Prazer, Carol bandida

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Nascida no Morro do Preventório, a funkeira MC Carol se abre em entrevista e fala sobre a carreira, o preconceito, as escolhas que fez e o mercado musical

Foto: Divulgação

Criado nos morros da capital carioca, o funk surgiu como um movimento que buscava a representatividade na música. Nas letras, os MCs contavam sobre a sua realidade, amores, esperanças e frustrações com a vida na periferia. O ritmo acabou ganhando o mercado, com cantores como Buchecha, Naldo, Anitta e Ludmila; e os MCs Serginho, Sapão, Koringa, entre muitos outros. Entre as ramificações estão o melody (pop) e o proibidão (com letras contendo palavras de baixo calão). 

Nascida no Morro do Preventório, a funkeira MC Carol cresceu nesse cenário de expressão musical, cantando e compondo sobre casos engraçados e também sobre a violência nas comunidades. Cinco anos após seu single de maior sucesso, “Minha vó tá maluca”, Carol lança “Bandida”, o primeiro disco de sua carreira, uma obra que acompanha o crescimento da artista e a consagra como uma das principais apostas do funk carioca.

Assim como a maioria dos cantores do gênero, Carol despontou nos bailes funk. Em “Vou largar de barriga”, música de estreia em parceria com MC Parafuso, a niteroiense cantava sobre as mulheres abandonadas pelos homens com que se relacionavam após engravidarem. Misturando polêmica e personalidade, a trajetória da cantora foi lentamente construída com outros hits como “Minha vó tá maluca”, “Meu namorado é mó otário” e “Bateu uma onda forte”, todas as composições são da própria Carol e com um viés cômico. Com tantos sucessos, a MC conta que foi difícil escolher as nove faixas que iriam integrar o primeiro disco.

“A princípio eu queria botar todas as músicas, antigas e novas, porque eu nunca tive um álbum, nunca tive um CD, nem um clipe. Escolhi algumas, que incluem também parceria com amigos meus para fazer parte do disco”, conta.

A escolha do nome veio de um apelido de infância, devido à fama de “brigona” que Carol conquistou. O álbum começa com um remix de “Não foi Cabral”, uma letra que questiona a história ensinada nas escolas sobre o período colonial em versos como: “Treze caravelas/trouxe morte/Um milhão de índio/morreu de tuberculose”. As já conhecidas “Prazer, amante do seu marido”, “Jorginho me empresta a 12” e “A vingança” ganham novas versões, enquanto “O amor acabou”, “Propaganda enganosa”, “100% feminista”, “762 fez ele esquecer a família” e “Delação premiada” são as novidades para os fãs. Longe do previsível, Carol não se preocupou em fazer um álbum voltado para o mainstream: de nove canções, sete possuem letras explícitas. 

“No meu disco eu acabo falando de dois tipos de violência: a policial e a doméstica. ‘Delação premiada’ mostra uma história que já aconteceu com a maioria dos meus amigos, principalmente um que acabou sendo baleado porque estava andando de muleta. A gente sempre vê muita morte na periferia, ainda mais se é jovem e negro. Já ‘100% Feminista’ fala sobre alguns casos da minha família”, revela Carol sobre as composições mais políticas presentes no álbum.

“100% Feminista” é uma parceria com a rapper Karol Conká e fala sobre algumas opressões sofridas pelas mulheres de todo o Brasil. As duas já se apresentaram no palco do Lollapalooza 2016 junto com os produtores do Tropkillaz.

 “O Léo Justi mostrou minha música para ela, ela se interessou e aceitou gravar. Parece que a gente se conheceu há anos. Ela gostou muito da letra, ficou muito empolgada, falou até de clipe. Coincidentemente, dois dias depois, ela me chamou para cantar com ela no festival. Ali, tive certeza de que deveria fazer essa parceria com a Karol”, afirma.
Assim como a própria história do funk, Carol conseguiu aproveitar do seu sucesso para cantar sobre a representatividade e a vida na periferia. Se em 1951 Zé Keti se personificava em um gênero musical em “Eu sou o samba”, “Bandida” é o principal símbolo de uma nova geração do funk, que brinca com o inusitado, mas que também sabe discutir questões mais sérias. 

“Eu acho que sou a mesma Carol que começou. Sou politizada desde a minha primeira música. Não quero fazer pelo resto da minha vida só funk engraçado ou só música para dançar, quero falar sobre coisas sérias”, conclui.

Desbocada e empoderada – Com mais de cinco anos de carreira Carol deixou sua marca, seja pela personalidade forte e irreverente, como pelo tom politizado das músicas. Durante sua escalada para a fama, chegou a participar de um reality show para uma emissora de TV fechada, onde era criticada por algumas participantes sobre o seu jeito desinibido e também suas composições explícitas. A funkeira conta que por cantar um certo tipo de funk e ter uma personalidade forte, acaba sofrendo uma pressão indireta na indústria musical.

“Quando a gente vê que só o funk pop tem um destaque, é valorizado, que nas premiações e grandes eventos só chamam esses artistas, você acaba se sentindo pressionada. É como se você só pudesse estar ali se mudasse de ritmo, se vestisse da forma como eles querem, mas ninguém vai chegar e falar isso, eles vão te excluindo”.

Apesar das críticas, a artista considera que a sua personalidade é o maior diferencial. “Eu acabo sendo diferente de todos esses padrões que estão no mercado. A visão que as pessoas têm da mulher funkeira é a versão gostosona, bonitona, de cabelão, não sou assim, eu falo o que quero e canto o que quero”, reforça.