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Nascido em Niterói em 1971, Quintanilha mora atualmente em Barcelona
Foto: Divulgação
Quando uma criança pega um lápis e papel, a cena acaba sendo uma situação extremamente natural. A imaginação domina e os sentimentos e desejos acabam tomando forma e cor. Quando essa vontade acaba se tornando uma vocação, muitos diriam que é a hora de parar e seguir por outro caminho, mas não Marcello Quintanilha, o quadrinista niteroiense que recebeu o prêmio Fauve Polar pelo Festival de Angoulême, um dos principais festivais de quadrinhos do mundo, na França.
Inicialmente conhecido como Marcello Gaú, o quadrinista niteroiense radicado em Barcelona, na Espanha, começou a desenhar profissionalmente bem cedo, antes mesmo de terminar a escola. Ele desenhava histórias de artes marciais para a revista “Mestre Kim”. Ao se formar no ensino médio, Marcello trabalhou numa escola de inglês, desenvolvendo projetos pessoais, até ser convidado por Rogério de Campos, diretor da editora Conrad na época, para colaborar com algumas revistas. “E difícil especificar uma época exata em que comecei a desenhar, pois, desde que sou capaz de lembrar, eu já desenho. Minha inspiração vem da vida em geral, de pessoas que conheci e das experiências que vivi”, conta Marcello.
Além de desenhar, algumas de suas histórias são roteiros próprios também, como a primeira graphic novel do quadrinista, “Fealdade de Fabiano Gorila”, de 1999. A história foi baseada na vida de seu pai, jogador de futebol da década de 50 pelo time Canto do Rio.
Não demorou muito tempo para Marcello ser fisgado pelos olhos dos europeus e lá acabou publicando “A Promessa”, primeiro volume da série “Sete Balas para Oxford”, pela editora belga Le Lombard, com roteiro do argentino Jorge Zenter e do espanhol Montecarlo. Depois, as publicações do quadrinista, feitas integralmente por ele, foram “Salvador” (2005), “Sábados dos meus amores” (2009), “Almas Públicas” (2011), “Tungstênio” (2014) e “Talco de Vidro” (2015), esta última uma obra passada em Niterói, com descrições sobre bairros como Icaraí e Barreto ou reproduções de cenas como a luz entrando pelas janelas do Museu de Arte Contemporânea e a vista da cidade com a Ponte Presidente Costa e Silva ao fundo. “Tungstênio foi uma trama construída a partir de um acontecimento relativamente banal: a pesca ilegal com a utilização de explosivos testemunhada por dois circunstantes, que denunciam o caso à polícia. A partir daí, conheceremos as personalidades e história de vida de cada um dos envolvidos na trama, em ritmo cada vez mais acelerado, até o desfecho”, comenta o quadrinista sobre a obra que o fez ganhar o prêmio na categoria Polar.
Não há nenhum processo específico para participar da seleção do Festival de Angoulême. Entre cerca de cinco mil lançamentos anuais no mercado franco-belga, alguns títulos, escolhidos por um jurado, são indicados às categorias do prêmio. A categoria “Fauve Polar” é mais voltada para o thriller em que se encaixa “Tungstênio”. “A sensação ao descobrir que ganhei foi ótima. Receber um prêmio em Angoulême poderia ser considerado algo análogo ao Festival de Cannes”, explica Marcello.
Hoje em dia Quintanilha trabalha exclusivamente com quadrinhos. A persistência e o sonho de uma criança que não desistiu dos traços inocentes acabou se tornando a verdadeira essência de sua vida.![]()
Em “Tungstênio”, a pesca ilegal com a utilização de explosivos é o mote da história
Imagem: Marcello Quintanilha/Divulgação
Festival que consagra
O Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême é o segundo maior festival de quadrinhos do mundo. Ele acontece todo ano, desde 1974, em Angoulême, na França, no mês de janeiro. Fundado pelos ex-ministros da cultura Francis Groux e Jean Mardikian, com a ajuda do estudante de quadrinhos Claude Moliterni, o evento recebe mais de 200 mil visitantes, sendo de 6 a 7 mil profissionais e 800 jornalistas. Os principais prêmios (Grand Prix) são divididos entre quatro temas, Sélection Officielle (Seleção Oficial), Sélection Polar (Seleção Thriller), Sélection Patrimoine (Seleção Patrimônio) et Sélection Jeunesse (Seleção Jovem).
Traços que mereceram um prêmio
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