Do samba às crônicas

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Martinho da Vila se apresenta nesta quarta-feira (12), às 19h, no projeto “Clássicos do Samba”, no Teatro Municipal de Niterói

Foto: Divulgação

Com habilidade de um sábio contador de histórias, Martinho da Vila apresenta nesta quarta-feira (12), às 19h, no projeto “Clássicos do Samba”, no Teatro Municipal de Niterói, o show “Martinho da Vila, Violão e Cavaco”, acompanhado de Gabriel de Aquino, no violão, e Alan Monteiro, no cavaquinho.

Após a apresentação, o cantor e compositor lança, na Sala Carlos Couto, anexa ao teatro, o livro, “Conversas Cariocas”, uma antologia de crônicas.

No show, Martinho vai mostrar um repertório repleto de seus grandes sucessos, como “Pra Que Dinheiro”, “Segure Tudo”, “Casa de Bamba”, “Quem é do Mar”, “Canta Canta Minha Gente”, entre outros. Sobre suas composições, aliás, o sambista conta um pouco sobre sua técnica de cantar como se fosse outra pessoa.

“Muitas das música que fiz são bem femininas. Tem umas músicas que fico até meio sem graça de cantar às vezes, mas eu canto assim mesmo. Tem várias. Por exemplo, “Amanhã É Sábado”, do disco mais recente, que fiz pra Roberta Sá, “Danadinho Danado”, que eu fiz para Alcione, entre outras. São músicas como se fosse uma mulher falando. Fiz uma que é como se eu fosse a Willy Mandela, viúva de Nelson Mandela, falando. Se chama “Meu Homem”.

Martinho José Ferreira, mais conhecido por Martinho da Vila, nasceu em Duas Barras, cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro, em 1938. Filho de lavradores, mudou-se para o Rio de Janeiro com apenas quatro anos. A carreira artística surgiu para o grande público no III Festival da Record, em 1967, quando concorreu com a música “Menina Moça”.

O sucesso veio no ano seguinte, na quarta edição do mesmo festival, lançando a canção “Casa de Bamba”, um dos clássicos de sua carreira. Desde então, foram mais de 50 álbuns gravados e dezenas de prêmios e participações em festivais.

Embora internacionalmente conhecido como sambista, com várias composições gravadas no exterior, Martinho da Vila é um legítimo representante da MPB e compositor eclético, tendo trabalhado com aspectos da cultura brasileira e criado músicas dos mais variados ritmos brasileiros como ciranda, frevo, samba de roda, capoeira, bossa nova, calango, samba-enredo, toada e sambas africanos.

Entusiasta das letras, Martinho divide seu tempo entre a música e sua carreira de escritor. É membro da Academia Carioca de Letras e da Divine Académie Française des Arts, Lettres e Culture. Entre suas obras, destacam-se “Os Lusófonos”, “Ópera Negra”, “Joana e Joanes – um romance fluminense”, “Barras, villas & amores”, “Fantasias, crenças e crendices” e “Kizombas, andanças e festanças”. Alguns destes títulos foram traduzidos para o francês.

Paralelamente ao carnaval, ao samba no palco, Martinho da Vila ainda arranja tempo para causas mais nobres. O cantor tem que enfrentar as dificuldades da vida de universitário, mas, para ele, que já está no sexto período, o esforço é para algo maior.

Livro Conversas Cariocas de Martinho da Vila

Foto: Divulgação

“Sou embaixador da Boa Vontade da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e tenho funções diplomáticas. De diplomacia já entendo bastante, todo artista de uma maneira ou de outra prática isso. Eu precisava era entender bastante da história das relações internacionais, porque eu faço muita palestra sobre relações diplomáticas, sobre o Brasil e a África, então tenho que entender de história para falar sobre o hoje, esse foi o principal motivo para eu entrar para a faculdade”, revela o cantor, que acredita que o que deve motivar alguém a se inserir no universo acadêmico é o conhecimento e não o diploma.

Uma das marcas de Martinho, claro, é a sua escola de coração: Unidos da Vila Isabel. No entanto, ele se afastou um pouco da escola e não entra mais como concorrente para levar um samba para a avenida.

“Acho que o samba-enredo tem três funções claras: Informar, alegrar e emocionar. Nos últimos anos, porém, os carnavalescos e os compositores pensam apenas em levantar a arquibancada na Avenida. Mas não é esse o papel principal. A meta é sempre emocionar. Neste ano, algumas agremiações já mudaram um pouco o cenário e introduziram, mais fortemente, o tema político nos desfiles. É ótimo, porque a gente precisa, sim, dar nossas opiniões sobre a história, sabe? Não à toa, o samba é escola”, pondera.

Fixando seu olhar a partir da Cidade Maravilhosa, Martinho observa as relações humanas e as mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais ocorridas no Brasil. “Conversas Cariocas”, décimo-quinto livro do artista, traz textos leves, escritos a partir de vivências dele nas ruas do Rio, nas quadras das escolas de samba e em suas viagens pelo mundo; sobre sua paixão pelo Vasco da Gama e seu refúgio em Duas Barras. Na obra, o autor apresenta reflexões sobre o amor, a fé, a paternidade e a música.

“Escrever, assim como compor, é um exercício árduo, que requer muita disciplina. Mas a crônica é um estilo que me ajuda. Escrever crônica, para mim, é até mais fácil que compor um samba”, revela Martinho.

O Teatro Municipal de Niterói fica na rua Quinze de novembro, 35, no centro. Quarta-feira, às 19h. Preço: R$80 (inteira). Classificação: Livre. Telefone: 2620-1624.