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Fotógrafa e estudante de Biologia, Flavia Lage registra aves de Niterói e Maricá há cerca de 10 anos

Foto: Arquivo pessoal

Se doar e construir parte do seu trabalho baseado em criações da natureza é um dom para poucos. A fotógrafa e estudante de Biologia Flavia Lage registra aves da região de Niterói e Maricá há cerca de 10 anos e está em cartaz com a exposição “Baile das Aves”, com curadoria de Eny Hertz no Centro de Visitante do Parque Natural Municipal de Niterói, no Parque da Cidade. Ela conversou com OFLU Revista e contou sobre suas motivações para fotografar aves e o que ela tem notado no comportamento das espécies, principalmente durante a primavera, estação que começa no próximo dia 22. Atualmente, Flavia divide seu tempo entre a faculdade de Biologia (cursando o 8º período), o estágio voluntário no Projeto Fauna do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), fotografa para eventos em geral e ministra aulas particulares de fotografia. 

Fale sobre o início da carreira, quando estagiou no extinto ZooNit?

Trabalhei como fotógrafa freelancer para o Zoonit, fotografei seu plantel e eventos relacionados à fauna, como exposições, palestras e festas produzidas pela fundação.

Quando você começou a se dedicar a fotografar aves?

Creio que foi entre 2006 e 2007, quando comecei a observar as aves que possuem uma adaptabilidade a ambientes urbanos, como o carcará, a coruja-buraqueira, o quero-quero, o gavião-carijó, o tucano-de-bico-preto, as garças de várias espécies, o biguá, entre outros. 

Você sempre pensou em fazer Biologia ou foi consequência do trabalho como fotógrafa de aves? Você se especializou em ornitologia?

Trabalho com produção de imagens de animais e tenho como projeto pessoal, no momento, o registro de aves na Região Leste Fluminense. De certo, é necessário ter algum conhecimento, mas é um caminho longo que, por hora, não sei se pretendo seguir. A Biologia te abre tantas possibilidades e eu, praticamente, me interesso por vários assuntos (risos). Sempre pensei em fazer Biologia desde garota, mas acabei fazendo Turismo, trabalhando em seguradora. Com 19 anos, fiz meu primeiro curso de fotografia, sendo que, só aos 23, com o fundo de garantia do meu primeiro emprego, pude comprar minha primeira câmera profissional, uma Nikon FM2, algumas lentes objetivas e seus acessórios. A partir daí, meu interesse pela fotografia de animais só cresceu e pude, com o tempo, aprimorar meu olhar e sensibilidade. No início, fotografava animais em cativeiro, mas minha vontade era de registrar seus momentos em seu habitat natural, foi assim que meu olhar se voltou para as aves. 

Como surgiu a ideia do “Balé das aves” e o que a motivou a expor suas fotos?

A exposição abriga em torno de 25 imagens de aves, delas, 90 % são de aves residentes ou que visitam a cidade de Niterói e Maricá, durante diferentes épocas do ano. Também acompanhando a exposição estão textos que visam a conscientização do ser humano em relação à natureza e aos animais. Recebi um convite por parte do administrador do Parque Natural Municipal de Niterói, que pertence a uma unidade de conservação, para participar do projeto de exposições fotográficas no Centro de Visitantes. 

Acima, um grupo de aves sobrevoa Piratininga, na Região Oceânica

Foto: Divulgação / Flavia Lage

Em todos esses anos, você percebeu mudanças no comportamento das aves durante a primavera? O que acontece?

Na primavera, as aves estão se preparando para reproduzir, costumam ser mais ativas e se expor mais, cantam para atrair o parceiro, procuram local seguro para depositar seus ovos e algumas aves vêm de outras áreas distantes em busca de condições ambientais adequadas para a sobrevivência e reprodução. Nesta época, ocorre também a muda – processo natural de substituição das penas –, intimamente relacionada ao ciclo reprodutivo, onde ocorre a troca das penas normais pela plumagem reprodutiva, que, geralmente, são mais vivas.

Qual a importância das aves no ecossistema como um todo?

Todo animal possui seu papel biológico na natureza: seu nicho ecológico. As aves ocupam diferentes posições na cadeia trófica, podendo ser consumidores primários, secundários e até mesmo ocupar o topo da cadeia, sendo chamados de predadores de topo. Assim, elas ajudam a manter um ciclo infinito, onde um organismo depende do outro, fazendo parte de um ecossistema. Nele, diversos organismos interagem entre si e com o meio. As aves também podem servir como dispersoras de sementes contribuindo para o sucesso na disseminação e perpetuação das espécies vegetais. 

Como você acha que podemos atuar na preservação dos ecossistemas através da proteção das várias espécies de aves que vivem entre nós?

Protegendo-as, estamos contribuindo para a manutenção do equilíbrio dos ecossistemas. Mas acredito que devemos preservar todos os elementos que pertencem aos ecossistemas, sejam eles os elementos bióticos, que são os seres vivos, e os elementos abióticos, que são os fatores químicos e físicos, incluindo-se nesse caso a terra (sedimento), a água, o ar, entre outros. Através da proteção das diferentes espécies de seres vivos, podemos contribuir para o equilíbrio ecológico de um ecossistema.

Fale sobre o ato de fotografar, captar o instante das aves e da natureza que as cerca de forma tão minuciosa e detalhada. O que passa pela sua cabeça nesse momento? É quase um estado meditativo?

Fotografar é um ato de criação e, quando criamos, entramos em contato com o divino que existe em nós. Fotografar animais não é tão fácil assim, pois encontramos muitas adversidades. Não se marca encontro com animais, nem sempre eles fazem o que visualizamos mentalmente, nem sempre eles são encontrados e, quando ocorre, nem sempre permanecem na cena, dispostos a serem fotografados. Mas, no momento em que eles resolvem colaborar com a gente e até posam pra câmera, nos proporcionam magníficos momentos e belos cliques. Muitas das vezes, no momento em que faço um clique, já estou pensando no próximo ângulo e enquadramento para o próximo clique. É como se um filme corresse em minha mente e a câmera me auxiliasse a concretizar o que estava latente em minha cabeça.