O grupo Casuarina se apresenta, hoje e amanhã, no Teatro da UFF, trazendo o espetáculo “CentenáRIO Samba”, comemorando os 100 anos do surgimento do ritmo mais carioca que existe. Essa é só mais uma homenagem dos músicos ao samba, já que eles lançaram, ano passado, o sétimo CD da carreira, chamado “7”, além de dois DVDs.
Formado em 2001, o Casuarina guarda grande relação com o ressurgimento do samba e da Lapa nessa geração, pois foram um dos primeiros grupos a revitalizarem o cenário cultural do bairro, com o samba. Em entrevista, o vocalista e tocador do tan tan, João Cavalcanti, filho de Lenine, conta do surgimento do grupo, sua relação com o samba e dá detalhes do espetáculo.
Como você e os outros integrantes do Casuarina se conheceram e como foi o surgimento do grupo?
Todos nós já tinhamos outras bandas, três do Casuarina já tinham uma banda juntos, o Daniel, Gabriel e o Rafa, e todo mundo meio que já se conhecia da noite no Rio, a gente frequentava muito a Lapa na época. E aí, lá em 2001, estávamos todos juntos na Unirio fazendo um pré-vestibular – a gente na verdade não se conheceu ali, mas era lá que a gente tava junto. Resolvemos fazer um encontro no final do período para tocar e dali surgiu o grupo. Cada um tinha uma influência distinta, eu mesmo era bastante cru no samba quando começamos o Casuarina. Apesar de ser carioca, eu ouvia muito mais Stevie Wonder, Michael Jackson, e brasileiros era Chico Science, Planet Hemp, O Rappa, não propriamente samba. Mas, a partir do Casuarina, a gente foi tropeçando num repertório que é muito rico e forte. Fomos muito influenciados por Delcio Carvalho e Wilson Moreira, por que convivemos muito com eles, e eles nos ensinaram muita coisa, fizemos muitas colaborações juntos. São grandes mestres de vida também.
O que te atraiu no samba a ponto de formar um grupo focado só nesse ritmo?
O próprio exercício do fazer coletivo e de formar uma banda se aliou ao fato do samba ser um ritmo que me era muito íntimo sem que eu soubesse. Houve uma crise de consumo no samba para mim e para os meus pares nos anos 90, e esse samba romântico da época causou meio que uma ruptura entre a minha geração e a dos meus pais. Só que com o trabalho do Casuarina a gente começou a pesquisar um repertório que era muito mais antigo que não tocava em rádio, como, por exemplo, “Laranja Madura”, do Ataulfo Alves, que está no nosso primeiro disco. Eu nunca tinha ouvido essa música porque ela foi sucesso na geração dos meus avós. Quando minha mãe escutou, ela disse “caramba, eu ouvia isso com seus avós, em casa”.
Então você foi se apaixonando pelo samba conforme você foi descobrindo-o?
Com certeza. É um universo muito vasto. Tem uma frase do Jackson do Pandeiro: “tudo é coco”. Porque a base musical do coco e do samba se aplicam a quase qualquer ritmo, então o samba te permite diversos “fios da meada”.
No show “CentenáRIO Samba”, vocês vão dar um panorama da história do samba. O repertório vai ter músicas do álbum mais recente também?
Muito pouco. A gente já fez alguns shows do “7” mesmo –uma paresentação mais robusta, com 9 músicos. Em o “CentenáRIO”, somos só nós cinco. Mas a gente tem até brincado e posto as músicas do álbum que vão entrar no show em momentos onde elas poderiam ter sido compostas, por analogia estética. As músicas, por exemplo, que parecem mais samba-canção a gente colocou nos anos 60, 70. Tem música do Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Pixinguinha, Donga, Délcio e Dona Ivone, Noel Rosa, Baden Powell e Vinicius de Moraes, enfim, a gente perpassa o samba através dessa cronologia, dentre várias cronologias possíves.
No álbum vocês compuseram com Aluísio Machado, João Martins... Tem também uma participação da Maria Rita. Existem outros sambistas que vocês ainda querem trabalhar?
A gente quer trabalhar com todo mundo! Eu sou parceiro do Claudio Jorge que é um sambista que eu admiro muito, mas eu nunca tive cara para pedir, por exemplo, um caco pro Wilson Moreira, que é um ídolo meu. Nunca tive coragem para chegar e dizer “Wilson vamos fazer algo?”. Mas todos os sambistas a gente adoraria trabalhar e compor. Já o show, a gente quer muito fazer o registro desse “CentenáRIO”, talvez até audiovisual. Esse é um show que a gente fez ano passado e passou a ser uma coisa que sempre fazemos.
O Centro de Artes UFF fica na Rua Miguel de Frias, 9, Icaraí. Sexta e sábado, às 20h. Preço: R$ 60 (inteira). Censura: 10 anos. Telefone: 3674-7515.