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Com um cenário minimalista, a atriz Florencia Santángelo utiliza recursos lúdicos e cênicos para contar a história
Foto: Vinnicius Calian / Divulgação
Era uma vez um rei e uma rainha que para comemorar o nascimento de sua filha fizeram uma grande festa convidando todo o reino, menos uma fada. Revoltada por não poder ir à celebração, ela amaldiçoa o bebê para que, quando tocasse em uma roca, aos 16 anos, cairia em sono eterno. Contada sempre através de um narrador, o clássico “Bela Adormecida” trazia mensagens que refletiam os medos, preocupações ou lendas da época. É através dos anseios de seus personagens que a peça “Acorda amor” adapta o conto de fadas em uma versão que mergulha no cerne das questões humanas. O espetáculo faz uma única apresentação no “Festival de Monólogos Solos em Cena” na próxima segunda-feira (24), às 20h, no Teatro da UFF.
“A Bela Adormecida” não tem uma autoria comprovada, apesar de compor o livro de histórias dos irmãos Grimm. Foi a partir de 1959, com a adaptação dos estúdios Walt Disney, que o conto de fadas alcançou um sucesso estrondoso. Nesta versão, o texto foi modificado para um público infantil, com um final bem diferente do conto original. Recentemente o filme “Malévola” (2014) remodelou o clássico, mostrando um outro lado da narrativa, a partir do ponto de vista da fada que não foi convidada para a festa. De acordo com o diretor Marcos Camelo, a escolha do texto se deu pela identificação dele com as etapas da vida. “Nos apropriamos do que esse texto oferece para montar um espetáculo em que a plateia atravessasse a trajetória que a gente passa pela vida, a trajetória dos afetos. Na vida a gente tem um sonho imenso que deseja ardentemente conquistar, temos uma grande decepção, uma grande euforia de uma vitória, de um amor, de uma chegada, e a gente tem a dor de perder alguém para sempre. É um espetáculo que consegue, ao mesmo tempo, ser muito divertido e muito emocionante”, conta.
Ao invés de seguir o relato convencional, a adaptação preenche as lacunas emocionais deixadas pelos personagens durante o desenvolvimento da trama. Desde o desejo da rainha em ter um filho e sua infelicidade por, inicialmente, não conseguir gerar um herdeiro, até a comoção do povo quando a menina é amaldiçoada, tudo é exposto como um livro aberto. “Hoje, pra mim, essa é a história de uma mãe que quer ter um filho, e quando consegue, acaba perdendo. É impossível não associar com a história de outras mães que perdem os filhos de forma trágica. Para a gente isso é o mais importante: contar histórias de gente, de pessoas. É aí que todos nos encontramos. O maravilhoso do ‘Acorda Amor’ é a proximidade que tem com o humano, não é o fantástico. O fantástico é apenas uma ficção para chegar perto do humano, é uma ficção das emoções humanas e dos recursos”, afirma a atriz Florencia Santángelo.![]()
Espetáculo faz uma única apresentação no “Festival de Monólogos Solos em Cena” na próxima segunda-feira (24)
Foto: Vinnicius Calian / Divulgação
No palco, Florencia tem a difícil tarefa de representar todos os personagens e guiar o público através do conto. Em um cenário minimalista, ela conta com a luz, feita por Paulo Denizot, e elementos que brincam com o lúdico para criar seu próprio conto de fadas. Apesar de interpretar todos os papéis dentro da narrativa, a artista considera que a maior dificuldade é adaptar o texto e sua interpretação para cada plateia. “O maior desafio é ter um fluxo continuado de comunicação com a plateia. Desde a hora em que eu entro até quando vou embora, nunca saio de cena, o fluxo nunca se interrompe. A plateia nunca é a mesma. Como eu estou sozinha, tenho o privilégio de saber com que público estou lidando, quais ajustes devo fazer para que ele nunca se vá de mim. Quero que a plateia vá embora depois de uma hora e me leve junto com ela. É importante eu entender o que eu preciso fazer para essa história chegar”, revela.
Toda história tem um final, seja ele assustador, como nos contos de fadas dos irmãos Grimm, ou feliz, como no filme da Disney. “Acorda amor” não tem um encerramento demarcado, porque o tema acaba transbordando a história de “Bela Adormecida” e ganhando novos significados. Para Marcos, a peça funciona como uma ficção que dialoga com a realidade de cada um. “O público pode esperar um espetáculo bem intenso, que transita por vários lugares, e que é feito para aquele que gosta de teatro e para quem não gosta também. A ficção faz parte do ser humano, criar símbolos, códigos, acreditar em algo que transcenda justifica a vida, porque viver é muito trabalhoso, é muito desafiador. A arte existe porque é necessária, então a gente procura humanizar o teatro e fazer com que ele seja para o humano”, conclui.
O Teatro da UFF fica na Rua Miguel de Frias, 9, Icaraí, em Niterói. Na próxima segunda-feira (24), às 20h. Preço: R$ 40 (inteira). Censura livre. Telefone: 3674-7515.
Por trás da magia
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