Bisa e biso amor importante

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Iracy Ribeiro, de 89 anos, ao lado de quatro dos seis bisnetos: Mariana, Yasmin, Davi e Daniel. Ao lado direito, Dona Mara, de 94

Foto: Arquivo Pessoal

Num País onde a expectativa de vida cresce cada vez mais, é bem comum que haja pessoas que ainda tenham a sorte de ter a figura de uma bisavó ou bisavô no convívio familiar. Muitos não tiveram essa oportunidade. Outros, no entanto, podem desfrutar de momentos diferentes e alegres ao lado dessas senhoras e senhores especiais que têm muito a ensinar aos bisnetos, netos e, também, aos filhos.

Além de tudo, a bisavó nos remete a uma figura carinhosa e amável e, até mesmo, com o dobro da paciência dos avós – se isso for possível – e, também, o triplo da paciência dos pais. A passos lentos, indo de um cômodo a outro com esperança de fazer o melhor – especialmente ao se referir à comida e às crianças, que são o xodó das bisas. Sempre respeitadas, elas carregam em seu coração inúmeras histórias. Algumas muito tristes, por já terem perdido entes queridos com o passar do tempo. Outras, contudo, recheadas de animação, que entretém qualquer plateia, mesmo a dos pequeninos.

Rodeada o tempo inteiro pelos descendentes, Iracy Ribeiro, de 89 anos, sempre fez parte da vida dos seus seis bisnetos. “Posso mimá-los à vontade. Bisavó tem ainda mais desculpa que avó para ‘estragar’ as crianças”, brinca a aposentada. Caroline Lopes, sua bisneta de 15 anos, acrescenta que a presença de Iracy fez com que crescesse ainda mais segura. 

“Além de fazer com que nossa família ficasse mais unida pela sua proatividade e alegria, tê-la perto durante minha infância me fez mais forte. Mais segura. Eram mais dois braços para me acolher e me ajudar. Claro, sem contar com os doces que costumo ganhar”, conta Caroline. 

De acordo com a psicóloga Fabiane Curvo, a presença dos bisavôs e bisavós é intensamente relevante para solidificação dos valores e crenças familiares, principalmente, para os bisnetos. “Essa convivência com os bisavós faz com que a nova geração saiba da história da família, de onde eles vieram... Isso é uma excelente forma de estreitar os laços afetivos familiares”, explica a especialista.

Camille Lopes, neta de Iracy, conta que cresceu ouvindo da sua avó as histórias mais curiosas – da vida de parentes distantes e, até mesmo, lendas folclóricas. As histórias fizeram parte da formação do ser humano que Camille se tornou. “Era uma mistura de sentimentos. Desde pequena, com as histórias que ela me contava, pude sentir um pouco de tudo: apreço com as histórias de amor e até medo com as de terror. Isso tudo cultivou dentro de mim um carinho muito grande. Me fez uma pessoa ligada aos sentimentos. Desde cedo, pude aprender a lidar com eles e, também, saber separá-los em cada situação”, conta Camille.

Sendo protagonista de uma história com inúmeros obstáculos e contratempos, Marina de Menezes, de 94 anos, conquistou não só sua família com a caridade que lhe é inerente. Segundo Tayane Leal, bisneta de Marina, há alguns agregados à família, que também foram cuidados por Dona Mara. “Ela sempre disse a nós que ‘onde come um, comem todos’. Aprendemos com ela que sempre devemos ajudar quem precisa. E foi no amor e nas dificuldades da vida que ela nos ensinou o verdadeiro valor da família. Se hoje sou a mulher que sou, com toda certeza, foi por ter Dona Mara em minha criação”, conta Tayane, acrescentando que, ainda hoje, com 94 anos, sua bisavó faz de tudo para manter a família unida.

A psicóloga Fabiane Curvo explica que a energia dos mais novos é essencial para o bem-estar dos vovôs e vovós em dobro. “Principalmente se os bisnetos ainda forem crianças, que carregam toda uma alegria e ingenuidade. Outra vantagem é que eles se sentem úteis novamente. Depois que se aposentam, muitos idosos ficam com uma sensação de invalidez e, cuidando de netos e bisnetos, eles sentem que estão ajudando, que são importantes”, explica a especialista. 

Contudo, é importante lembrar que os pais devem tomar cuidado para não sobrecarregarem os bisavós. “É preciso ter em mente que, mesmo ajudando, eles ainda são pessoas de idade e precisam de cuidados próprios. Eles não podem ser 100% responsáveis pela criança”, alerta a psicóloga. 

Outra questão importante a pontuar são os limites. Normalmente, os avós e bisavós têm maior tendência a agradar a criança, fazer sua vontade e dar a elas mais liberdade. “Isso pode contrariar a forma com que os pais educam e, ainda, gerar um conflito, como ‘em casa não pode comer doce, mas na casa da bisa pode’. Então, o mais apropriado é que a convivência com os bisavós seja frequente (nos finais de semana, durante as férias...), mas não necessariamente diária”, conclui Fabiane. 

É o que Camille Lopes, neta de Iracy, frisa com seu filho Daniel, de 6 anos. “Me esforço bastante para dar limites a ele, mas, todos sabem, bisavó não é mole. Acaba fazendo demais o que as crianças querem. Mas converso bastante com ele. Tento mostrar que quando está na casa da bisa, é como se fossem ‘férias’. Em casa, voltamos às regras normais de alimentação e arrumação”, explica Camille. 


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