Está na simplicidade e na determinação do futebol haitiano a receita para o Brasil remodelar as categorias de base que tentarão tirar o País da sombra do 7 a 1. A avaliação é do mineiro Rafael Novaes, responsável pelo comando técnico do time Pérolas Negras há cinco anos. A equipe caribenha, que se despediu na quinta-feira da Copa São Paulo de Juniores, enviará jogadores para uma filial que disputará a terceira e última divisão do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. Sob o comando de Novaes, os atletas haitianos trabalharão para fazer história no esporte nacional e calar as manifestações xenófobas que tiveram como alvo imigrantes daquele país.
O técnico preparou o time que perdeu os três jogos disputados pela fase de grupos da Copinha, contra Juventus, América-MG e São Caetano. Mesmo com a fraca campanha no torneio amador, Novaes acredita que seus jogadores têm muito a ensinar às promessas do Brasil. “Eles mostraram que o brasileiro deve correr atrás do seu sonho”, disse. “Nós vemos meninos brasileiros de 11 ou 12 anos brigando com o pai porque querem uma chuteira de marca. Às vezes os meninos de lá não têm nada. Eles jogam descalços, ficam com o pé cascudo e passam por cima até de pregos. Estamos perdendo essa infância no Brasil. Os meninos saíram das ruas por conta da violência e deixaram de jogar naqueles campos reduzidos. Lá no Haiti você ainda vai a lugares no meio da favela que têm terrenos onde só se joga bola”, contou.
Com o Pérolas Negras sediado no Brasil, Novaes espera que os jogadores sejam vistos como exemplos na luta contra as manifestações racistas e xenófobas dirigidas aos imigrantes do país caribenho. “Estamos aqui para mostrar que ninguém está vindo tomar o lugar de ninguém. Existe espaço para todos”, concluiu.