Legítima representante

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Idealizadora do projeto Juntos Somos Mais, Ana Paula Dias está à frente do concurso de beleza negra que acontecerá em abril, em São Gonçalo

Foto: Divulgação
 

Aos 37 anos, Ana Paula Dias, conhecida como Paula Tanga, tem orgulho de se apresentar como uma das representantes da cultura negra. Ela é o rosto por trás do projeto sociocultural Juntos Somos Mais, que promove, em abril, a primeira edição do Concurso Beleza Negra de São Gonçalo. Como pilar de seu trabalho, está a valorização da representatividade da cultura afro-brasileira. 
 
Conte um pouco sobre você, sobre sua trajetória. Quem é Paula Tanga e como ela se tornou uma das idealizadoras do projeto Juntos Somos Mais Fortes?
Eu sou formada em Serviço Social. Juntei um grupo de amigos meus e o professor e sociólogo Waldiney Motta, e resolvemos criar o projeto, que leva cultura e arte para as pessoas carentes em São Gonçalo e Santo Antônio de Pádua. A iniciativa acontece através de oficinas de balé, sapateado, canto, violão e idiomas. Trabalhamos direto com a a comunidade desses locais. 

Como funciona o projeto na prática? fale um pouco mais sobre a iniciativa.
O trabalho existe há cinco anos e foi criado logo que entrei na faculdade. Vem crescendo muito nos últimos anos, vemos muito resultado, e muitas mães vêm agradecer a gente pelo trabalho prestado nas comunidades. Dentro do Juntos Somos Mais, também temos um projeto que trabalha com mulheres vítimas de violência doméstica. A gente trata não só o adolescente, ou só a criança, lidamos com a família também. E essas iniciativas vêm tendo uma boa repercussão.

Até que ponto o Concurso de Beleza Negra em São Gonçalo veio ligado à experiências pessoais suas? 
Eu tenho duas filhas. As duas são filhas de mãe negra e pai branco. Justamente por isso, elas não sofreram tanto preconceito, mas desde que são pequenas, são criadas para se aceitarem como são. Sempre fizemos questão de fazer um trabalho de construção da identidade delas. Hoje, são duas negras muito lindas, que têm orgulho de sua identidade. Através delas, vi a necessidade de fazer esse trabalho de valorização da cultura negra com outras meninas e mulheres também. 

De que forma vocês realizam esse trabalho de valorização estética da beleza afro-brasileira? 
Nós abraçamos um leque de itens para abrir o horizonte das pessoas para que elas se aceitem do jeito que são, e não porque alguém afirma que ela tem que ser de determinada maneira, que a estética dela tem que ser essa ou aquela. Então, trabalhamos muito em cima da autoestima de cada um, principalmente do negro. A ideia é tratar o assunto de forma suave, e que deixe as pessoas mais seguras. 

Qual a importância da atuação dentro das escolas no desenvolvimento desse tipo de projeto?
É através da escola que começamos a perpetuar esse trabalho da valorização. Na escola, sempre foi passada a ideia de uma África pobre, sem história, com uma população subalterna. Nós tentamos reconstruir isso. Queremos desconstruir essa imagem do negro ligado simplesmente à África. A gente quer que esses jovens criem uma identidade própria e se orgulhem. 

Para vencer o concurso de beleza, que tipo de diferencial será importante nas participantes? 
Nós buscamos uma pessoa que traga a representatividade negra. É um conjunto. Queremos uma beleza única, bem diferente dos padrões comuns que vemos hoje. 

De que forma os projetos – Juntos Somos Mais Fortes e Beleza Negra – dialogam entre si?
Dentro do Juntos Somos Mais, temos o Juntos Somos Mais Negros. Nós visitamos quilombos e movimentos negros. Fizemos um apanhado do que está acontecendo atualmente para resgatarmos essa cultura afro. Foi daí que veio a ideia de valorizarmos ainda mais o negro dentro do município de São Gonçalo. Foi através desse trabalho, vendo o alto índice de racismo na cidade, que vimos a necessidade de criar o concurso. 

O número de casos de racismo em 2016 ainda assusta. Tivemos o caso da jornalista Maria Júlia Coutinho, da atriz Taís Araújo e, recentemente, um participante do Big Brother Brasil também foi alvo de comentários preconceituosos. De que maneira você vê a forma como a sociedade lida com esse tipo de situação?
Falta muita conscientização. O país ainda é muito racista, o preconceito ainda está muito aparente. A gente vê até pessoas famosas sendo agredidas por esse tipo de situação. Isso, inclusive, me impulsionou a fazer o concurso. Nós somos todos iguais. Nós temos negros representantes da raça em vários segmentos. O Brasil é um país majoritariamente negro. Somos a maioria, então temos que lutar por esse igualdade.n

 
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