Nesta quinta-feira (15), completam-se 20 anos da morte do maior nome do funk e da soul music brasileira, Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia.
Todo o drama começou na noite de oito de março de 1998, quando Tim Maia se sentiu mal durante a gravação de um show para o canal pago Multishow no palco do Teatro Municipal de Niterói. Famoso pelo não comparecimento a inúmeros espetáculos e pelos atrasos, Tim demorou a aparecer também no último show de sua vida. O evento era especial, entre a plateia estavam convidados, artistas, celebridades, atores, músicos e jornalistas. Era a reabertura do charmoso local que também atende pelo nome de Teatro Municipal João Caetano, após uma reforma.
“Lembro que um carro entrou pela área proibida, logo já pensei: ‘Opa, Tim Maia chegou na área!’. Quando ele estava passando o som, cheguei nele e avisei que no Teatro Municipal a gente não atrasava nenhum espetáculo, até porque todos já estavam ali, os backing vocals, a banda Vitória Régia. Os ingressos estavam esgotados, não tinha nenhum motivo para atrasar. Na hora do show, dei o primeiro sinal e a empresária dele perguntou se poderia atrasar um pouco dizendo que ele estava um pouco nervoso. Entrei no camarim, conversei com ele, estava emocionado, até porque era uma gravação importante, era a volta dele para um canal do grupo Globo após cinco anos, desde que ele não compareceu ao programa do Faustão. Saí e decidi esperar mais cinco minutos para dar o segundo sinal. Quando dei o segundo sinal, para dar o terceiro e ele finalmente subir no palco, foi quando realmente conheci todo o lado ‘folclórico’ de Tim Maia. Ele tinha que ficar ali na entrada do palco comigo, para entrar depois do terceiro sinal, mas ele entrou no palco durante o terceiro sinal”, relata Marilda Ormy, diretora do Teatro Municipal de Niterói.
Tinha chegado a hora do grande momento de Tim Maia. Ele interrompeu o show ainda na sua primeira música. Assim que subiu no palco, Tim começou, ou melhor, tentou cantar “Não Quero Dinheiro”. Reclamou do “ré menor” e a banda parou. A música começou novamente. “Vou pedir...”, “Vou pedir...”, cantou Tim, e a plateia completava os versos da música que todo mundo conhece. Com sinais claros de que daquele jeito não dava mais para continuar, Tim Maia deixou o palco.
“A gente brinca que Tim reclamou até no seu último show. Aquele ‘Alô Vitória Régia’ dele é inesquecível. Quando ele dizia ‘legal’, era para a banda tocar baixinho, porque ele queria falar com o público; ‘atenção’ era o sinal para parar de tocar, porque a música ia acabar. No último show, eu o vi saindo do palco, levantando o braço como fazia quando abandonava o show e voltava depois. Mas, desta vez, o rosto dele denunciava algo maior, e ele não voltou. Logo depois da morte dele, a gente se reestruturou para não deixar a banda morrer. Não é fácil até hoje, mas é mais do que necessário. O que o Tim criou com a Vitória Régia é algo fantástico. Tivemos a decisão de continuar com a banda, mas a maioria das interpretações é feminina, justamente porque o Tim prezava esse tipo de vocal. Ninguém nunca vai substituir o Tim”, conta Paulinho Guitarra, que hoje toca com Ed Motta, sobrinho de Tim Maia, lembrando que o Síndico precisava se renovar e começou a fazer ensaios em uma casa na Rua Vitória Régia, na Tijuca, local que deu o nome para a banda.
Pouco depois, foi levado para o Hospital Universitário Antônio Pedro em uma ambulância do Corpo de Bombeiros.
Ao chegar ao hospital, por volta das 23h, sofreu uma parada cardiorrespiratória, mas foi reanimado. Logo após a internação, Tim foi colocado em coma induzido, para não rejeitar os tubos e aparelhos, e respirava com auxílio de equipamentos.
Segundo o diretor médico do hospital na época, Marco Antônio Gomes Andrade, dois dias antes de falecer, ele apresentava sensível melhora em seu quadro clínico.
“O estado de saúde de Tim Maia se agravou no dia 14. De manhã, ele apresentou hemorragia digestiva, que foi controlada pelos médicos, que o submeteram a uma endoscopia. No fim da tarde, seu estado piorou, com o avanço da infecção e volta do quadro de instabilidade de pressão, respiração e metabolismo.
Na madrugada do dia 15, ele sofreu uma parada renal. Às 10h30 seu quadro infeccioso se agravou e pouco depois das 15h anunciamos a morte dele”, conta o Marco, que disse, que o Tim teve parada cardíaca às 13h03 e não reagiu às tentativas de reanimação.
Era o fim de uma voz que embalou noites, romances e vidas brasileiras. Tim não marcou apenas sua geração, ele deixou um legado de sonoridade que influencia milhares de artistas até os dias atuais. Muitos tentam seguir a receita dele que traduziu os ritmos do soul e o funk norte-americanos para a música brasileira.