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Lígia Teixeira busca um processo de “ressignificação” para abordar assuntos como a violência simbólica de gênero e as relações amorosas: desejo, amor e ódio
Divulgação
Notícias e imagens do cotidiano, garimpadas na internet, em jornais e revistas, dão corpo e forma para o trabalho da artista plástica Lígia Teixeira, que busca um processo de “ressignificação” para abordar assuntos como a violência simbólica de gênero e as relações amorosas (desejo, amor e ódio). A mostra “Teu lado B é meu lado A”, que estreia na próxima segunda-feira, dia 4, no Espaço Cultural Correios Niterói, no Centro, traz esse trabalho da artista, cuja mostra gira em torno das questões sexuais e da violência, das fantasias, das relações que não aparecem na rua, mas estão no dia a dia das pessoas.
"São pensamentos e ações reservados aos ambientes privados. Lígia faz no quadro as cenas em camadas, que se correspondem, que são ‘montagens’ de vários momentos que acontecem cotidianamente. Como exemplo, posso citar uma passista andando de biquíni pela rua – na época do carnaval tudo é permitido –, misturada com cenas de assaltos, violência, etc.”, afirma a curadora da mostra Isabel Sanson Portella, hoje coordenadora da Galeria do Lago, que faz parte do Museu da República.
Em 11 telas, sendo uma composta por dois quadros, todas dispostas nas duas salas do térreo do Espaço Cultural Correios Niterói, Lígia busca unir todas as questões que aborda e as inspirações do mundo real à pintura, por conta de sua preocupação estética com a arte que faz.
“A complexidade da coisa é criar a visualidade. Me considero uma pintora. Não faço só uma reprodução da imagem, tem toda uma questão plástica e formal que é muito importante para mim. Preciso unir essas coisas de forma satisfatória para mim: de maneira contemporânea, pictórica e conceitual. Como fazer uma pintura figurativa quando parece que tudo já foi feito? Existe uma questão conceitual, mas o objetivo da obra é ser uma pintura”, analisa a artista.
A camuflagem, o desejo pelo viés psicanalista, o fetiche e o sexo tratados por óticas diferentes, a violência diária urbana em relação à mulher, o narcisismo das pessoas e a cultura machista são outros dos temas encontrados nas obras de Lígia Teixeira.![]()
Lígia busca unir todas as questões que aborda e as inspirações do mundo real à pintura, por conta de sua preocupação estética com a arte que faz
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“Não tem como existir alienadamente. Acho que sermos mulheres, hoje em dia, exige sermos feministas. É assumir uma postura social. É mais do que lutar pelos direitos, é uma tomada de posição política no mundo. Nesse meu trabalho, não estou pretendendo mudar o mundo, mas ele significa como eu estou no mundo. Não conseguiria ser diferente, não quero ser panfletária, mas acho que posso, modestamente, colaborar com a mudança das pessoas, nem que seja com uma reflexão. Elas nem precisam gostar do meu trabalho”, enfatiza.
Para a curadora, essa é uma forma de “plantar” o respeito e a tolerância na sociedade através da arte, mostrando que esses assuntos estão aí, que eles são atuais, que é possível conseguirmos alcançar a tolerância e o respeito entre os povos e suas crenças.
“Sei que os Correios recebem muitas visitas de crianças e adolescentes, e acho que o ensinamento começa aí, lá atrás, trabalhando com a juventude. Devemos ter um respeito com a diferença, a convivência social tem que, em algum momento, nos fazer chegar numa dinâmica mais justa. Não podemos nunca desistir de procurar essa sociedade ideal e igualitária”, declara Isabel.
A explicação do nome da mostra é mais simples do que se imagina, ainda mais em tempos de superexposição nas redes sociais, onde as vidas são editadas pela própria pessoa que posta fotos selecionando momentos.
“Numa relação nunca é só ‘amor e paixão’, e isso vale para muitas áreas. O oposto do que a gente vê é o lado B que proponho na mostra. No Facebook, por exemplo, ninguém mostra o lado B, só o lado A da vida”, afirma.
Em um dos trabalhos expostos, chamado “Zona de Conflito”, Lígia trata o corpo como uma questão complexa porque, segundo a artista, para a mulher, ainda é muito mais difícil aceitar seu corpo e assumir sua sexualidade como algo bom.
“Precisamos praticar essa aceitação e acabar com os preconceitos. O sexo por prazer é também para a mulher”, pondera Lígia, que fotografa os grafites em muros e espaços públicos que, segundo ela, dão mais veracidade ao seu trabalho: “A arte de rua é muito rica”.
O Espaço Cultural Correios Niterói fica na Avenida Visconde do Rio Branco 481, no Centro. Telefone: 2622-3200. De 4 de setembro a 31 de outubro. De segunda a sábado, das 11h às 18h. Não abre nos feriados. Entrada franca.
Camuflagem e violência
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