Diário de bordo

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O casal Alfredo e Gilda Vazquez está na companhia do fusca verde ano 1981

Foto: Lucas Benevides

Para Alfredo, de 66 anos, e Gilda Vazquez, de 65, a distância nunca é um problema. A bordo de um fusca verde, parceiro incansável de viagem, o casal já chegou a destinos invejáveis como a Cordilheira dos Andes, o deserto de Atacama, Bariloche e Ushuaia, na Argentina, além de quase todo o Brasil. No total são mais de 33 anos de viagens, todas feitas com o “possante”, apelido carinhoso do carro, ano 1981. 

A primeira aventura em quatro rodas foi em 1983, quando Gilda e Alfredo partiram do Rio de Janeiro para Salvador. Depois nunca mais pararam. Para cada destino, o casal faz várias paradas pelo caminho, sempre com sede de conhecer tudo. Para eles, essa é a principal vantagem de viajar de carro: a estrada já faz parte das férias. Por isso, Alfredo admite que nunca trocaria o carro pelo avião. 

Além de único meio de transporte, o fusca é também hospedagem em grande parte das aventuras. Pernoitar em postos de gasolina ou passar a noite em sacos de dormir são fatores que assustam muitos viajantes, mas Gilda garante: “Nós fazemos tudo com o mesmo ânimo e o mesmo pique de 30 anos atrás”. 

Alfredo lembra que a viagem para a Cordilheira dos Andes, quando o casal ficou preso três dias na fronteira entre a Argentina e o Chile, fechada por causa do frio de 22 graus negativos, foi uma das situações mais difíceis enfrentadas por eles. Durante esse tempo, eles passaram as noites em um abrigo da rede ferroviária, e o que seria um pesadelo para muitos, se tornou uma grata surpresa já que conheceram muitas pessoas, inclusive um casal chileno, que os convidou para se hospedar na casa deles.  

No Brasil, Alfredo e Gilda também fazem questão de receber seus parceiros de estrada. Os últimos hóspedes vieram do Recife. “Estamos indo para os lugares não apenas para ver a beleza, mas para conhecer as pessoas, deixar a nossa marca”, conta Alfredo. 

O fusca do casal já enfrentou lama, areia, neve e até o Pantanal, e tudo isso sem reclamar. Alfredo conta que em 33 anos de estrada, o carro só teve problemas uma vez, e revela o segredo: durante três décadas, faz uma revisão completa do possante toda vez que vai viajar, e sempre com o mesmo mecânico. Não é pra menos, afinal, Alfredo admite: não deixa qualquer um encostar no seu “filho único”. “Quando a Gilda vai ao mercado, eu fico dentro do carro”, diverte-se. 

Alfredo e Gilda Vazquez já conheceram quase todo o Brasil, além da Argentina, deserto de Atacama e Cordilheira dos Andes

Foto: Arquivo pessoal

O fusca não é adorado só pelo casal, e é “frequentador” de diversos clubes de carros antigos. Gilda e Alfredo são membros ativos do “Carioca Volks”, mas visitam outros como o “Família Ferrugem”, em São Gonçalo – e estão sempre abertos para novos convites. 

Para quem quer embarcar em uma viagem de carro, o casal não poupa recomendações. A mais importante, segundo Alfredo, é não começar com uma viagem muito longa. “Um bom destino para iniciantes seria Porto Seguro”, diz. Durante as viagens do casal, cada um tem uma função. Enquanto ele dirige, ela anota todas as despesas do dia. Essa é outra dica: não perder a conta dos gastos. “Afinal, toda ida tem uma volta”, lembra ele. 

Eles também indicam fazer paradas somente no caminho de volta, para não arriscar gastar muito tempo em um mesmo lugar, e não conseguir chegar ao destino principal. Alfredo e Gilda dividem sua experiência com os iniciantes e montam itinerários de viagens, com recomendações de paradas e lugares para visitar. Hoje, aposentados, eles revelam que a maior dificuldade de embarcar em uma nova aventura são os gastos, principalmente com a gasolina.

O fusquinha verde leva, na bagagem, histórias incontáveis. Nas janelas, adesivos que trazem um pedacinho de todos os lugares que já visitaram. No rádio, CDs de músicas típicas das cidades conhecidas. No banco de trás, um álbum de fotos, que Gilda e Alfredo exibem com orgulho a todos que pedem. Mas, antes de tudo isso, o “possante” leva um casal com memórias incríveis e uma certeza: a vontade de voltar para a estrada.