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Na mostra,“Poética Visual”, estão expostas 35 obras, 18 delas inéditas e 12 à venda
Douglas Macedo
A definição está na ponta da língua do artista, ao se referir à exposição “Poética Visual”, que acaba de inaugurar na Sala de Cultura Leila Diniz, no Centro de Niterói: “É um convite para cruzarmos uma passarela entre a memória individual e o afeto coletivo”, exclamou o friburguense Bê Sancho, autodidata desde 1992 e morador de Niterói há 20 anos. Na mostra, com curadoria de Angelina Accetta Rojas, estão expostas 35 obras, 18 delas inéditas e 12 à venda. Além de artista plástico, Bê também é professor de História, especializado em Educação Estética (Unirio) e mestre na área de patrimônio (UFF). Na mostra, o artista revive suas memórias de infância, sua fé no sagrado e abre a oportunidade para que as pessoas se redescubram e construam novos sentidos para suas vidas, sempre preservando a conexão com a natureza.
Fale sobre a construção da narrativa para contar a história de “Poéticas Visuais” para quem visita a Sala de Cultura Leila Diniz.
Abrimos com um painel de memórias, onde pode-se conhecer diversas fases da minha obra. A liberdade, essência da memória, constitui esse primeiro módulo. Logo a seguir, uma vitrine com documentos da minha carreira traz referências da minha história. Entre minhas memórias e minha história, convido o visitante para cruzar essa passarela da “Poética Visual”. No primeiro momento, compartilho referências religiosas: católicas, sincréticas e afro. Na sequência, sugiro pensarmos nas poéticas construídas no aconchego e acolhimento das histórias contadas pela mãe. Com o altar de Yemanjá (mãe também) no centro do espaço, partimos para a segunda parte da exposição. O espaço amplo e iluminado coloca o visitante como protagonista da visita.
É possível notar na exposição uma homenagem à fé, com imagem de Iemanjá, São Jorge, Nossa Senhora, além de anjos. Fale sobre isso por favor e sobre sua relação com a religiosidade.
Fui educado na igreja católica. Depois, com meu envolvimento no samba e com o carnaval, fui tocado pela potência da religião afro neste universo cultural tão rico, estético, popular e coletivo. Hoje, reconheço que, para além da religião, existe o sagrado, que está dentro da gente e na nossa relação com o mundo. Assim, procuro trazer, através da minha arte, uma passarela para se experimentar algo de sagrado que as pessoas possuem dentro de si. Mas, aí, vai de cada um. Lanço a semente e vejamos onde ela encontra terreno fértil.![]()
Em “Poética Visual”, é possível notar uma homenagem à natureza, às memórias e à fé, com imagem de Iemanjá, São Jorge, Nossa Senhora, além de anjos
Divulgação
Percebe-se sua preocupação com a conexão entre as pessoas e a natureza. O quanto você considera importante para a vida na Terra a preservação do meio ambiente?
As pessoas são cultura e natureza. Nisso, somos únicos, somos híbridos. Nisso, nossas fronteiras estão diluídas. Ao negligenciarmos essa dimensão de pertencimento, criamos um desequilíbrio que reflete no mundo em que vivemos. Procuro, com minha arte, trazer um pouco de luz sobre essa dimensão coletiva de pertencimento. Todos os seres vivos são possuidores de direitos e nós temos deveres e responsabilidades para com esses mundos. Acredito que nos quadros que apresento, em forma de poética visual, há lugar para as pessoas se encontrarem. Assim, entre o individual e o coletivo, entre o singular e o plural, fica aberto o convite para que as pessoas construam novos sentidos para suas vidas, mas que tenham uma pegada coletiva, como nas obras que apresento.
Em alguns dos quadros você coloca desenhos que remetem o visitante à infância. Que período dessa época que te deixa mais saudoso?
Lembro-me da minha primeira infância, quando ficava deitado no colo da minha mãe enquanto ela contava ou lia histórias fantásticas para mim. Esses quadros procuram resgatar a dimensão lúdica que deixamos adormecer com a vida corrida de adulto. Entendo que essa dimensão lúdica, ao ser acionada, permite-nos ampliar nosso ser.![]()
Na exposição, o artista revive suas memórias de infância, sua fé no sagrado e abre a oportunidade para que as pessoas se redescubram e construam novos sentidos para suas vidas, sempre preservando a conexão com a natureza.
Douglas Macedo
Qual a importância da arte?
Desde a pré-história até hoje, em diversas culturas, passando pelas civilizações mais desenvolvidas tecnologicamente até aquelas que escolheram a simplicidade da vida natural, a arte constitui elemento agregador, muitas vezes usada para conectar o humano com o divino, outras para dar sentidos mais amplos à nossa existência. A arte provoca sentimentos, emoção, mobiliza algo interno e extravasa, põe para fora. Ao compartilhar meu mundo interno, abro a possibilidade para que o visitante o experimente e, assim, mobilize algo imaterial e que também constitui cada pessoa, aproximando o que temos de sagrado e de profano.
De onde vêm suas inspirações para as telas? O trabalho utilizando formas geométricas sempre existiu?
Me inspiro no mundo que, de alguma forma, me emociona, me afeta. Para afetar o outro com minha arte, preciso antes me sentir tocado. A produção das obras se dá no percurso, se realiza no caminho, no processo. Parto de um tema, assunto, ou mesmo de uma memória. Pesquiso imagens, músicas e exercito a fotografia. Faço esboços. Sigo para a tela branca, nua. Ao colorir, amplio sentidos, crio novas interações e deixo que a obra também apresente seus limites. Fui encontrando nas formas geométricas uma sugestão de tridimensionalidade e de vibração.![]()
“Poética Visual”, está aberta a visitação na Sala de Cultura Leila Diniz
Douglas Macedo
A Sala de Cultura Leila Diniz fica na Rua Prof. Heitor Carrilho, 81, no Centro de Niterói. Visitação até dia 29 de setembro, de segunda a sexta, das 10h às 17h. Entrada franca. Telefone: 2717-5299.
Em respeito à fé máxima
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