Pinturas de planos abertos em óleo e aquarela marcadas pela intensidade cromática, um sólido geométrico constituído de hexágonos de 240 bolas de futebol e imagens impressas que discutem a relevância dos espaços expositivos convencionais dialogam entre si, de certa forma, e com a contemporaneidade nas exposições que estreiam no Centro de Artes da UFF. A partir de quarta (12), às 19h, o público confere “Das utopias como paisagens possíveis”, “Superball” e “Vejo arte em tudo”.
A carioca Patrícia Freire, criada no bairro de Santa Rosa, em Niterói, usa a pintura como linguagem e integra a mostra coletiva “Das utopias como paisagens possíveis” com telas de paisagens, ora resgatadas em sua memória, ora inventadas. Em seu processo de composição, o contato com a natureza possui tamanha importância, e é dele que surgem imagens internas que a artista tenta transpor para as telas em que o óleo traz a materialidade das cores.
“O fato do óleo ter uma secagem lenta permite um trabalho de sobreposição de camadas e misturas das cores. Isso é importante, já que não parto de nenhum desenho prévio ou cópia de uma imagem específica. Nesse cenário, a aquarela propõe o desafio de vencer o imediatismo da técnica e esse acaso em aguadas me fascina”, confessa a artista.
No início de sua carreira profissional, após entrar na Escola de Belas Artes (EBA - UFRJ) - antes Patrícia era autodidata - a carioca compunha trabalhos em aquarela, guache e óleos. A experiência na EBA foi de grande importância, mas foi sua estadia de quase cinco anos na Inglaterra que resultou em uma produção mais significativa.
“Na EBA fui aluna de Lygia Pape, Paulo Houayek, entre outros, que me influenciaram profundamente minha trajetória de pintora. Contudo, foi na Europa que tive a oportunidade de focar em arte e onde pude expor meus trabalhos em diversos lugares, como em Bilbao, na Espanha e em coletivas em Londres”, explica Patrícia, que, na época, também foi selecionada para uma residência artística em pintura na Espanha.
Ao lado de Patrícia na mostra, os brasileiros Gustavo Duarte, Glaucis de Morais, Luiz Badia, Oliver Mann, Petrillo e Victor Haim, e os franceses Atelier Isotope, Gabriel Folli e Stéphanie Smalbeen oferecem uma experiência estética no qual as diferenças e as singularidades, não só são possíveis, como superam utopias, e promovem uma discussão sobre as práticas artísticas como espaços de elaboração de estratégias.
O artista, escritor e curador Frederico Dalton fica por conta do Espaço UFF de Fotografia Paulo Duque Estrada, com a mostra “Vejo arte em tudo”, que reúne dez imagens impressas de caminhadas fotográficas que fez pelo Rio de Janeiro a títulos de obras de artistas famosos como os franceses Manet e Duchamp e o escultor britânico Anish Kapoor.
Em 2014, Dalton criou a Galeria Transparente, uma galeria virtual com exposições físicas periódicas, que exibe arte e fotografia e reúne mais de cem artistas. Nesta exposição, as imagens, que já foram compartilhadas anteriormente nas redes sociais, promovem um debate sobre a validade dos espaços expositivos físicos que permitem a presença não possibilitada no mundo virtual.
Já o jardim da Reitoria recebe “Superball”, do artista plástico niteroiense Felipe Barbosa, que desde os 16 anos de participa regurlamente de exposições de arte. A obra é uma variação do Isosatruncado - sólido geométrico que constrói uma bola de futebol, composto por 20 hexágonos e 12 pentágonos - e permite a tridimensionalização de um espaço bidimensional.
“Desde 2003 venho trabalhando com bolas de futebol e sua geometria, particularmente. Como minha formação é em pintura, pensei em como seria transformar o espaços da bola sem que ela deixasse de ser o objeto original e não passasse a ser uma representação. A geometria foi o meio que encontrei para fazer isso acontecer”, explica Felipe.
Em 1996, o artista, interessado por desenho, quadrinhos e posteriormente por arte moderna e contemporânea, entrou na Escola de Belas Artes (UFRJ). Ao longo de sua carreira já fez exposições individuais importantes como a “Quartet”, na Sara Meltzer Gallery, em Nova York (2010), a “Libro de Artista”, na Espacio Alfonsina, na Argentina, no mesmo ano e “Futebol Arte”, no LGC Arte Contemporânea, em solo brasileiro, no Rio (2010).
Além dessas exposições, suas obras integram coleções como Gilberto Chateaubriand (MAM-Rio) e João Satamini (MAC-Niterói). Para ele, o trabalho no qual ele está mais envolvido no momento acaba sendo o mais marcante, sendo este, atualmente, uma exposição em parceria com Rosana Ricalde no Museu Vale do Espírito Santo, onde os dois construíram 21 esculturas que ocuparam todo o jardim do museu.
Dentre os materiais preferidos do artista estão os artefatos industriais, que, por já possuírem um significado, precisam do espectador para constituir a dissolução do trabalho final. “Gosto de trabalhar com objetos cotidianos justamente por eles já carregarem história e função determinada. Diferente dos materiais artísticos tradicionais – que se prestam à vontade e aos ideais dos artistas –, quando escolho determinado material que já carrega significados de antemão sou eu que tenho que dialogar com o que ele impõe”, revela Felipe, que já trabalhou com fósforos, guarda-chuva, escadas, casas de pássaros, pneus, estalinhos, entre outros objetos.
O Centro de Artes da UFF fica na Rua Miguel de Frias, 9, Icaraí, em Niterói. Quarta (12), às 19h. Entrada franca. Em cartaz até o dia 20 de agosto