O jornalista carioca Pedro Doria começa a construir uma interessante carreira na literatura sobre a história do Brasil. Após o lançamento de “1565 – Enquanto o Brasil Nascia”, ele lança agora “1789” (Editora Nova Fronteira), que relata o período da Inconfidência Mineira e fala não só sobre Tiradentes, mas também sobre diversos outros revolucionários quase anônimos que tiveram papel determinante em um dos episódios mais marcantes da história do nosso país.
A obra não tem como principal mérito trazer fatos que não tenham sido abordados por outros historiadores brasileiros ao longo das últimas décadas, mas a fluidez do texto de Dória prende a atenção do leitor não acadêmico, aquele que está interessado em ler sobre a Inconfidência como se estivesse acompanhando um filme ou minissérie. O trabalho é abrangente, e se concentra em relatar o período histórico como um todo, desde as motivações para a realização do movimento insurgente até o cuidado ao apresentar uma gama extensa de personagens que tiveram um papel determinante para o estouro da revolução.
Outro aspecto positivo do livro é o fato de Pedro Dória fugir do fácil caminho de apresentar a Inconfidência Mineira de forma romântica, transformando Tiradentes e companhia em simples heróis. O subtítulo “A história de Tiradentes e dos contrabandistas, assassinos e poetas que lutaram pela independência do Brasil” reflete de maneira competente a proposta do jornalista: mostrar a importância histórica do movimento, mas fugindo do clichê de dividir os personagens apenas em vilões e mocinhos, pois a história do Brasil está longe de ser binária.
Os defeitos de Tiradentes são apresentados de forma contundente, o que pode até gerar antipatia dos mais simpáticos à Inconfidência, mas o trabalho de apuração, para utilizar um jargão jornalístico, é feito por Dória com competência, com citações de outros autores ou apresentação de trechos de documentos históricos. A cidade de Vila Rica, epicentro da revolução, é descrita em detalhes, assim como outras cidades da região no período.
1789 é uma obra que tem como principal mérito aproximar o público de um dos eventos mais importantes e estudados da história do Brasil, com uma linguagem envolvente e que desperta o interesse do leitor sobre um tema que pareceria mais denso se escrito da forma como os historiadores normalmente fazem.
GABRIEL OLIVEIRA