Empreendedorismo social

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O Saladorama, de Hamilton Henrique, já impactou mais de 160 mil pessoas no Brasil, capacitando mais de 200 mulheres. Além disso, já entregou mais de 100 toneladas de comida para comunidades carentes

Foto: Divulgação

O mundo corporativo costuma ser competitivo e alguns empreendedores ainda têm a mentalidade de que o lucro deve ser obtido a qualquer preço, livre da preocupação com as consequências no âmbito da sustentabilidade, da saúde, da economia e da política. Por outro lado, cresce cada vez mais o empreendedorismo social: um conjunto de ações que causa impacto social e, ao mesmo tempo, gera sustento e renda para o empreendedor, promovendo qualidade de vida e responsabilidade social.

Apesar de terem o mesmo objetivo, existem diferenças entre o empreendedorismo social e as organizações não governamentais (ONGs). O primeiro é o desenvolvimento de negócios sociais inovadores que beneficiam a sociedade e o empreendedor, causando um grande impacto social por meio de projetos de desenvolvimentos como econômico, cultural e sustentável. Já a ONG é uma associação sem fins lucrativos com objetivo ou ações que têm o propósito de desenvolver projetos para um segmento de pessoas em que o público alvo não paga pelo benefício recebido e também os dirigentes da associação não são remunerados. 
Segundo Elias de Paula, professor e palestrante em responsabilidade social e empregabilidade, as pessoas devem empreender visando a solução de problemas. 

“A importância de empreender de modo social na atualidade é tamanha que contribui para um mundo mais saudável e sustentável”, afirma Elias, que também é mentor em negócios sociais e presidente da ONG Procomece. 

De acordo com o profissional, não há limites para colaboradores ou funcionários; embora a estratégia de negócio possa envolver também voluntários e cooperados.

“O empreendedorismo social ainda não é amplamente divulgado, há um certo medo sobre uma estratégia, para o bem comum, em que o empreendedor não deva ser remunerado. As escolas, sejam de segmento público ou privado, deveriam ser o melhor canal para ensinar e incentivar essa prática”, acredita. 

Criada em 2003, em um projeto ambiental do Colégio Estadual Aurelino Leal, no Ingá, a Escola Samba Lata começou a ganhar corpo em 2009. A escola é uma instituição itinerante de ação e pesquisa cultural empenhada na formação de recursos nas áreas da cultura popular brasileira e meio ambiente, oferecendo serviços de aulas de música com material recicláveis e educação infantil, prestando consultoria e trabalhos de produção cultural. O projeto trabalha nas comunidades do Portão do Rosa, Fazenda dos Mineiros e Palmeiras, em São Gonçalo.

Silvio Júnior, coordenador da Escola, afirma que a escolha dos locais foi devido ao grande índice de violência e degradação ambiental das áreas.

“A importância de ser um empreendedor social é integrar a lógica dos diferentes setores econômicos e oferecer um produto e serviço de qualidade à população excluída do mercado tradicional, ajudando a combater a pobreza, aumentar a inclusão social, tornando a geração de renda e a qualidade de vida mas rentáveis”, expõe. 

Durante a 16ª edição do Programa Shell Iniciativa Jovem, realizado ano passado, o projeto ganhou o Selo de Empreendimento Sustentável 2017. A escola possui hoje cinco voluntários e o lucro é obtido por meio da prestação de serviço para escolas particulares e empresas. Silvio Júnior, em seus fins de semana, também faz serviços de bufê para pagar suas contas e ajudar o projeto na medida do possível.

Outro empreendimento social é o Saladorama, criado em 2015 após o gestor de encantamento da empresa, Hamilton Henrique, perceber que alimentação saudável era considerada comida de rico. Morador de São Gonçalo, ele trabalhava em Botafogo e percebeu o contraste na alimentação entre as pessoas da comunidade e fora dela. Hoje o Saladorama atua em cinco cidades: Rio, Recife, São Luis, Florianópolis e Sorocaba, com produção de saladas e com turmas de capacitação em Alcântara (São Gonçalo).
 
“Temos a missão de democratizar essa alimentação no Brasil. A empresa vem para ser um delivery de alimentação de salada na favela para a favela, valorizando a agricultura familiar e incentivando a vida saudável”, analisa Hamilton. 

Com 25 pessoas que contribuem para que o sonho aconteça, a empresa já impactou mais de 160 mil pessoas no Brasil, capacitando mais de 200 mulheres. Além disso, já entregou mais de 100 toneladas de comida para comunidades, conseguindo reduzir junto a vários agentes o índice de diabéticos e de doenças relacionadas à alimentação em 1,8% nas comunidades do Recife.

“Todo o processo é feito na favela: as cozinheiras, o agricultor, os entregadores e boa parte dos nossos clientes. Impactamos diretamente na saúde das pessoas melhorando suas condições de vida”, garante.

Para conhecer melhor as pessoas e ajustar a comunicação da empresa, Hamilton ficou pouco mais de um mês nas comunidades de Vital Brazil (Niterói), Nova Descoberta (Pernambuco) e Menino de Deus (São Gonçalo). 

“Vi um povo que luta muito para o melhor da comunidade, então decidi que dedicaria minha vida para solucionar seus problemas”, finaliza.