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Em um ano, 1,184 milhão de pessoas perderam trabalho com carteira assinada, segundo especialista
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O mercado de trabalho brasileiro está sofrendo uma mudança estrutural com a queda no número de empregados com carteira assinada no setor privado, analisou ontem o coordenador de Trabalho e Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo.
Sem as garantias do emprego formal, muitos brasileiros estão recorrendo à abertura de pequenos negócios e atividades de trabalho por conta própria, mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
Em um ano, 1,184 milhão de pessoas (-3,2%) perderam trabalho com carteira assinada se levados em consideração os meses de agosto, setembro e outubro de 2015 e 2014. O número de empregadores subiu 5,7%, ou 219 mil, e o de trabalhadores por conta própria, 4,2%, ou 913 mil. A renda desses dois grupos, no entanto, teve variação de -3,5% e -5,2%.
Cimar lembra que o emprego com carteira assinada no setor privado teve uma trajetória de elevação nos últimos anos. “É um número que por um bom tempo esteve em alta e que foi considerado por alguns economistas como o boom da carteira assinada”, disse ele, ao explicar as consequências dessa inversão. “As pessoas que estão perdendo a carteira assinada e recebendo indenização muitas vezes acabam abrindo o próprio negócio.”
População desocupada – O aumento da população desocupada atingiu recorde. São aquelas pessoas que procuraram emprego e não encontraram. O acréscimo desse grupo em um ano chega a 38,3%, o que em números absolutos significa 2,5 milhões de pessoas a mais. O aumento dessa parte da população foi a explicação do IBGE para o crescimento da taxa de desocupação, que passou de 6,6% em agosto-setembro-outubro de 2014 para 9% no mesmo trimestre de 2015.
Segundo o IBGE, a taxa de desocupação subiu em todas as dez pesquisas realizadas em 2015, e o valor atingido em outubro é o maior da série histórica iniciada em 2012.
População ocupada – A população ocupada ficou estável em cerca de 91 milhões de pessoas, porque as pessoas que perderam emprego de carteira assinada se inseriram nas categorias empregador, trabalhador por conta própria e trabalhador doméstico. Essa inserção ocorre principalmente no comércio e nos serviços, setores em que empreender requer menos investimentos.
“Esses grupamentos são mais aderentes ao processo de montar o seu empreendimento. É o canal mais fácil”, afirma Cimar. “É mais difícil para um pequeno empregador montar uma indústria”, acrescenta.
Trabalho doméstico – O coordenador da pesquisa aponta ainda que outra consequência dessa mudança estrutural é o crescimento do trabalho doméstico, que perde renda nesse cenário em que enfrenta mais concorrência e uma população com menos poder aquisitivo para contratá-lo.
“Quando não consegue um trabalho à altura, ele [o desempregado] busca opções, e as opções são, principalmente quando não há reservas, o trabalho doméstico e o trabalho no comércio voltado para a informalidade”, explica. “Às pessoas com nível de renda mais alto é dada a possibilidade de ir para a fila da desocupação. As pessoas com renda mais baixa, para se manter na legalidade, têm que imediatamente conseguir um trabalho”, completa o coordenador.
Segundo a Pnad Contínua, a renda do trabalhador doméstico caiu 2,4% entre os meses estudados de 2014 e 2015. Já o número de trabalhadores subiu em 154 mil, com alta de 2,6%.
Setor de maior formalização, a indústria teve uma perda de 751 mil trabalhadores na passagem entre esses dois períodos.
Taxa de desocupação sobe para 9% no trimestre encerrado em outubro
Taxa – A taxa de desocupação registrada no Brasil subiu para 9% no trimestre encerrado em outubro, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados constam na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua.
No trimestre anterior, maio-junho-julho, a taxa de desocupação ficou em 8,6%, com um crescimento de 0,6 ponto percentual na comparação com os três meses anteiores. Em 2014, a taxa de desocupação fechou o trimestre agosto-setembro-outubro em 6,6%.
O rendimento real habitual em relação a maio-junho-julho teve variação de -0,7%. Já na comparação com agosto-setembro-outubro de 2014, houve queda de 1%.
O rendimento real habitual do trimestre encerrado em outubro foi de R$ 1.895 em valores absolutos. No trimestre imediatamente anterior, o valor era de R$ 1.907, e, no mesmo período do ano passado, de R$ 1.914.
Procura por emprego – Segundo a pesquisa, 9,1 milhões de pessoas procuraram e não conseguiram emprego no trimestre encerrado em outubro de 2015. No período encerrado em julho, o número era de 8,6 milhões. Já o número de pessoas ocupadas, de 92,3 milhões, não apresentou variações significativas, de acordo com os critérios do IBGE.
Carteira assinada – O contingente de trabalhadores com carteira assinada caiu 1% na comparação com o período encerrado em julho, com 359 mil pessoas a menos. Já em relação ao mesmo trimestre de 2014, houve uma perda de 1,2 milhão de empregos formais, ou 3,2%.
A comparação com o trimestre imediatamente anterior mostrou uma queda de 2,6% no contingente de ocupados na indústria geral. Em relação ao ano passado, a queda chega a 5,6%.
O número de pessoas empregadas no setor privado sem carteira assinada subiu 1,3% do trimestre terminado em julho para os três meses encerrados em outubro de 2015. Já o número de trabalhadores domésticos subiu 1,7%.
PME x Pnad Contínua – Este ano, a Pnad contínua vai substituir definitivamente a Pesquisa Mensal do Emprego (PME), que costumava ser o único indicador oficial sobre desemprego no país. A última PME será divulgada em março. Segundo o IBGE, a Pnad contínua é mais abrangente, com informações mais ampliadas sobre mercado de trabalho, como trabalho infantil, migração e fecundidade. A Pnad Contínua também abrange mais partes do país, com domicílios pesquisados em 3,4 mil municípios, enquanto a PME era feita em seis regiões metropolitanas.
Mudança no mercado de trabalho
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