Conforto na Eternidade

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O ator Rogério Fabiano revive a trajetória do educador, escritor e tradutor francês que no século XIX se dedicou à observação e ao estudo dos fenômenos espíritas

Foto: Divulgação

Hippolyte Léon Denizard Rivail. Se alguém ouvir falar neste nome, provavelmente, não vai saber de quem se trata. Porém, se for mencionado Allan Kardec, com certeza, todos saberão quem é. Foi esse o pseudônimo que Hippolyte adotou a partir do momento em que se transformou no sistematizador da Doutrina Espírita, no século XIX, na Europa. A biografia do codificador do Espiritismo será contada em cenas e atos que prometem emocionar o público niteroiense. Na próxima sexta-feira, dia 8, chega ao Teatro Eduardo Kraichete, em Icaraí, o espetáculo “Allan Kardec – Um Olhar para a Eternidade”. 

Com texto de Paulo Afonso de Lima e direção da atriz Ana Rosa, a peça é sucesso de público nos teatros brasileiros há 19 anos. Com apresentações em 11 estados e mais de 50 cidades, a obra realizou mais de 500 apresentações para mais de 160 mil espectadores em todo o Brasil. Só essa temporada está em cartaz há quase quatro anos. São 64 figurinos e uma trilha sonora exclusiva cantada por Elba Ramalho.

“O Espiritismo realiza o que Jesus disse ao consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo com que o homem saiba donde vem, para onde vai e porque está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança”. Esse é apenas um dos ensinamentos que podem ser encontrados no livro de Kardec, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, que é como uma bíblia dos seguidores da doutrina, também conhecida como Kardecismo.

A peça tem um formato narrativo interessante: os momentos e encontros que o elenco considera como os mais marcantes da vida de Allan Kardec são introduzidos à plateia por meio das intervenções dos atores em passagens de tempo e espaço muito dinâmicas. A apresentação exibe desde acontecimentos da sua juventude, devoção aos estudos desde os 15 anos no Instituto Pestalozzi da Suíça, o casamento com Amelie Gabrielle Boudet, curiosidades como o primeiro emprego em um teatro, trabalhos como professor e cientista, até o momento em que ele retornou a Paris para dar prosseguimento aos seus trabalhos pedagógicos e acadêmicos, terminando, enfim, com o exercício da difícil missão a qual ele foi chamado a cumprir: divulgar a Doutrina Espírita.

Em cena, o ator Rogério Fabiano revive a trajetória do educador, escritor e tradutor francês que no século XIX se dedicou à observação e ao estudo dos fenômenos espíritas. Kardec era um pedagogo, que se interessava muito pela ciência. Era uma pessoa cética, não acreditava em eventos sobrenaturais. Mas quando teve contato com o fenômeno das mesas girantes (tipo de sessão espírita em que os participantes se sentam ao redor de uma mesa, colocam as mãos sobre ela e esperam que ela se movimente) começou a estudá-las. Mandou diversas perguntas para todos os locais da França que estudavam tal fenômeno e recebeu as mesmas respostas. Assim ele codificou o Espiritismo

A codificação da doutrina religiosa colocou Kardec na galeria dos grandes missionários e benfeitores da humanidade. Foi o ator Rogério Fabiano, inclusive, que teve a ideia de escrever a peça. “Ele acreditou que seria interessante contar a história deste grande homem. Allan Kardec edificou um dos maiores monumentos de sabedoria da humanidade, desvendando grandes mistérios da vida, através da compreensão racional e científica das múltiplas existências”, explica Érica Collares, atriz e produtora da peça.

A maioria do elenco se divide entre dois, três ou mais personagens e faz isso com grande propriedade. No palco, Érica vive a médium Gertrudes Laforgue e Amélie Gabrielle Boudet, esposa de Allan Kardec. Eles eram companheiros em uma vida passada e se reencontram no século XIX. Foi amor à primeira vista. Eram filhos únicos, não tiveram filhos e estavam unidos na missão do Espiritismo. Foram destinados a isso. A peça já mostrou o propósito da doutrina: fazer uma reforma interior transformando cada um em uma pessoa melhor, antes mesmo de ser apresentada ao público. Ao ter contato com o texto pela primeira vez, Érica conta que encontrou uma forma de se reerguer espiritualmente.

Os momentos e encontros da vida de Allan Kardec são apresentados à plateia por meio das intervenções dos atores em passagens de tempo e espaço

Foto: Divulgação

“Meu contato com a doutrina foi através do espetáculo. Quando Rogério me convidou para ler o texto, fiquei emocionada. Eu tinha acabado de voltar da Patagônia, na Argentina, onde tinha ficado três meses procurando o corpo do meu irmão. Cheguei muito triste e foi este espetáculo que me levantou, fiquei apaixonada pela doutrina. Hoje, frequento um centro espírita, onde aproveito para me aprofundar”, explica Érica.

Já a atriz Priscila Amorim tem entre os seus papéis de destaque a mãe de Allan Kardec, Madame Rivail, a Madame Plainemaison e a amiga de Kardec, Justine Frenard. Figuras fundamentais na transição de Allan Kardec. “A primeira pessoa espírita que ele tem contato é com a culta e fina Madame Plainemaison. Ele a visita pretendendo desmascará-la, mas Allan recebe uma mensagem do além, que o faz mudar radicalmente e começar a codificação do espiritismo”, esclarece Priscila.

Outros integrantes do elenco são Gustavo Ottoni, que interpreta o professor Fortier, o padre e o tio Maurice. E Leandro d’Melo, como o grande mago Lacazze, o professor Pestalozzi, o médium Jean Paul e o Espírito da Verdade.

Para aqueles que não são adeptos da doutrina, também é possível assistir e entender o espetáculo. Na plateia, estão reunidos aqueles que buscam respostas às suas indagações, pessoas comuns que simplesmente acreditam na eternidade da alma, além dos tradicionais frequentadores de teatro. O objetivo é contar, através da dramaturgia, a vida de Allan Kardec, de forma lúdica e biográfica, desde seu nascimento até sua morte, em Paris, em 1869. “Só queremos retratar o pensamento do cientista, seu lado cético inicial e os acontecimentos que o levaram a interagir no envolvente mundo dos espíritos. Sem veneração religiosa ou intenção doutrinária”, explica Paulo Afonso. 

A direção da renomada Ana Rosa, que tem no currículo outras duas experiências teatrais com foco no espiritismo: “Violetas na Janela” e “O Cândido Chico Xavier”.  “Aceitei o desafio por se tratar da vida e obra de Allan Kardec, já conhecido por nós através de suas obras básicas. Segundo, porque o texto de Paulo Afonso de Lima é uma obra de arte, tanto em termos de pesquisa como de teatralidade. E terceiro, por orquestrar o talento e sensibilidade de atores como Rogério Fabiano, Érica Collares, Gustavo Ottoni, Leandro d’Melo e Priscila Amorim, um exercício que me revigora, como atriz que sou, e me entusiasma como diretora a cada ensaio”, ressalta Ana, que é espírita há mais de 30 anos.

O Teatro Eduardo Kraichete fica na Av. Roberto Silveira, 123, Icaraí, em Niterói. De 8 de abril a 1º de maio. Sexta às 21h, sábado e domingo às 20h. Preço: sexta R$ 50 (inteira), sábado e domingo R$ 60 (inteira). Censura: livre. Telefone: 2610-3902.