Ironia pós-moderna

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Filipe Oliveira e Eduardo Camargo estão há quatro anos fazendo sucesso com o humor ácido da Diva Depressão

Foto: Divulgação

O romancista, contista e ensaísta americano David Foster Wallace defendia que “a ironia pós-moderna se tornou nosso ambiente”. Para ele, esse tipo de recurso linguístico permeia a cultura, e tornou-se a nossa forma de linguagem. Morto em 2008, ele não experimentou o auge do Twitter ou do Facebook. Mas se tivesse experimentado, veria que estava certo. Nas redes sociais, por exemplo, crescem e fazem cada vez mais sucesso as páginas dedicadas ao humor que lança mão da ironia para atrair os internautas. 

Em julho de 2016, a página Diva Depressão completa quatro anos no ar. Hoje, com mais de 2 milhões de curtidas no Facebook, segue em frente com seus três criadores originais, sendo que dois deles são responsáveis pela produção de conteúdo: Eduardo Camargo, de 26 anos, e Filipe Oliveira, de 27. Segundo eles, a percepção da proporção que o projeto estava tomando veio depois de alguns meses.

“Criamos a página sem a pretensão de virar algo maior, era apenas uma forma de extrair as piadas internas das nossas mentes e brincar compartilhando com nossos amigos, mas os memes tomaram conta do Facebook e a cada dia a Diva ficava mais conhecida. Resumindo, a página nada mais é do que o fruto do nosso humor e das nossas piadas internas”, explica Eduardo. 

Na descrição da página, eles fazem questão de deixar claro: “Esta é uma página de humor, sem vínculo algum com a verdade. As postagens não expressam a opinião dos criadores da página e jamais devem ser atribuídas aos artistas que ilustram as montagens”. 

O mote da Diva Depressão é o humor ácido, irônico, refinado, que sai da rodinha de amigos e vai parar na web. “Estamos nas redes sociais, temos dois livros publicados e, por fim, estamos no youtube há pouco mais de um mês. A Diva se tornou nosso projeto pessoal de vida, é o que gostamos de fazer, portanto, a ideia é fazer alcançar o máximo de conquistar possíveis”, projeta. 

Aos 20 anos, Marcus Vinicius da Silva é o rosto por trás do "Olha só kiridinha". Com tons de ironia, a página no Facebook tem a atriz Audrey Hepburn como musa inspiradora. É ela quem ilustra os "memes" que discutem a vida cotidiana. O projeto veio de um trabalho de faculdade.

“Começou muito sem querer. Escolhi uma foto na internet aleatoriamente, achei bonita e usei como perfil da página. O nome veio de uma brincadeira entre amigos, a gente sempre brincava dessa forma, começando as frases com 'Olha só Kiridinha'. Só troquei o Q pelo K pra ficar mais diferente e chamar mais atenção na página”, conta Marcus Vinicius. 

Luan Lovato se tornou figurinha fácil no Twitter com seu jeito de brincar e falar dos problemas e com apenas 20 anos, Marcus Vinicius da Silva é o rosto por trás do 'Olha só kiridinha'

Foto: Divulgação

Atualmente a página conta com mais de dois milhões de seguidores no Facebook e 400 mil no Instagram. “Acho que fez sucesso por ser uma página de humor ácido, divertido, diferente dos outros. E porque uso frases que as pessoas pensam e gostariam de dizer. Aí vira uma indireta, mas com humor. As pessoas adoram usar meus 'memes' como indireta para alguém. Eu me divirto com isso”, comenta ele.

Com mais de 180 mil seguidores, Luan Lovato, de 25 anos, é figurinha fácil de ser encontrado no Twitter, onde está há aproximadamente seis anos. Ele conta que é um "cara tímido", que nunca teve o costume de sair muito de casa. Mesmo assim, sempre teve o hábito de soltar comentários que faziam os amigos rirem. Passar esse humor para a internet acabou sendo um caminho natural para ele. 

“Mais do que fazer propriamente humor e falar coisas engraçadas, eu sempre acabei usando a internet como uma válvula de escape, para falar dos meus problemas, meus medos e minhas angústias, brincar com os problemas. É um jeito que eu levo a minha vida e foi isso que acabou trazendo as pessoas, acredito que elas acabavam se identificando com os problemas, as questões do dia a dia que eu abordava e com meu jeito de brincar com isso”, analisa.

Com o mesmo sobrenome da cantora americana Demi Lovato, ele é o típico internauta da rede social dos 140 caracteres: está sempre reclamando. Tweets do tipo “deus me dê força pra continuar quebrando a cara pq todo dia cansa” atraem seguidores que, de fato, se identificam com o humor que nem sempre é entendido pelos menos atentos à ironia e o sarcasmo que permeiam os micro-textos na rede. 

“Eu nunca tive muito a intenção de ter muitos seguidores ou qualquer coisa do tipo, as coisas simplesmente foram acontecendo e eu deixei rolar, sempre continuei sendo exatamente a mesma pessoa. Claro que quando as coisas evoluem, você acaba tendo que tomar um pouco mais de cuidado com as publicações, mas a essência sempre foi a mesma, que é falar das coisas que me vêm à cabeça, e que me aliviam do estresse do dia a dia. Para mim, esse é o grande ponto da internet, mais do que ter muitos seguidores ou qualquer outra coisa do tipo”, conclui Luan.

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