Descobertas além-mar

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Espetáculo rendeu a Julio Adrião o Prêmio Shell de Melhor Ator em 2005.

Foto: Divulgação

O monólogo, “A descoberta das Américas”, que rendeu a Julio Adrião o Prêmio Shell de Melhor Ator em 2005, retorna a Niterói neste fim de semana, de sexta a domingo, dias 11, 12 e 13, no Teatro Municipal. Na peça, um zé-ninguém de nome Johan Padan, rústico, esperto e carismático, escapa da fogueira da Inquisição embarcando, em Sevilha, numa das caravelas de Cristóvão Colombo.

No Novo Mundo, o herói sobrevive a naufrágios, testemunha massacres, é preso, escravizado e quase devorado pelos canibais. Sozinho em cena, sem cenário, figurino e iluminação, o ator Julio Adrião também usa o mínimo de texto para interpretar o personagem central.

“É uma montagem simples, com mobilidade para ser levada para qualquer lugar, com uma equipe reduzida. Mas, certamente, a forma como o espetáculo acontece – sua estrutura de narração e física – possui elementos determinantes para o interesse e apreciação e valorização deste trabalho. Uma forma não convencional, não realista, que cria uma grande empatia com o público”, ressalta o ator.

Com o tempo, Padan aprende a língua dos nativos, cativa-os e safa-se, fazendo “milagres” com alguma técnica e uma boa dose de sorte. Venerado como filho do sol e da lua, catequiza e guia os nativos numa batalha de libertação contra os espanhóis invasores.

“Esse trabalho não tinha a pretensão de ser uma montagem, mas apenas uma tradução. Eu e a Alessandra Vannucci, que acabou dirigindo a peça, fizemos a tradução no ano 2000, época de comemoração dos 500 anos do Brasil. Na sequência, sob pressão dela, eu aceitei o desafio de tentar contar aquela história nos palcos. Mais do que conhecer o texto, eu sabia de tudo que estava escrito o suficiente para contar com minhas próprias palavras. Acabei sugerindo uma ação física como complemento. O trunfo, acredito, foi que tudo aconteceu de forma não intencional”, revela Júlio.

Do italiano Dario Fo, o espetáculo está há 13 anos em cartaz. A história contada tem um viés com a História do Brasil, embora não fale propriamente dela. Sucesso de público e crítica, “A Descoberta das Américas” também foi eleita como uma das 10 melhores peças de 2005 e participou de diversos festivais no Brasil e no exterior. 

“Ainda é um desafio, por causa de todos esses anos circulando, as pessoas ou estão indo assistir de novo ou indo por indicação. Um espetáculo a gente tem sempre que refazer, buscar sempre o melhor possível, e nessa trajetória eu acabei continuando com as pesquisas até encontrar a forma mais essencial dele, e hoje ele é fruto dessa pesquisa, mais potente na sua missão final”, confessa o artista.

Intérprete do controverso e carismático protagonista, Julio Adrião é um ator, produtor e diretor teatral carioca nascido em 1960. Formado em Teatro pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), em 1987, e depois partiu para a Itália, onde trabalhou nas companhias italianas. Neste espetáculo, Adrião dá vida tanto a Padan quanto aos exploradores europeus, aos indígenas e aos animais da floresta.

“Niterói desde sempre tem sido uma cidade que a gente tem visitado em várias situações. Nos festivais da UFF, e mesmo no Teatro Municipal, onde já estivemos em uma temporada anterior. Voltar a esse palco tão charmoso e tão representativo do teatro do Rio de Janeiro é para mim sempre uma belíssima experiência. Tenho uma relação profunda com a cidade por causa da família, da UFF onde fui aluno nos anos 70. Enfim, é sempre um prazer, espero que o público venha assistir “A descoberta das Américas” em mais essa oportunidade, neste final de semana, lembrando que no próximo, dias 18, 19 e 20, continuamos em cartaz com “Utopia D”, inédito na cidade e também mais um espetáculo extremamente pertinente que retoma questões fundamentais de direitos humanos e relações com os poderes. Aguardo vocês”, conclui o ator. 

O Teatro Municipal de Niterói fica na Rua Quinze de Novembro, 35, Centro. Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. R$ 50. Telefone: 2621-5050.

 

 

 

 

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