Um dos maiores poetas que o samba e a Música Popular Brasileira já tiveram, Angenor de Oliveira, popularmente conhecido como Cartola, estaria completando nessa terça (11) 108 anos. Como forma de homenageá-lo, a Universal Music está disponibilizando uma coletânea para lá de especial intitulada “Todo o Tempo que Eu Viver” com os dois primeiros álbuns do sambista, gravados quando ele já tinha mais de 65 anos, ambos levam o seu nome e foram lançados originalmente em 1974 e 1976. Além disso, os fãs são brindados com “Tempos Idos”, uma compilação de faixas gravadas por ele neste mesmo período, em álbuns de amigos e em projetos especiais.
Dessa forma não seria nenhum exagero dizer que embora o aniversariante seja ele, o público que é o grande presenteado com esses belos registros dessa grande voz, que ao mesmo tempo parece frágil e ao mesmo tempo é bastante poderosa, no seu ritmo sempre intimista da batucada e de acordes suficientes para fazer o ouvinte viajar no tempo, em uma época do samba mais romântico e de fato de raiz, pois foi mais ou menos ali que tudo começou.
Nascido no Catete, na Zona Sul do Rio de Janeiro, porém eternizado no Morro da Mangueira, onde teve papel fundamental na fundação da famosa Escola de Samba verde e rosa, Cartola ainda menino herdou do pai o gosto pelo samba e aprendeu com ele a tocar cavaquinho e violão. Foi morar na Mangueira na adolescência quando a numerosa família, com dificuldades financeiras teve que se mudar para o local que naquele contexto histórico começava a virar uma favela. A guinada musical se consolidou mesmo aos 15 quando, após a morte da mãe ele largou os estudos e se jogou na vida boêmia na companhia de seu amigo Carlos Cachaça. Foi nessa época que Angenor virou Cartola, por causa de um emprego como servente de pedreiro e passou a usar um chapéu-coco para se proteger dos fragmentos de cimento que teimavam em cair sobre sua cabeça. Já rebatizado ele fundou o Bloco dos Arengueiros, que em 1928 fundou a Estação Primeira de Mangueira onde foi autor do primeiro samba da mesma, “Chega de Demanda”, presente na coletânea especial com o relato do próprio artista dizendo que foi dali que tirou o nome da escola.
Embora tenha se popularizado nos anos 30, com sambas gravados por nomes da época como Araci de Almeida, Carmen Miranda, Francisco Alves, Mário Reis e Sílvio Caldas e nos anos 40 com o seu programa de rádio “A Voz do Morro” na Rádio Cruzeiro do Sul, além de um período difícil nos anos 50 que começou a ser superado após ser de certa forma redescoberto pelo jornalista Sérgio Porto, foi somente em 1974 que ele gravou de fato o seu primeiro disco.
Com 66 anos e já considerado em vida uma lenda, Cartola por intermédio do produtor de discos e publicitário Marcus Pereira gravou interpretou “Acontece”, “Tive Sim” e “Amor Proibido” de sua própria autoria e canções com colaborações de Dalmo Casteli (“Disfarça e Chora” e “Corra e Olhe o Céu”), Oswaldo Martins (“Sim”), Elton de Medeiros (“O Sol Nascerá”), Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho (“Alvorada”), Nuno Veloso (“Festa da Vinda”), Carlos Cachaça novamente em “Quem Me Vê Sorrindo” e por último “Ordenes e Farei” com Aluizio.
Dois anos depois gravou outro álbum de mesmo nome do primeiro e impulsionado pelos dois maiores clássicos de sua carreira “As Rosas Não Falam” e “O Mundo É Um Moinho. Além disso interpretou suas composições “Minha”, “Sala de Recepção”, “Aconteceu”, “Sei Chorar”, “Cordas de Aço” e “Ensaboa”. Sem contar “Preciso me encontrar” (Candeia), “Senhora tentação” (Silas de Oliveira) e “Pranto de Poeta” (Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito). Na compilação de sucessos da época também vale destacar, “Acontece”, “O Sol Nascerá” (com Elton Medeiros), “Quem Me Vê Sorrindo” (com Carlos Cachaça), “Cordas de Aço”, “Alvorada” e “Alegria”.
Apesar de ter morrido pouco depois aos 72 anos em 30 de novembro de 1980, vítima de um câncer na tireoide, seu nome já estava marcado pra sempre na história da música popular brasileira e só cabe a nós e todas as gerações seguintes reverenciar seu legado.