Sinal de alerta

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Dermatologista Carlos Reis, 37 anos, encontra tempo na agenda movimentada entre hospital e consultório para cuidar da saúde. Alimentação saudável, prática de exercícios e pouca exposição ao sol são suas prioridades

Foto: Lucas Benevides

No mês em que campanhas em todo o mundo buscam chamar a atenção para a saúde do homem, infelizmente é possível constatar que ainda existe muito a avançar nesse sentido. Ao contrário do que ainda acredita o senso comum, diversos estudos têm demonstrado que os homens são mais vulneráveis a enfermidades do que as mulheres, especialmente as doenças crônicas e graves, e, por esta razão, frequentemente morrem mais cedo. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), só para este ano são estimados mais de 60 mil novos casos de câncer de próstata. 

Mesmo assim, nossa cultura ainda estimula um comportamento que pode ser considerado irresponsável por parte dos homens, que resistem em cuidar da saúde com a convicção equivocada de resistência a problemas como forma de virilidade. Um grande engano, como mostra um recente estudo realizado no Centro de Referência da Saúde do Homem, órgão da Secretaria de Saúde de São Paulo, que mostrou que 60% do total de pacientes recebidos naquela unidade já apresentavam doenças em fase avançada, e por isso necessitavam de atendimentos de maior complexidade. Como bem mostra o estudo, não existe sexo forte e imune a doenças, e como todos sabem, é sempre melhor prevenir que remediar.

Nas últimas décadas tivemos avanços nas políticas públicas de atenção à saúde masculina, porém, os resultados práticos ainda são pouco visíveis. Desde 2004 a Sociedade Brasileira de Urologia vem se dedicando a essa questão, e, por isso, em 2008 passou a atuar junto a diferentes setores da sociedade na defesa de ações específicas voltadas à saúde masculina, como explica Geraldo Eduardo Faria, coordenador da campanha Novembro Azul da Sociedade Brasileira de Urologia.

“Ainda existem inúmeras barreiras a serem vencidas para que uma verdadeira política de atenção integral à saúde do homem seja implantada em nosso País. Novembro Azul é uma campanha de conscientização dirigida de forma especial aos homens brasileiros, que tem como objetivo alertar a população a respeito das doenças masculinas, com ênfase na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de próstata. Assim, durante todo o mês são realizadas ações de esclarecimento sobre a doença com o intuito de quebrar o preconceito masculino de ir ao médico para fazer o exame de toque. Além disso, iluminação com a cor azul de monumentos e edifícios, palestras educativas em associações, escolas, empresas e outras entidades, atividades esportivas e de lazer em áreas públicas e privadas estão sendo realizadas em todo o País para alertar o público sobre a questão. Hoje a campanha já faz inclusive parte do calendário nacional de prevenções”, explica Faria.


Novembro tem sido o mês em que campanhas em todo o mundo buscam chamar a atenção para a saúde do homem

Foto: Divulgação

Típico representante da nova geração de jovens adultos que começam a chegar ao mercado de trabalho, o estudante de Educação Física e estagiário Luis Felipe Marinho, de 25 anos, acredita que mesmo se dedicando mais à prática de exercícios, os homens de hoje fizeram dessas atividades muito mais uma busca por resultados estéticos do que um cuidado com a saúde, propriamente. 

“Nossa cultura impõe padrões de beleza e isso faz com que a prática dos exercícios físicos fuja do seu real propósito, que é proporcionar uma boa saúde. Mudar isso é um desafio que começa ainda nas escolas, nas aulas de Educação Física, pois hoje os alunos estão cada vez mais resistentes aos exercícios e mais interessados em jogos eletrônicos e redes sociais. Uma questão séria, pois certamente esse estilo de vida vai se refletir na saúde do adulto que esses jovens serão no futuro”, ressalta o estudante.

Sempre que se fala em saúde do homem, logo pensamos em assuntos exclusivos do sexo masculino, mais especificamente as doenças que acometem o aparelho reprodutor, sendo a próstata a principal preocupação. No entanto, segundo Pablo Cerante Moreira, médico membro da Sociedade Americana de Urologia, existem questões que também merecem atenção.

“Não podemos esquecer que a saúde do homem compreende outros campos que não se restringem ao âmbito urológico, com destaque principalmente para as doenças comuns da atualidade em todo o mundo, que acometem ambos os sexos, como obesidade, sedentarismo, diabetes, hipertensão e tabagismo, que são os principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares, principal causa de óbito dos homens. Um grande desafio é permitir o amplo acesso de todos os homens ao sistema de saúde primário, que é onde se faz o exame preventivo. Infelizmente a maioria dos homens até sabe da importância do exame preventivo, mas ainda encontra muita dificuldade para se consultar e realizar exames”, alerta o médico.

