimentos comerciais no município. Segundo a CDL Niterói (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Niterói), a violência à noite vem assustando a clientela, obrigando, assim, os estabelecimentos comerciais a fecharem mais cedo por conta da baixa demanda.

“O comércio funciona para atender a população, e, do momento que esta população não sai às ruas por medo, o comércio fica prejudicado. Principalmente os bares e restaurantes têm fechado mais cedo, não por medo por parte dos comerciantes, mas pela diminuição da demanda”, declarou o vice-presidente da CDL Niterói, Luiz Vieira.
A 77ª DP, em Icaraí, registrou 39 roubos a estabelecimentos comerciais, correspondendo a 28% de todos os casos da cidade. Um caso de violência que ocorreu recentemente no bairro constata a informação de Vieira. No final de junho, uma jovem de 19 anos foi atingida por um tiro de arma de fogo durante uma tentativa de assalto a uma mercearia na Rua Mariz e Barros. Por volta das 20h, um criminoso armado invadiu o estabelecimento e anunciou o assalto.

Na madrugada deste mesmo dia, dois quiosques na orla de Gragoatá, bairro vizinho, foram assaltados. O primeiro crime foi cometido por quatro bandidos, um deles armado com fuzil e flagrado por câmeras de segurança do estabelecimento, que registraram o momento em que clientes foram rendidos. O outro ocorreu às 4h, mas, segundo testemunhas, não foi cometido pela mesma quadrilha.

No entanto, os assaltos não se limitam ao período noturno. Na tarde da última sexta-feira, um criminoso, portando uma pistola, assaltou dez clientes de uma loteria em São Francisco. Houve tiroteio, e lojas na Av. Rui Barbosa fecharam as portas devido ao pânico. Uma agência da Caixa Econômica encerrou o expediente mais cedo. Em mais um dia de crimes em Niterói, na noite do último domingo, bandidos armados assaltaram duas farmácias: uma em São Francisco e outra em Itacoatiara. “As farmácias, devido ao seu horário estendido – sendo algumas abertas 24h – são alvos constantes de ações criminosas”, diz Vieira.

Para o presidente do Sindilojas, Charbel Tauil Rodrigues, a violência é um problema concreto:

“É inegável o impacto do clima de insegurança sobre o movimento do comércio, pois ocorre uma compreensível retração do consumidor. O quanto isso vai afetar cada estabelecimento depende de fatores como a sua localização, o segmento a que se dedica e o tipo de público ao qual se destina. Mas é certo que todos sofrem e saem perdendo com um quadro grave como o atual. O importante é que o problema seja enfrentado, como está sendo, aliás, aqui em Niterói, seja por ações do Poder Público, seja por iniciativas de entidades como o Sindilojas”.

Luto forçado – Outro problema que aflige os comerciantes é o “toque de recolher” determinado por traficantes de drogas. No mês passado, comerciantes do Largo da Batalha e do Cubango foram obrigados a fechar as portas após a morte de um suspeito de tráfico da região, em confronto com Polícia Militar. Em trechos de importantes vias dos bairros, lojas não funcionaram na parte da tarde, inclusive grandes redes varejistas.

O pânico dos comerciantes não se limita à Zona Sul. A 78ª DP, no Fonseca, é a campeã de registros de roubos ao comércio, com 45 casos, ou seja, mais de 32% do total em Niterói. Na região, o tráfico também impõe o terror. No último dia quatro, na altura do Bairro Chic, estabelecimentos foram proibidos de se manter abertos. A ordem dos traficantes teria sido motivada pela morte de um homem, apontado pela polícia como chefe do tráfico na Vila Ipiranga, em confronto com a polícia.

“A questão de fechamento do comércio por ordem do tráfico atrapalha o comércio e prejudica as vendas, assim como a circulação de pessoas. Isto tem ocorrido, principalmente, na área da Zona Norte, onde, de imediato, acionamos a Polícia Militar para que seja dada a cobertura, mas os comerciantes ficam com receio de retaliações futuras”, explicou o vice-presidente da CDL Niterói.

No Plaza Shopping, desde maio, os agentes de segurança passaram a portar cassetetes. A assessoria de imprensa do shopping informou que o cassetete faz parte do uniforme operacional da nova empresa de vigilância contratada. 

Prefeitura investe em ações de segurança 

No início de julho, na tentativa de combater a escalada da violência na cidade, o prefeito Rodrigo Neves assinou um convênio com o Governo do Estado para que policiais de batalhões como Choque e Bope atuem no município em seus horários de folga. O acordo é no valor de R$ 3,5 milhões, montante que será disponibilizado para o pagamento dos policiais.

“Com este aporte de recursos, a Polícia Militar terá mais fôlego para ampliar o policiamento na cidade”, disse o comandante do 12º BPM (Niterói), coronel Márcio Rocha.

A Prefeitura de Niterói também anunciou a implantação do programa “Niterói Mais Segura”, que seguirá o modelo implantado em bairros como Centro, Lagoa e Méier, todos na capital fluminense. O programa será desenvolvido inicialmente no Centro e em Icaraí, em parceria com instituições do comércio da cidade, como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Sindilojas e Associação Comercial de Niterói.

A implantação do Niterói Mais Segura vai permitir a presença de mais 200 policiais por dia atuando nas ruas da cidade, já a partir de agosto. Os recursos destinados ao programa, que terá duração de um ano, não foram divulgados pelo Executivo municipal.

Outra ação que visa trazer reforço na segurança niteroiense é a disponibilização, a todos os policiais militares, de mais vagas no Proeis, programa no qual a prefeitura remunera os agentes que não são das forças especiais para atuação no policiamento ostensivo. A meta é alcançar até 150 policiais a mais, diariamente.

Rodrigo Neves também anunciou a realização de um plebiscito sobre o armamento da Guarda Civil Municipal, que ocorrerá na segunda quinzena de outubro, em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Conselho Comunitário de Segurança da cidade.

“Estou convicto, como estudioso dos problemas sociais, que no caso específico de Niterói, temos condições de desenvolver o armamento da Guarda de forma exitosa. Pelo perfil sociocultural da nossa cidade, os riscos são muito menores que os ganhos”, justificou o prefeito.