Envelhescência

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O diretor do documentário Gabriel Martineze os suas estrelas

Foto: Divulgação

Lidar com o envelhecimento não é uma tarefa fácil, porém, sempre há um modo de encarar a situação com naturalidade e um sorriso no rosto. Iniciando sua carreira como documentarista, Gabriel Martinez escolheu o tema para seu primeiro filme, com argumento de Ruggero Fiandanese. Admirador dos que encaram a terceira idade de forma positiva, ele se encantou com o tema proposto e usou os seguintes questionamentos para elaborar o documentário: “O que é ser velho?”, “Até que ponto a velhice é ou não é uma interpretação errônea da nossa percepção?”, “Quando, de fato, estamos velhos para começar algo novo?”. 

Mergulhado neste contexto, Gabriel iniciou o trabalho de pesquisa em busca de personagens para sua história. O filme, chamado “Envelhescência”, palavra que surgiu em 1996, quando usada pelo sociólogo e psicanalista Manoel Berlinck para descrever a transição da vida adulta para a velhice, é uma alusão clara ao termo que define a fase entre a infância e a maioridade: a adolescência. 

Os personagens do filme são Edmeia Corrêa, que se tornou surfista após os 60 anos, Edson Gambuggi, que se formou em medicina aos 84, o japonês Kenji Ono, introdutor do aikido no Brasil e ainda hoje, aos 89 anos, mestre admirado e praticante da técnica, Judith Caggiano, que começou a tatuar o seu corpo após os 70 anos, o incansável Oswaldo Silveira, maratonista campeão da categoria 80 a 89 anos, e Luiz Schirmer, um grande paraquedista com mais de 70 anos.

“O intuito do documentário é mostrar as possibilidades positivas do envelhecimento sem levantar a bandeira de melhor idade. Acredito que a velhice não pode ser interpretada como ‘a melhor idade’. Este termo, se fosse viável, seria uma vida com a nossa experiência que temos aos 80 anos com o vigor físico (e cognitivo) dos nossos 20 anos. Isso não é possível. Mas a nossa vida após os 60, 70, 80 anos é aberta a inúmeras possibilidades, devemos ter o olhar e a interpretação certa dos fatos. Essa é a ideia que desejo expressar no filme”, afirma o diretor.

Martinez explica que, como foi colocado pelo cientista Alexandre Kalache no documentário, não há dúvidas de que a velhice vai apresentar desafios, mas estes não impedem que as pessoas passem no vestibular com 76 anos e se formem em medicina com 82 anos, da mesma forma que não impedem ninguém de saltar de paraquedas com 76 anos ou participar de corridas aos 84 anos. 

“Trabalhei com exemplos mais extremos no filme (surfe, paraquedas, tatuagem, corrida, aikido) justamente para exemplificar que os nossos limites muitas vezes dependem muito mais da nossa percepção do que das nossas possibilidades, como o filósofo Mário Sergio Cortella disse na sua entrevista, ‘limites são fronteiras, não são barreiras’”, enfatiza o documentarista. 

Outra reflexão abordada no filme, destaca o diretor, é a da antropóloga Mirian Goldenberg, que ressaltou a necessidade de termos projetos de vida grandes ou até pequenos. “Mirian diz que ninguém precisa realizar algo extremo para vivenciar um bom envelhecimento, mas precisamos sim, sempre correr atrás dos nossos objetivos, sejam eles grandes ou pequenos”, conta Martinez.

 O diretor diz, ainda, que o documentário mostra que é possível ter uma vida ativa através da experiência de outras pessoas. Segundo ele, enquanto não observarmos a experiência de outros indivíduos só existe a nossa perspectiva. Com exceção do japonês Kenji Ono, os outros cinco personagens foram encontrados através da internet. O documentário está disponível no Now, canal da Net, e em breve será transmitido pelo Canal Brasil. 


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