O olhar descoberto de um artista

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A foto do menino com a touca ‘hero’ foi tirada por Renato Moreth de dentro de um carro que cruzava a van onde o jovem estava

Foto: Renato Moreth/Divulgação

Dedicação, viagens e muitos cliques espalhados pelo mundo eternizando imagens e histórias fazem com que Renato Moreth, fotógrafo niteroiense, comemore seus 40 anos de carreira com muito orgulho na exposição “Descoberto”, que entra em cartaz nesta sexta-feira (26), no Solar do Jambeiro, das 10h às 18h. A mostra é voltada para as vezes em que Renato foi pego no ato enquanto tirava uma fotografia e os fotografados percebiam sua presença, demonstrando suas reações, que são das mais variadas. A mostra fica aberta até o dia 3 de abril, de terça a domingo, com entrada franca.

Renato começou muito cedo na fotografia, sempre muito apaixonado, fotografando desde criança. Aos 17 anos abriu sua empresa, a Camera 1, com ajuda de seu avô, que fica na Rua Mem de Sá, em Icaraí. Ele também cursou na Sociedade Fluminense de Fotografia (SFF) e trabalhou como freelancer por muito tempo. Sua dedicação e paixão fizeram com que seu nome crescesse cada vez mais, conquistando exposições em terrenos internacionais com a mostra “Panorâmicas” (exposta inicialmente em Nova Iorque, em 2009), que apresentava fotos em preto e branco, em formato panorâmico, de diversas locações do mundo (tiradas com uma Hasselblad X-Pan).

 A sua nova exposição, “Descoberto”, revela momentos em que ele foi avistado pelos personagens de suas fotografias, em que a sua vontade inicial não era ser percebido.

“‘Descoberto’ veio na contramão do que sempre tentei fotografar, que é espontaneidade, invisibilidade, captar o momento de forma natural. Como o nome da exposição já diz, ao tentar fotografar de uma forma sem ser notado, fui descoberto pelo fotografado, daí as reações de sorrir, se irritar, desconfiar e fugir da foto”, conta Renato.

Cada fotografia conta uma história e marca um momento. O fotógrafo precisa de um sentimento a mais para descobrir o momento certo de clicar, seja algo consciente ou intuitivo. O olhar se torna diferenciado com o tempo, a câmera sempre fica à mão e os movimentos acabam se tornando automáticos quando os olhos enxergam o momento certo. Ao falar das fotos que foram eternizadas, Renato pode descrever o momento, mas a sensação acaba se tornando indescritível. Quando seus personagens percebem que estão se tornando alvos de sua visão, a conversa entre o fotógrafo e o fotografado acontece em segundos, uma reação que mostra o íntimo dos dois.


Moreth comemora 40 anos de carreira com “Descoberto”, que fala do instante em que o fotografado descobre o clique do fotógrafo

Foto: Divulgação

“Na Índia, quando tirei a foto do garoto de touca, ele estava numa van e eu em um carro. Quando olhei pela janela ele me encarou. O bacana é que na touca estava escrito ‘hero’ (herói). O olhar dele me atravessou, foi curiosidade? Não sei, apenas cliquei” fala o fotógrafo.

Em outras fotos, Moreth consegue manter analogias e conscientes, como na foto tirada em Zagreb, na Croácia, em que ele avistou um rapaz dentro de um ônibus com uma feição emburrada, como se estivesse preso no coletivo. O fotógrafo acabou vendo uma brincadeira formada pelo anúncio do lado externo do veículo, que tinha a palavra “mau” escrita. 

“A fotografia das meninas brincando foi feita no Butão. Eu estava em uma área rural e tinha ido visitar um templo no meio do nada. Vi as duas meninas brincando e rindo, uma cena linda. Cliquei e me mantive lá sem elas perceberem, até que fui visto e descoberto. Elas reagiram rindo pra mim, como se fossem modelos. Sentiram-se privilegiadas” exemplifica Renato.

Toda fotografia possui uma história, mesmo que ela não consiga ser contada. Da mesma forma que nem todo sentimento pode ser explicado, não há como explicar certas reações. Seja da escolha do fotógrafo ao clicar ou do alvo do fotógrafo ao perceber que foi clicado, os personagens sorriem, se escondem, se irritam, se soltam, se divertem, querem aparecer mais e aparecer menos. Mas suas motivações, que duram segundos, são guardadas dentro de cada um.

Solar do Jambeiro fica na Rua Presidente Domiciano, 195, Ingá, Niterói. Das 10h às 18h, de terça a domingo. Entrada franca.