Trilogia teatral tem objetivo de apresentar gêneros da MPB para crianças
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Propondo trazer para as crianças os três importantes gêneros da música popular brasileira, a trilogia infantil “Sambinha”, “Bossa Novinha” e “Forró Miudinho” chega ao Festival Nacional de Cultura Popular – Interculturalidades, no Teatro da UFF, esta sexta (2), sábado (3) e domingo (4), às 16h, com composições de grandes nomes da MPB, divididos em três musicais que têm como tema o samba, a bossa nova e o forró.
“Sambinha” abre a trilogia e narra o encontro casual de Maria Luiza (Marilu), que mora na Zona Sul, com Júnior (Sambinha), do subúrbio carioca. Os dois se encantam um pelo outro e trocam experiências a partir da realidade de cada um, tendo o samba como pano de fundo. Dando continuidade à história, a peça “Bossa Novinha” narra a festa do pijama da Maria Luiza, que completa 10 anos, e mostra ao público o melhor da bossa nova. A última da sequência é “Forró Miudinho”, que acompanha a viagem de Júnior a Juazeirinho, na Paraíba, onde vive aventuras e aprende sobre o forró.
“As músicas que costuram esses espetáculos não foram, na sua maioria, compostas especificamente para o público infantil, mas conquistam as crianças, já que estão contextualizadas em enredos que chamam a atenção dos pequenos e fazem os adultos cantarem junto com a gente, o que torna a trilogia uma programação bacana para toda a família”, afirma a autora e produtora da peça, Ana Velloso.
Investindo no teatro musical brasileiro para adultos desde 1995, a autora se interessou pelas peças infantis quando começou a levar sua filha, Maria Clara, na época com três anos, para o teatro e percebeu que muito ainda podia ser feito. Surgiu, então, a ideia de fazer os musicais.
“Comecei a trabalhar na trilogia com o objetivo de levar o melhor da música popular brasileira para o público infantil através do teatro. Comecei pelo samba, gênero que traduz o melhor da nossa cultura e com o qual eu tenho enorme afinidade”, conta Ana.
A criação dos textos de “Sambinha”, “Bossa Novinha” e “Forró Miudinho” partiu das canções. Ela revela que as músicas foram a inspiração para começar a desenhar as histórias que seriam contadas nas peças. Para Ana, a dificuldade foi conseguir chegar ao extrato de 16 músicas por espetáculo.
“Em ‘Sambinha’, por exemplo, o ‘Menino Brasileiro’, personagem do samba homônimo de Dona Ivone Lara, e a menina Maria Luiza, de ‘Samba de Maria Luiza’, de Tom Jobim, inspiraram os personagens Júnior (apelidado de Sambinha) e Maria Luiza (a Marilu), do primeiro musical. Em Bossa Novinha, as imagens propostas por Tom, Vinícius, Carlos Lyra e Menescal inspiraram as cenas. Em Forró Miudinho não foi diferente: o universo e os personagens traduzidos em música por Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca, Jackson do Pandeiro e outros gênios ganham vida em um espetáculo que mostra um pouquinho da vasta cultura nordestina”, resume.
Envolvida com a criação, Ana Velloso também atua nas três peças. Em “Sambinha” e “Bossa Novinha” ela faz Marilu, uma menina alegre que mora na Zona Sul do Rio. Em “Forró Miudinho” ela faz dois papéis, o de Jacira, mãe do protagonista Sambinha, e Severina, a tia. Ela divide o palco com um elenco que também conta com Vera Novello, Patricia Costa, Édio Nunes e Milton Filho, além de Gustavo Wabner e Maurício Detoni.
“Alguns personagens de ‘Sambinha’ voltam em ‘Bossa Novinha’ e em ‘Forró Miudinho’. Apesar das três peças terem uma ligação entre si, que configura uma ‘continuidade’, quem assistir a apenas uma delas irá entender integralmente o enredo. Mas para quem assiste à trilogia completa, sem dúvida, a experiência é muito interessante”, analisa.
Vencedor do Prêmio CBTIJ 2016 de Melhor Direção por “Forró Miudinho”, Sergio Módena trabalhou a construção dos personagens junto com os atores e vê que como os papéis principais atravessam as três peças. Os atores prosseguem com o que já haviam criado, mas, como em cada momento novos personagens aparecem, eles se adaptam às novidades e a cada gênero musical proposto.
“Considero que os atores fizeram um trabalho diversificado, mas com muita unidade. Meu trabalho é dar-lhes uma direção, um caminho a seguir, mas também ficar atento a tudo que eles criam. O ator é um criador e deve exercer essa potência. Esse elenco é um exemplo disso”, revela o diretor, que destaca a importância de apresentar um repertório tão rico da música brasileira para as crianças, que provavelmente nunca tinham escutado essas músicas. Ele confessa que foi um desafio pensar num caminho para abrigar obras-primas de Cartola, Tom Jobim, Donga, Luis Gonzaga, entre outros.
“É uma responsabilidade e tanto, são canções eternizadas em nosso imaginário. Sempre me emociono quando vejo as crianças cantando alguns versos das canções após assistirem aos espetáculos. Na maioria das vezes, ouviram aquelas músicas pela primeira vez”, pontua.
O responsável pelos arranjos instrumentais e vocais e a criação de uma atmosfera musical que permeia os três espetáculos é o diretor musical Ricardo Rente, que adaptou a seleção musical feita por Ana Velloso e contribuiu também com a trilha e efeitos realizados ao vivo pelos músicos, trazendo mais clima às cenas e fazendo transições.
“Assim, trazemos à cena clássicos da MPB num contexto próprio para as crianças”, afirma Rente, que ganhou o Prêmio Zilka Sallaberry 2016 como Melhor Diretor Musical por “Sambinha”.
Diversão também para os adultos - Além da trilogia, no sábado (3) às 21h, e domingo, às 20h, será apresentada a peça “O Pena Carioca”, que retrata a obra do dramaturgo Martins Pena e seus 200 anos. A montagem reúne as três peças do autor, “A família e a festa na roça” (1838), “O caixeiro da taverna” (1845) e “O Judas no sábado de aleluia” (1846), e é dirigida por Daniel Herz. O espetáculo tem entrada gratuita e a distribuição de senhas começa uma hora antes.
O Teatro da UFF fica na Rua Miguel de Frias, 9 - Icaraí. Dias 2, 3 e 4 de setembro às 16h. Entrada franca, com distribuição de senha uma hora antes. Censura: livre. Telefone: 3674-7512.