O século XXI chegou acelerado, e acelerando. A tecnologia avançou rapidamente, e ainda permitiu descobertas mais rápidas, aumentando as velocidades em um círculo vicioso. Ainda bem que o homem é o animal mais adaptável aos diversos ambientes; mas nem tanto. De fato, a palavra do século é estresse, demonstrando que nós talvez estejamos indo mais rápido do que podemos acompanhar.
Estresse significa desgaste, tensão. Em situações estressantes, ficamos em um estado de alerta ao que chamamos ansiedade. Esse termo, no entanto, carrega uma conotação ruim que não necessariamente condiz com a verdade. O estado de ansiedade foi fundamental à sobrevivência do ser humano, pois ele é ativado quando precisamos aumentar nossa velocidade de reação e capacidade de adaptação a situações novas, ou potencialmente perigosas. A questão, portanto, não é o estresse em si, mas a permanência dessa reação no organismo por mais tempo que o necessário.
Segundo o site americano CareerCast, especializado em profissões e carreiras, a atividade mais estressante é a militar, seguida de bombeiro, piloto de avião, policial e produtor de eventos. Os fatores de estresse envolvem sobrecarga de tarefas, medo de perder o emprego, lidar com o risco de vida, seu e de outrem, lidar com o público, falta de liberdade para tomar decisões, ter que tomar decisões sob pressão e falta de perspectiva de crescimento de carreira.
O bombeiro Guido Serafini, de Niterói, também adiciona a essa lista a falta de estrutura de trabalho. Ele, que é guarda-vidas de praia, conta que “em Niterói, não tem posto físico para abrigar o guarda-vidas, e para usar o banheiro, só pedindo a estabelecimentos. Itacoatiara, a praia mais perigosa do Brasil, não tem nem água doce”.
Apesar do estresse, ele conta que gosta da profissão, e a escolheu pela oportunidade de ajudar pessoas. Ter sempre gostado de aventura, e de desafiar o perigo, ajudou a amenizar a perspectiva de tensão no trabalho.
Foi também essa predisposição a lidar com o estresse que motivou Vinícius Balthazar a escolher a carreira de piloto na Aeronáutica. Ele sempre lidou bem com o estresse e se identificou com o perfil necessário para trabalhar nas Forças Armadas. Mesmo tendo sido difícil a adaptação à pressão e cobrança constantes, ele se manteve na vida militar para seguir o sonho de ser piloto.
“Sempre gostei do estilo de vida, e gostar de aviões foi o que mais me motivou a permanecer e buscar meus objetivos”, declara.
No trabalho, estresse demais pode acabar causando a síndrome de burnout, definida pelo psicólogo Herbert J. Freudenberger, que a descobriu, como “um estado de esgotamento físico e mental cuja causa está intimamente ligada à vida profissional”.
Apesar de ser sempre associado a problemas, existe um tipo benéfico de estresse e outro maléfico. Há o eustress, nome dado ao tipo positivo, necessário para corresponder às demandas do dia a dia. Nos faz sentir satisfeitos, dominando a situação. A pessoa não foca nas adversidades, mas nos resultados.
O tipo maléfico é chamado destress, que tem efeito prejudicial ao desempenho. Nesse nível, quando o indivíduo fica em um estado de alerta constante sem necessidade, acaba sofrendo do transtorno de ansiedade.
Três fases
A psicologia divide o estresse em três fases. A primeira, chamada Alarme, está associada ao eustress, estimula o indivíduo a ser mais produtivo e disposto a aprender, para se adaptar. Na segunda fase, a resistência, o corpo começa a avisar que está sob muita pressão. A psicóloga Michele Viegas diz que nessa fase a exposição frequente ao fator estressante faz com que a resistência do organismo reduza, comprometendo a imunidade.
“O estresse abre espaço para o desenvolvimento de vírus e bactérias com mais frequência. A pessoa pode apresentar gripes constantes”, explica. A atenção a esses sinais, que também podem incluir pressão alta, gastrite, doenças autoimunes e dermatológicas, é importante para reconhecer quando se está sob muito estresse. Esse é o momento ideal de intervenção.
A síndrome de burnout acontece na terceira fase do estresse, o esgotamento. Nesse caso, é necessário tratamento para restabelecer o equilíbrio físico e emocional do paciente. Seus sintomas são, principalmente, esgotamento físico, mental e emocional permanente. Insônia, lapsos de memória, dificuldade de concentração, transtornos de humor e baixa autoestima também são alarmes da síndrome de burnout, que frequentemente está associada a depressão, alcoolismo e síndrome do pânico.
“A busca de ajuda psicológica se faz necessária para entender se as fontes de estresse são internas ou externas, sendo que o que determina o quanto uma pessoa irá se estressar é a própria fragilidade emocional de cada um, associada à história de vida. Mudanças no estilo de vida podem ser uma forma de prevenir ou tratar o estresse, aliadas a uma alimentação equilibrada e à prática de atividade física”, finaliza a psicóloga.