Entre o passado e o presente

Psicóloga, psicanalista e filósofa, Viviane reafirma a importância da poesia nos tempos atuais

Fotos: Divulgação

Guiada por Nietzsche desde os 17 anos, Viviane Mosé escolheu muito cedo o caminho do pensamento, não apenas da história do pensamento, mas do exercício dele, sempre em busca de algo novo, mais próximo da vida e do corpo. Hoje, a capixaba é psicóloga e psicanalista, e também mestre e doutora em filosofia. Entre os 25 e os trinta e tantos anos, se dedicou de modo sistemático e metódico ao estudo de Nietzsche, “neste período me propus a algumas experiências em busca de mim mesma”, revela.

E é justamente uma destas experiências que ela descreve em um dos dois livros que acaba de lançar simultaneamente. “Frio”, escrito há quase 30 anos, e o texto atual “Calor”, ambos de poesia.

“Percebi depois de tantos anos que todos os meus livros fazem parte de um único projeto: a busca, muitas vezes ingênua, mas obstinada, por uma nova razão, onde corpo e pensamento, poesia e filosofia, frio e calor, dor e alegria já não se oponham, mas se componham como uma forma de afirmar a vida”, explica a autora.

Uma vez, você disse que a poesia é a coisa mais importante que existe. Assim, um livro como esse deve ser um projeto de muito valor para você, certo?

Sim, a poesia é o que há de mais importante na vida. A poesia é aquilo que se manifesta em um poema, mas não somente nele, ela é o princípio de toda arte, também está presente na música, nas artes plásticas, etc. E está presente também nos gestos, no andar, no modo de mover as mãos. A poesia é a manifestação mais pura da vida, é própria do modo como as coisas se organizam, se ordenam. O poema é a tentativa de trazer a poesia para o domínio da palavra escrita e falada. Acredito que seja mais fácil trazer a poesia para as artes plásticas, por exemplo, mas para as palavras é um desafio grande porque as palavras são duras, a gramática é impositiva, arbitrária, então o poema rompe com estas barreiras, rompendo a linguagem para que possa manifestar aquilo que pulsa, a vida. Atingir de algum modo esta poesia é a maior razão de viver, e é também, creio, a maior fonte de alegria.

Autora trabalha a ideia de que opostos podem se compor e não se opor

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Qual a diferença nas poesias de ‘Calor’ e ‘Frio’?

“Frio” foi escrito há quase 30 anos, eu era muito jovem e lidava com as grandes questões que a vida traz: a finitude, a morte, a dor, as perdas. É um livro sofrido e denso, mas necessário para atingir os sentimentos que vêm com o livro “Calor”, este já fruto de uma mulher madura. São dois livros que se complementam por isso foram lançados juntos, e a maternidade é aquilo que os une, o aprendizado do corpo que brota, tanto quanto a terra oferece seus frutos. 
 
Que impacto livros de poesias e filosofia causam nessa sociedade afogada em redes sociais?

Filosofia e poesia são mais do que nunca consumidas nestes tempos sombrios. A demanda por estes saberes só cresce, o problema é que nem sempre a honestidade intelectual reina, há muito lixo sendo compartilhado e consumido, mas isso em todas as áreas. Precisamos aprender a filtrar.

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