Uma pequena parte do todo

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Filme aborda a juventude do roqueiro até meados da década de 70, e sua amizade com Roberto Carlos

Foto: Divulgação

Parece que a onda de filmes/biografias musicais veio para ficar. Na esteira de sucessos como “Bohemian Rhapsody” e “Nasce Uma Estrela”, chega aos cinemas brasileiros hoje o longa “Minha Fama de Mau”, baseado na biografia de Erasmo Carlos, escrita em parceria com o jornalista Leonardo Lichote.

Diferentemente do que o título pode sugerir, o que vemos na tela é a história de um gigante gentil, romântico, caseiro, amigo e cheio de contradições e inseguranças. Tudo isso em uma narrativa linear e sem grandes surpresas.

O filme tem muitas qualidades, embora sofra bastante quando comparado com as produções estrangeiras, especialmente na caracterização dos personagens. O (bom) elenco – Chay Suede (Erasmo), Gabriel Leone (Roberto Carlos), Malu Rodrigues (Wanderléa) e Bianca Comparato, que faz os papéis de várias mulheres (Nara, Samara, Clara, Lara e Sara) – cumpre a tarefa de entreter o público e driblar eventuais falhas do roteiro.

Dirigido por Lui Farias, “Minha Fama de Mau” foca na história do jovem Erasmo até o encontro com Nara, provavelmente o grande amor da sua vida. Portanto, muita coisa ficou de fora.

A história de Erasmo, antes da entrada do amigo de fé, Roberto, em sua vida, era de um menino pobre da Tijuca, que vivia fazendo pequenos trambiques com os amigos e vizinhos, entre eles uns tais de Tião Maia e Jorge Ben. Foi lá que o futuro roqueiro aprendeu os primeiros acordes e compôs suas primeiras canções/versões. Foi lá também que se iniciou a amizade com o Rei Roberto, uma amizade que mudou a história da nossa música, apesar de ser retratada de uma maneira não muito profunda.

A amizade e parceria de Erasmo e Roberto Carlos faz parte do enredo. Ambos assistiram ao filme

Foto: Divulgação

A histeria da Jovem Guarda – movimento que sempre foi esnobado pela elite da MPB, principalmente pelos que veneravam a Bossa Nova – e o sucesso do programa apresentado por Roberto, Erasmo e Wanderléa ocupam boa parte do longa, que vai somente até meados dos anos 70.

Músicas como “Eu Sou Terrível”, “Gatinha Manhosa” e “Minha Fama de Mau” são interpretadas com competência pelo elenco, que se apoia na ótima banda, formada pelos músicos que hoje acompanham o Tremendão em seus shows. Aliás, a trilha sonora do filme já está disponível nas plataformas de streaming.

A amizade e parceria de Erasmo e Roberto Carlos redefiniu a música brasileira. São incontáveis as canções compostas pela dupla e que fazem parte do imaginário e da vida de milhões de brasileiros. Infelizmente, o filme ainda deixa muito dessa parceria envolta em mistério – seria em respeito à intimidade do Rei?

“Muita gente fala, mas ninguém sabe como cada canção foi feita. Às vezes, nem eu e o Roberto lembramos direito. Seria como tentar saber o que foi escrito por Lennon e o que foi feito por McCartney”, comenta Erasmo.

O fato é que, para conseguir encaixar a história da canção “Amigo”, o longa usou de uma licença poética-temporal muito similar à utilizada na cinebiografia de Freddie Mercury, levando o evento para vários anos antes do seu acontecimento. De qualquer forma, a cena é uma das mais emblemáticas do filme.

Reconstituições de época

– Se o roteiro é um pouco rasteiro ao desenvolver aspectos importantes da vida de Erasmo, as reconstituições e as cenas de um Rio (e São Paulo) da década de 60 são primorosas, assim como são excelentes as participações especiais de Paula Toller (como Candinha) e de Isabela Garcia (como Diva, mãe de Erasmo). 

A produção foi detalhista e o resultado é um filme que agrada, entretém, produz sorrisos e até uma ou outra risada. Entre erros e acertos, o longa deve ser um sucesso e registra uma época onde o mundo e a música eram bem mais inocentes.

Não há traço de canções como “Panorama Ecológico”, “Mulher” ou “Filho Único”. Menos ainda dos sucessos imortalizados na voz do parceiro. Até mesmo a paixão pelo Vasco da Gama é retratada apenas em imagens nos créditos do filme, deixando um gostinho de que o resto da história de Erasmo merece ser contada. Enquanto isso, o livro de onde o filme foi baseado ainda é a melhor fonte para conhecer o verdadeiro Tremendão.


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