No auge da vida produtiva, e como a maioria dos homens de sua geração, tentando encaixar qualidade de vida em uma rotina estressante, o dermatologista Carlos Reis, de 37 anos, afirma que a corrida entre cirurgias no hospital e atendimento no consultório atrapalham a regularidade de suas atividades, mas não o impedem de se cuidar. 
“Não tenho dúvidas que os homens da minha geração avançaram quanto aos cuidados com a saúde. A prática de atividade física, estilo de vida saudável e exames preventivos, como o de próstata, são assuntos corriqueiros em rodas de amigos. Temas que eram tabu no passado. Eu basicamente tenho três cuidados com meu corpo. Alimentação, pois evito ingerir produtos processados e procuro consumir alimentos orgânicos. Atividade física, sempre pratiquei esportes e há um ano descobri o crossfit com o qual estou muito satisfeito. O terceiro é proteção solar, evitando excesso e tentando manter apenas uma exposição necessária para produção de vitamina D”, explica o médico.  

Idade, fator de risco

A chegada da maturidade requer ainda mais atenção. O fator de risco que mais pesa no desenvolvimento do câncer de próstata é a idade, como explica Diogo Rodrigues, Oncologista do Grupo COI – Clínicas Oncológicas Integradas. Segundo ele, a doença é rara antes dos 50 anos, mas, é nessa idade que normalmente se deve iniciar a investigação, lembrando ainda que, pacientes com histórico familiar da doença ou ascendência afro-brasileira apresentam maior risco e devem iniciar a investigação ainda antes, aos 45 anos.

“O excesso de testosterona também está entre os fatores de risco que podem ser controlados. O médico pode avaliar a possibilidade da utilização de medicamentos que diminuem esses níveis e expor para o paciente suas vantagens e desvantagens. E ainda, a realização de exames periódicos para identificação de tumores, mesmo em homens que não apresentam sintomas, consiste na avaliação clínica com a história médica e familiar e exame físico, incluindo o toque retal, além de exames como a dosagem sanguínea do antígeno prostático específico (PSA) e, mais recentemente, a ressonância magnética da próstata”, explica Diogo.  

Ainda cercado de tabus, o toque retal da próstata é um exame simples, rápido e barato, que muitas vezes pode identificar uma alteração inicial, segundo Rodrigues. O médico explica ainda que o tratamento, em caso de câncer, envolve uma equipe multiprofissional que inclui cirurgiões, oncologistas e radioterapeutas, entre outros profissionais, de acordo com a extensão da doença. 

“É comum a utilização de mais de uma modalidade de tratamento, cujas opções incluem cirurgia, radioterapia, terapia hormonal, quimioterapia, imunoterapia e até mesmo uma estratégia chamada vigilância ativa. O tratamento é individualizado, portanto, o que é melhor para um paciente pode não ser para outro. O melhor tratamento depende do grau de Gleason – pontuação dada a um câncer de próstata baseada em sua aparência microscópica –, da extensão do tumor, dos sintomas, da idade e do estado geral de saúde do paciente. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), são esperados 61,2 mil novos casos de câncer de próstata em 2016. No Brasil, ele é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. O sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente em homens, representando cerca de 10% do total de cânceres”, alerta o oncologista. 

Estagiário de Educação Física, Luis Felipe Marinho, 25 anos, diz que muitos homens frequentam academia, mas a maioria é por questões estéticas

Foto: Lucas Benevides

Saúde, melhor investimento

Mas envelhecer não é necessariamente sinônimo de complicações na saúde. Investir em vida saudável desde cedo pode contribuir para uma terceira idade cheia de disposição, caso do advogado Genival Paulino dos Santos, de 84 anos, casado há 59, aposentado desde 1982, mas sem nunca ter parado de trabalhar.

“Ainda jovem comecei fazendo exercícios com uma corrida de 20 minutos. Por vontade própria, parti para aulas de futebol de salão, vôlei, basquete, judô e xadrez. Quando vim morar em Niterói, há 45 anos, procurei dar continuidade aos exercícios físicos. Ia à praia nos fins de semana onde jogava peteca, frescobol e vôlei. Outro hábito que sempre mantive foi o de cuidar bem da refeição da manhã, que considero importante para preservar a saúde. Tomo suco verde e como, em uma pequena tigela, mamão, linhaça e granola; em seguida, café com um pequeno pedaço de pão com manteiga”, ensina Genival.

De acordo com o advogado, tão importante quanto os exercícios físicos é manter a cabeça e o corpo ativos, e, por isso, também é preciso ler, estudar e  trabalhar. Mesmo se prevenindo, o advogado reforça que também não deixa de se consultar com médicos e seguir à risca os tratamentos indicados.

“Aqueles que deixam seus músculos ociosos e só pensam em comer, beber, dormir, passam o tempo até a doença e a morte chegarem. Aconselho as pessoas a procurarem uma academia, um clube ou grupo de pessoas que proporcione atividades. Sempre que necessário, também vou a médicos, tanto do meu plano de saúde, quanto do SUS, conforme o momento ou a necessidade. Para determinados casos clínicos, também procuro a acupuntura. Atualmente tomo remédio para pressão, que o meu antigo cardiologista receitou por precaução, e semestralmente faço uma bateria de exames, recomendados pelo urologista. Acredito que a vida é movimento, e é preciso ter disposição para não deixar o acaso interferir”, conclui Genival. 

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