Como me enxergo?

Revista
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Fabiane Curvo explica que a dismorfia corporal altera a percepção sobre o próprio corpo

Foto: Divulgação

No final do ano passado, a atriz e cantora americana Miley Cyrus revelou ter sofrido de dismorfia corporal enquanto gravava a série Hannah Montana – trabalho que começou quando tinha apenas 12 anos. O depoimento da celebridade iniciou uma discussão sobre o transtorno, ainda pouco conhecido. A dismorfia corporal altera a forma como o paciente enxerga seu próprio corpo, explica a psicóloga Fabiane Curvo.

“É um transtorno em que a pessoa tem uma preocupação excessiva com sua imagem. Pode haver um problema real, que ela aumenta, ou nenhum problema, algo apenas imaginado”, explica a especialista, ressaltando que as consequências do distúrbio podem ser muito graves. “Alguns pacientes chegam a abandonar sua vida social, pois imaginam de forma distorcida que ‘não podem sair daquela forma’. Também passam a viver de forma a controlar esse ‘defeito’. A pessoa tem pensamentos obsessivos e comportamentos compulsivos em torno do problema que imagina ter”, aponta a psicóloga. 

Quem sofre de dismorfia corporal sente também necessidade de se olhar no espelho frequentemente e de esconder seus defeitos.

“É comum que a pessoa se veja muito maior do que realmente é, como na anorexia, ou muito distante do padrão ideal, no caso da vigorexia. Existe um exercício muito comum na terapia em que pedimos para o paciente se desenhar e depois colocamos ele ao lado do desenho feito. É impressionante a diferença”, lembra Fabiane. 

A psicóloga explica, ainda, que a anorexia e a bulimia, transtornos alimentares mais conhecidos, são formas de dismorfia corporal. Segundo ela, o transtorno afeta homens e mulheres na mesma intensidade, mas de formas distintas.

“Mulheres estão mais sujeitas a ver seu corpo maior, enquanto os homens tendem a acreditar que seu corpo é menor do que realmente é”, afirma a especialista. 

Outro sintoma do transtorno é a busca obsessiva por tratamentos estéticos e até intervenções cirúrgicas. O cirurgião plástico Guilherme Cravo explica que as cirurgias dificilmente farão com que o paciente se sinta melhor.

Quem sofre de dismorfia corporal sente também necessidade de se olhar no espelho frequentemente e de esconder seus defeitos

Foto: Divulgação

“Esses pacientes buscam tratamento para os problemas que enxergam nos consultórios de cirurgia plástica ou dermatologia. Inúmeras vezes o profissional não percebe o problema e acaba realizando uma cirurgia ou outro tratamento, mas que, infelizmente, não deixa esse tipo de paciente satisfeito”, afirma o especialista. 

Fabiane esclarece, ainda, que a origem desse transtorno pode ser encontrada na adolescência.
“A causa ainda é desconhecida, porém, observa-se relação com fatores sociais, culturais e familiares. Como por exemplo: famílias muito rígidas e críticas, adolescentes com baixa autoestima”, lista a psicóloga.

Outro fator que pode levar ao desenvolvimento do transtorno é a pressão pelo corpo perfeito, imposto com cada vez mais incisão pela sociedade, explica o professor do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Ademir Pacelli Ferreira.

“Atualmente há um imperativo muito forte para a pessoa ser esbelta, ter o corpo perfeito. Se a pessoa não tiver um senso de autocrítica sólido, ela começa a ter um mal-estar muito grande por não corresponder a essas exigências, que são uma ilusão. Mas, infelizmente, esse é um modelo imposto de maneira muito forte”, acredita o especialista.

Fabiane chama a atenção, entretanto, para a necessidade de diferenciar o cuidado com a aparência com o transtorno psicológico.
“É importante observar pontos como as distorções que a pessoa faz e a frequência desses pensamentos. Se ela, por exemplo, esconde sua parte ‘defeituosa’, se há a procura constante por algum tratamento estético. Quando nada fica bom o suficiente para arrumar o que ela deseja e a presença de atitudes compulsivas em relação ao controle do corpo”, lista a psicóloga. 

O tratamento da dismorfia pode ser dividido em duas etapas: a medicação dos sintomas e o acompanhamento psicológico.
“O cuidado pode estar associado a remédios que ajudam na ansiedade ou na depressão, doenças que podem acompanhar a disfunção. Mas o principal é a psicoterapia, para ajudar na mudança dos pensamentos, recuperação da autoestima e para que a pessoa volte a ter uma vida social e relacionamentos saudáveis”, finaliza a psicóloga.