Na Mitologia Grega, Afrodite é a deusa da beleza, do amor e da sexualidade. Ela também dá nome a uma síndrome caracterizada por mulheres sedutoras, que impõem o jogo da conquista aos outros. É a necessidade – consciente ou inconsciente – de flertar com os homens de um modo geral, seja para adquirir algum tipo de vantagem ou simplesmente para reafirmar a autoestima. São mulheres “viciadas” em seduzir.
O diagnóstico pode ser expandido a todas aquelas pessoas que se utilizam do processo de sedução não para ficar, namorar, transar, mas, sim, seduzir por seduzir. Para o psiquiatra André Luiz Carvalho Netto, o que é o meio para a grande maioria das pessoas é o fim para as pessoas consideradas “sedutoras compulsivas”.
“A partir do momento em que elas são correspondidas, a vontade desaparece. Para elas, o processo compulsivo de sedução é fonte de prazer e alívio de dor”, explica André.
Segundo o profissional, a “sedução compulsiva” é uma forma de “droga” para essas pessoas e há fatores associados com a síndrome, como baixa autoestima, insegurança, necessidade inconsciente de estabelecer laços, de ser notada ou cuidada, mesmo que de forma superficial. O aprofundamento dos vínculos afetivos não é o que essas pessoas buscam.
Para a também psiquiatra Camila Lopes, nos últimos 20 anos, muita atenção tem sido dada ao conceito de comportamento sexual “fora de controle”, que, na literatura científica, tem aparecido com várias denominações, tais como compulsão sexual, transtorno hipersexual, comportamento sexual compulsivo, impulso sexual impulsivo e hipersexualidade. Segundo ela, a síndrome de Afrodite não se encontra listada no DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), de forma que não pode ser considerada um estado patológico.
“Não é uma síndrome que acarrete sofrimento nem dificuldade real à intimidade de seu portador. A conduta das ‘Afrodites’ pode lhes trazer problemas, em especial com amigas, primas, colegas de trabalho e outras figuras femininas com quem convivem”, acredita.
Já André Luiz Carvalho Neto afirma que quem possui a síndrome pode sofrer afastamento de pessoas que buscam aprofundar os vínculos afetivos; ser taxada como promíscua numa sociedade ainda muito machista; sentir solidão e tristeza, sobretudo quando diminuem as suas “armas de sedução”, tais como: beleza, dinheiro, jovialidade, sex appeal, posição social ou uma estrutura de trabalho. É justamente neste momento, quando essa “munição” começa a diminuir, que começa a ficar mais consciente para essas pessoas as suas fragilidades, e aumentam as chances de pedidos de ajuda.
O tratamento, de acordo com o profissional, é feito com psicoterapia individual e de grupo. Ele afirma que não há estudos populacionais, no Brasil e no mundo, sobre a síndrome de Afrodite. Ou seja, não existem dados quantitativos para a realidade brasileira. No entanto, os estudos observacionais demonstram não se tratar de um problema relevante de saúde pública.
Psicólogo clínico e mestre em sexologia, Arnaldo Risman conta que, no século passado, acreditava-se que esse tipo de comportamento de sedução, que não necessariamente chega às vias de fato, era apenas de mulheres. Depois, em meados do século passado, verificou-se que os homens também se comportavam desta maneira, é a chamada síndrome de Don Juan. No caso masculino, geralmente quem possui o transtorno se relaciona com a pessoa, mas não necessariamente.
“No caso da Afrodite, a diferença entre quem tem a síndrome e uma pessoa que não possui é básica. Vamos imaginar que uma mulher saia para trabalhar. Ela se arruma, se produz, mas geralmente não sai de casa necessariamente com o pensamento de seduzir. Claro que, evidentemente, ela vai gostar de receber um elogio, ser paquerada, mas não vai sair de casa com este objetivo. Na síndrome de Afrodite, a pessoa se arruma para o ‘ataque’, já sai de casa para seduzir”, afirma.
Apesar de estar sempre ligada à definição de “compulsão em seduzir”, Arnaldo acredita que não necessariamente quem possui a síndrome tem uma compulsão, mas que pode vir a ter.
“Há indivíduos que têm um hábito, mas não são compulsivos, e tem pessoas que são. O compulsivo é aquele que nem uma, duas, três seduções bastam. Ele não consegue parar, porque não atinge o objetivo. O que é a compulsão? É a tentativa de saciar a vontade. Como não consegue, está sempre buscando o mesmo objeto: comida, bebida, cigarro ou a sedução. Para se tornar compulsividade, tem que avaliar até que ponto aquilo é compulsivo ou é um hábito de nível médio para baixo”, conclui Arnaldo.