Abrindo os caminhos para o sucesso

Entretenimento
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

A banda Overdrive Saravá foi fundada em 2012

Foto: Divulgação

A banda niteroiense Overdrive Saravá pode ser considerada uma banda de rock que tem em seu DNA um pouco de Brasil e suas regionalidades. Ritmos como o baião, o forró e até o funk se mesclam ao peso das guitarras fazendo uma combinação interessante. Formada em 2012, a banda atualmente conta com Gregory Combat nos vocais e percussão, Lucas Botti e Thiago Henud nas guitarras, Matheus Freire no baixo e Frederico Cardim na bateria. Como todo grupo que se preza, eles têm como objetivo eternizar o seu som em um registro fonográfico, porém, mesmo com as facilidades que a tecnologia proporcionou nos últimos tempos, isso ainda não é algo exatamente muito viável.  

Por se tratar de uma banda independente, esse caminho fica ainda mais difícil. Porém, nada que desanime os integrantes. Visando arrecadar algo em torno de R$12 mil para que o sonho seja finalmente realizado, eles não mediram esforços para conseguir juntar toda essa quantia. “A Overdrive Saravá sempre foi uma banda que somatiza esforços. Tivemos a felicidade, na nossa, até então, breve caminhada, de colecionar amigos e parceiros de diferentes áreas artísticas, que sempre somam na ideia e no nosso projeto. Desde o início, tínhamos a certeza de que precisávamos gravar um disco, e, desde muito tempo, montamos o caixa da banda. Todas as ações, shows e atividades que geram algum lucro financeiramente vão pra esse caixa”, afirma o vocalista Gregory Combat, que revela, ainda, de forma bem-humorada, que, em determinado momento, chegou até a vender comida na praia. “Vendi milho na praia pra ajudar uma pessoa querida pra mim e brinquei dizendo que o dinheiro arrecadado ia para o disco. E não é que foi? Afinal tudo vai para esse disco, até dinheiro de raspadinha (risos). Já tivemos amigos artistas plásticos cujo valor de sua obra foi revertido pro disco, produzimos também camisas e rifas”, conta.

No entanto o carro chefe de arrecadação da banda é a fabricação da sua própria bebida. Se o Iron Maiden tem a Trooper, sua própria cerveja feita em parceria com uma empresa cervejeira inglesa, a Overdrive Saravá faz jus à brasilidade e produz a sua própria cachaça, uma bebida genuinamente nacional. “Meu pai é mestre cachaceiro e produz cachaças de forma artesanal há bastante tempo. Tivemos a ideia de lançá-las com um rótulo da banda e vender nos nossos shows. Tem dado muito certo, o público adora e sempre pede mais”, explica Gregory, que brinca com uma possível alternativa profissional. “Se a banda não der certo no final das contas, sabemos que sempre podemos migrar para o ramo da cachaça”, se diverte.

A cachaça Overdrive Saravá, vendida nos shows da banda, é uma forma de capitalizar

Foto: Divulgação

E esse esforço variado está valendo a pena, já que, no próximo mês de abril, eles finalmente vão lançar o tão aguardado CD que levará o mesmo nome da banda, que está sendo finalizado neste momento. “A Overdrive Saravá pensa muito sob a perspectiva de outras áreas artísticas. Estamos fechando figurino, algumas performances que irão compor o nosso espetáculo – que tem esse caráter cênico – e uma série de videoartes que iremos lançar também. A ideia é agregar e amarrar tudo no conceito que o nosso novo disco irá trazer”, anuncia o vocalista.

Embora todos os integrantes morem atualmente em Niterói, nem todos são propriamente da cidade. Entre membros e ex-membros, passaram pela banda músicos de outros estados como Minas Gerais e Bahia, reforçando mais uma vez a questão da brasilidade. Entretanto, Gregory afirma que a ligação com a cidade é forte por causa de fatores que vão além dos musicais. “A Overdrive pensa uma concepção artística muito pra além somente da música. Pensamos de forma social, pensamos através das artes plásticas e da performance, pensamos a cidade, pensamos outras formas de se explorar e discutir a arte que não nos limitem somente à banda e sua execução musical. A maioria dos integrantes também é de arquitetos e eu trabalho na Fundação de Arte de Niterói com políticas públicas culturais, então pensar a cidade e sua ocupação é algo que transcende em nossas vidas a função da música”, garante o vocalista, que reforça a necessidade de repensar a cidade. “Realizamos com frequência ações em que ocupamos espaços públicos de forma a repensar as ruas e praças, não só como espaços transitórios, mas como espaços de pertencimento. Temos esse vínculo com Niterói e também seus espaços culturais em que já realizamos shows, como é o caso do museu Janete Costa de Arte Popular”, explica. 

A sonoridade da banda também nasceu dessa vontade de fazer algo fora do convencional. Mesmo tendo o rock como linguagem comum entre todos os integrantes, a vontade de explorar a cultura brasileira das mais diferentes vertentes falou mais alto. “Foi um processo demorado, estudamos muito, viajamos, aprendemos com quem já dominava determinados ritmos e foram uma experiência e uma vivência muito enriquecedoras nesse período. Viajamos pelo baião, pelo xote, coco, maracatu, jongo e até o funk carioca. É importante ressaltar que não nos apropriamos e dizemos que tocamos esses ritmos e que somos aquilo. Esses ritmos estão presentes como referências, mas dentro de uma releitura que nos é única pela nossa impressão e composição”, explica o cantor, para depois fazer uma observação pertinente. “Nosso som transita e não é engessado, pode ser que amanhã estejamos tocando tango com riffs pesados de guitarra. Gostamos dessa liberdade criacional e eu acho que é o que mais nos define. Já nos disseram que o som que fazemos é ‘forrocore’, ‘heavy metal do sertão’, ‘baião psicodélico’ ou só ‘rock experimental’, eu acho que tudo vale dentro de uma proposta que não se permite limites”, filosofa. 

Gregory Combat como uma drag queen no “Amor & Sexo”, da TV Globo, em performance solidária à causa LGBT

Foto: Divulgação

Quebrando tabus e preconceitos na TV

Quem assiste a atual temporada do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, pode acompanhar um quadro chamado “Bishow”, onde, sob a proposta da discussão de gênero, homens héteros e que cantam são amadrinhados por drag queens e treinados ao longo de algumas edições para, no fim, fazer uma performance completa cantando e dançando.

Gregory foi um dos participantes e foi descoberto através das redes sociais via uma equipe de pesquisa do programa. “Foi uma proposta muito importante para uma luta LGBTT que é oprimida pela conduta assassina heteronormativa, que mata todos os dias pelo preconceito e pela ignorância. Desconstruir essa imagem de ‘macho’ em prol da diversidade e do amor foi algo muito especial e, no meu entendimento, um processo histórico, tendo sido discutido de forma tão democrática na TV aberta no Brasil”, afirma Gregory, que diz que a experiência foi muito importante para ele como artista. “Tive a oportunidade de aprender e fazer uma imersão nesse processo que foi muito válido pra mim enquanto artista também. Acho que isso só soma à minha performance dentro da banda. Tem sido muito bacana também para a própria Overdrive Saravá, pois a produção do programa fez diversas coberturas falando do nosso cotidiano e da nossa vida pra além do programa. Então falo muito sobre a banda e a proposta artística que nós temos, isso gera uma vitrine muito forte e reforça também a questão de que, no final de tudo, estamos trabalhando e enaltecendo a arte em suas mais diferentes formas”, finaliza.