Acidente aéreo completa um ano

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O goleiro Danilo foi um dos heróis da campanha histórica da Chapecoense na Copa Sul-Americana

Sirli Freitas / ACF

O índio Condá é esperança de dias melhores e do ressurgimento da Chape

Divulgação / ACF

Um dia de tristeza, luto e dor no esporte completa um ano nesta terça-feira (29). Jovens guerreiros condás davam adeus ao sonho de uma final continental de forma trágica. Assim pode ser classificado o 29 de novembro do ano passado, dia que está vivo na memória de familiares das vítimas e sobreviventes. Isso porque naquela noite o avião da empresa LaMia que levava a delegação da Chapecoense e jornalistas esportivos para Medellín, na Colômbia, local do primeiro jogo da final da Copa Sul-Americana do ano passado contra o Atlético Nacional, teve uma pane, caiu na região montanhosa de Medellín, vitimando 71 pessoas e deixando seis sobreviventes.

O acidente interrompeu carreiras inteiras, como a do jovem Danilo, um dos símbolos daquela equipe, o atacante Kempes, o artilheiro Bruno Rangel e o meia Matheus Biteco. 

A consternação e a solidariedade em torno do acidente ganhou o mundo com diversas manifestações de carinho, desde grandes campeonatos da Europa até o Campeonato Brasileiro, que teve a última rodada de 2016 adiada. Foram minutos de silêncio, homenagens e luto. As principais ocorreram no momento em que a bola deveria rolar para o confronto tanto na Arena Condá quanto no Atanasio Girardot, estádio do Nacional, que homenageou os heróis de Chapecó com um estádio lotado, velas e balões homenageando as 71 vítimas. Na Arena Condá, estádio da Chape, muita oração, choro e comoção pela perda de seus heróis que levaram o nome do clube ao topo do continente.

Em solidariedade, o Atlético Nacional abriu mão do título, transformando a Chape na campeã da Copa Sul-Americana.

Mesmo na dor, havia motivos para se ter esperança. Entre os sobreviventes, estava o lateral Alan Ruschel, um dos primeiros a ser encontrado com vida.

“É difícil você entender. Eu acredito que Deus usou o (Jakson) Follmann ali para salvar a minha vida. Para tudo tem um propósito, para tudo tem um porquê, um para quê. Naquele momento, acho que era Deus usando o Follmann, a gente nunca sabe o que poderia ter acontecido. Aconteceu o que aconteceu. O Follmann me chamou, eu fui sentar ao lado dele e hoje estou aí, estou vivo. São coisas inexplicáveis, é difícil eu falar. Posso falar que foi o Follmann que salvou a minha vida. Acho que foi Deus usando o Follmann ali”, tenta explicar o próprio Alan Ruschel.

Desde então, a luta de Alan Ruschel foi ganhando um novo norte mais rápido do que se imaginava. “Na verdade, eu sempre fui muito realista comigo mesmo. Eu queria voltar a jogar, mas voltar a jogar em alto nível. Se eu visse que eu conseguiria jogar, mas não ficasse em alta intensidade em termos de competição, não conseguia competir, eu ia parar de jogar. Eu estava vivo, podia escolher outra coisa para fazer. Estudar, fazer alguma coisa. Mas Deus me abençoou, eu consegui voltar a jogar. Foi uma coisa fantástica para mim, acho que para muita gente também”, completou.

Outro sobrevivente foi o goleiro Jackson Follman, que perdeu a perna direita no acidente. Hoje, ele trabalha com o elenco da Chape e mostra ser um exemplo de superação.

“Hoje estou bem, faço inúmeras coisas, dirijo, jogo futebol, brinco no clube. Medo não dá, até por tudo que aconteceu. A última coisa que eu vou ter é medo. Voltei a correr um pouquinho. Está sendo muito proveitosa essa minha recuperação”, conta Follmann, em entrevista concedida à Gazeta Press em meio a sua concorrida agenda que se autojustifica pela época”, destacou Follmann.

Os outros sobreviventes foram o zagueiro Neto, o jornalista Rafael Henzel, o técnico de voo Erwin Tumiri e a comissária de bordo Ximena Suarez. 

Em meio à comoção, as famílias ainda lutam para sobreviver e se manter sem os jogadores. Além disso, lutam na Justiça para receber o seguro a que seus entes queridos têm direito seja por parte da CBF, da Chapecoense e da LaMia.

Já o time da Chape, foi reformulado, conquistou o bi catarinense e pode conquistar uma vaga na próxima Copa Libertadores da América, transformando a dor e o luto em esperança de dias melhores com a inspiração nos guerreiros que superaram desafios e viraram estrelas.

O avião da LaMia sofreu com a falta de combustível e caiu na região de Medelín

Wilson Pardo / @Policiantioqui

Detalhes do acidente

O voo da LaMia 2933 que saiu da Bolívia com destino a Colômbia caiu na noite de 28 de novembro de 2016 às 21h58, no horário local da Colômbia (29 de novembro de 2016 às 2h58, no horário de Brasília), próximo ao local chamado Cerro El Gordo, ao se aproximar do aeroporto em Rionegro.

Ainda no Brasil, a equipe tentou, a princípio, fazer o voo saindo do aeroporto de Guarulhos direto para Medellín. O pedido foi indeferido pela ANAC de acordo com a legislação vigente, com base no Código Brasileiro de Aeronáutica e na Convenção de Chicago, pelos quais apenas uma companhia aérea brasileira ou colombiana poderia fazer o voo.

O trajeto foi feito, então, em duas etapas: um voo comercial pela companhia aérea boliviana BoA partindo de Guarulhos às 15h15, no horário de Brasília e chegando a Santa Cruz de la Sierra na Bolívia três horas depois, e o trecho final realizado em um voo fretado pela empresa LaMia. Integraria a comitiva do time o prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, que não embarcou junto com a comitiva; e dois responsáveis pela logística do clube já se achavam na Colômbia, aguardando a chegada do voo. 

Por volta das 22h, no horário local da Colômbia, o piloto relatou à torre de controle que o avião apresentava problemas elétricos e declarou situação de emergência, quando voava entre os municípios de La Ceja e La Unión. O contato entre a torre de controle e a tripulação foi perdido às 22h15, entre as cidades de La Ceja e Abejorral. Pouco depois o avião caiu ao se aproximar do Aeroporto José Maria Córdova, em Rionegro, arredores de Medellín, em um monte chamado Cerro El Gordo, de 2 600 m de altitude.  Em pouco tempo, as autoridades identificaram o local da queda.

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