Efervescência na Babel

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Henrique Zanon e Gilberto de Abreu (em primeiro plano na foto) são os nomes por trás da Babel 08 e prometem fazer do prédio a embaixada do grafite em Niterói

Foto: Lucas Benevides

Um novo espaço em Niterói pretende se tornar polo de arte urbana na região e vai levar para seu interior intervenções, música, performances, grafitti, estêncil, cartazes lambe-lambe, arte contemporânea e muito mais. A Babel 08 – nome que faz referência à Torre de Babel da história bíblica – ainda agrupa microempreendedores, artistas pálticos, músicos e marcas independentes. Anote esse endereço: Rua Dr. Carlos Halfeld, 230, Icaraí. Para a inauguração, o espaço vai receber o “Babel 08 – Open House”, evento que reúne uma extensa programação cultural neste domingo, a partir das 10h.

“Estou pensando a Babel enquanto usina criativa, em que as pessoas passam e desejam fazer parte com aquilo que sabem, se conectando com outras que querem aprender. A bagagem como curador e jornalista soma muito nesse caminho, porque traz para esse lugar, de forma agregadora, uma visão 360º. Tenho encontrado muitas pessoas que se identificam com essa proposta, ao ponto de fazermos parcerias colaborativas. Isso é muito legal”, comemora Gilberto de Abreu (47), curador do espaço, que ficou sabendo das intenções do projeto quando estava em Londres e, de lá mesmo, começou a movimentação para fazer tudo começar a ser desenvolvido. 

Antes deste projeto inédito na cidade, o prédio fazia parte da sede da organização não governamental Centro Juvenil de Orientação e Pesquisa (Cejop), que presta atendimento social voltado à reabilitação para cerca de 400 pessoas, com coordenação técnica de Márcia Zanon. O espaço foi alugado e visa, ainda, colaborar com a recuperação e angariar fundos para o Cejop. 

“Também quero reaver a vocação educacional deste lugar, que descobri lendo o estatuto do Cejop. Aqui funcionavam oficinas e atividades recreativas. Esse é meu projeto pessoal na Babel: expandir o conceito de arte e educação usando a arte urbana como matéria-prima”, promete Gilberto. 

De acordo com o diretor da Babel 08, o jovem estudante de Biologia Henrique Zanon, de 23 anos, a ideia é que seja um espaço alternativo em Niterói aonde as pessoas possam ir para conversar, relaxar e compartilhar histórias. O “oito” simboliza o infinito – começo, meio e fim de algo – e já estava no antigo nome do local: Beco 08.  

“Gosto muito desse número, traz sorte. Estamos tendo a oportunidade de pensar a ocupação desse prédio de uma forma inclusiva, democrática e cultural. Inicialmente, tive a ideia de fazer um estúdio de tatuagem para arrecadar dinheiro para ajudar a instituição. As pessoas começaram a chegar, dar ideias e ajudar no projeto. Depois, chamei o pessoal da culinária vegana para ocuparem a nossa cozinha com seu negócio (Navegano). Em seguida, veio o estúdio de som. Fomos ganhando vida com cada pessoa que entrava pela porta. Queremos revitalizar a rua também, que é bastante deserta e sem graça, e transformá-la num local de encontros”, destaca Henrique. 

A quadra pertencente à Babel 08 está sendo limpa e vai receber, em breve, sessões de cinema ao ar livre abertas ao público que frequentar o local

Foto: Lucas Benevides

A Babel 08 está nascendo, mas já abrigou a residência artística de uma semana de três jovens de Maricá que, depois de conversas, pesquisas e tatuagens, acabaram voltando para sua cidade e montando um coletivo artístico e empreendedor em uma casa. Entre as ideias futuras para o espaço estão sessões de cinema ao ar livre com projeção em uma das paredes da quadra, uma confraria com cervejas artesanais e uma loja de tintas spray para grafite. 

Um dos grupos empreendedores da Babel 08 é o dos amigos Rhyan de Aguiar (20) e Vinícius Fonseca (22), do Navegano, nova marca de hambúrgueres veganos que atende no local e também entrega pelo ifood em Niterói. 

“Ocupar a cozinha da Babel foi exatamente o que a gente precisava. Está sendo bastante promissor para o nosso negócio. Juntar essas energias foi fundamental. Estamos todos crescendo juntos mesmo. Não tivemos muito investimento inicial e, agora, estamos estruturando a contabilidade. Hoje, a cozinha já se sustenta, mas acreditamos que em 2018 vai ser o grande boom”, avalia Rhyan.

A única mulher entre tantos homens no prédio é a artista plástica Cibelle Arcanjo (25), que faz pinturas em acrílica e óleo sobre tela em seu ateliê, mesclando figuração e linguagens plásticas e abstratas da pintura. Seus quadros sempre contam histórias de pessoas periféricas e/ou marginalizadas. Em um deles, por exemplo, existe uma tarja vermelha, como elemento gráfico, que também atua na representação simbólica, marcando a menina desenhada com um alvo. Ele conta a história de Maria Eduarda Alves da Conceição, morta esse ano aos 13 anos dentro da escola em Acari, no interior do Rio. 

“Têm pessoas desinformadas que me chamam de corajosa por fazer parte dessa ocupação, mas não tem nada disso. Acho lamentável eu ser a única mulher aqui dentro. Desejo que outras mulheres queiram pertencer e participar de projetos interessantes como esse”, argumenta Cibelle.