Endometriose

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A endometriose acontece quando o endométrio, tecido que reveste a parede interna do útero, cresce em outras regiões do corpo.

Foto: Divulgação

É preciso estar atento a todos os sinais que o corpo nos dá. Mas e quando nos deparamos com uma doença silenciosa, como a endometriose? Ela acontece quando o endométrio, tecido que reveste a parede interna do útero, cresce em outras regiões do corpo. Segundo dados da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), entre 50% e 70% das mulheres com a doença têm infertilidade, e cerca de 40% com infertilidade têm endometriose.

O ginecologista Bernardo Lasmar, membro da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio (SGORJ), ajudou a desenvolver o diagrama para mapeamento da endometriose. Segundo ele, este software médico permite que o ginecologista insira todos os pontos onde foram identificados focos da doença. "Esta ferramenta permite um maior entendimento da paciente e permite que o cirurgião leve  para o centro cirúrgico todos os dados da cirurgia em uma única folha, facilitando sua abordagem cirúrgica", define.

As causas da doença ainda são desconhecidas, mas diversas teorias surgiram com o tempo. A mais aceita é a “menstruação retrógrada”, que ocorre quando o fluxo sanguíneo volta pelas tubas uterinas, sendo derramado nos órgãos próximos. Outra muito considerada são as falhas do sistema imunológico. Especialista em reprodução humana, Marcello Valle cita alguns sintomas: 

"Ela pode ser uma doença assintomática, mas é comumente associada a fortes cólicas menstruais, dor pélvica não relacionada aos ciclos menstruais, dor com relação sexual e infertilidade. Outros sintomas também podem incluir dor ao urinar ou evacuar, e sangue na urina e fezes. Infelizmente, até o momento, não existe nenhum método preventivo para a doença".

A fisioterapeuta Beatriz Melo, de 41 anos, descobriu há seis anos que estava com endometriose. "Procurei um clínico, já que estava com problemas no intestino e a dor era muito forte. O médico recomendou alguns exames para avaliar o risco de câncer de ovário. A ressonância apontou endometriomas, endometriose profunda em útero, intestino e miomas. Na primeira consulta com o especialista, ele disse que não tinha a mínima chance de engravidar, já que todo meu aparelho reprodutor estava comprometido. Não havia tratamento medicamentoso, só cirurgia. Fiz o procedimento há três semanas, retirando 15 miomas. Ainda não tive filhos, mas com a cirurgia, posso continuar tentando. A luta contra endometriose continua, e ela tem que ser acompanhada, já que pode voltar", diz Beatriz.

Bernardo Lasmar atenta para o risco da doença em mulheres mais jovens. “Nossa atenção, atualmente, está muito voltada para as pacientes com idade entre 25 e 30 anos,já que é cada vez mais frequente a presença de endometriose avançada nessa faixa etária, comprometendo de forma grave o futuro reprodutivo. Estamos buscando uma forma de selecionar jovens que estariam em risco de desenvolver a doença, para tentar evitar um quadro grave. Como ainda não é conhecida a causa da doença, a prevenção ainda não está determinada. Acreditamos que o bloqueio da menstruação nestas pacientes de risco com anticoncepcionais contínuos traria algum benefício, porém, não garantiria o bloqueio da doença, como se pensava antigamente”, enfatiza o especialista.

A administradora de empresas Viviane Ribeiro, 34, está na segunda endometriose profunda. "Sempre tive o fluxo regular, tomava anticoncepcional há uns 15 anos, e ia a ginecologista regularmente. Meu preventivo e ultrassonografia sempre foram normais, mas em 2013 passei mal e a médica acabou descobrindo a endometriose profunda e precisava de uma laparoscopia, que foi feita em 2014. Perdi parte do intestino, que foi grampeado, e um pedaço de uma das trompas. Passei um ano e meio bem, porém, no ano passado comecei a ter as dores novamente, estava com endometriose profunda novamente, mesmo com o bloqueio da menstruação e acompanhamento semestral. Vou operar pela segunda vez em março", conta ela, que pretende ter filhos. 

De acordo com Marcello, pacientes podem ser, inicialmente, tratadas com analgésicos, pílulas anticoncepcionais que contêm estrogênio e progesterona. "Também existem hormônios injetáveis e outros medicamentos orais que suprimem a produção de estrogênio e, consequentemente, a progressão das lesões, mas estes têm efeitos colaterais e não podem ser usados de forma definitiva", afirma, ressaltando que a doença também pode ser tratada cirurgicamente, com a ressecção de todas as lesões visíveis que podem ser retiradas de forma segura. 

"A endometriose é considerada uma doença crônica e que não tem cura definitiva. Uma pesquisa recente do Fundo Global de Pesquisa em Endometriose revelou dados sobre o impacto na qualidade de vida apontando que metade das mulheres têm sua vida profissional e seus relacionamentos afetados pelos sintomas da doença. E mais da metade continuaram a ter dor pélvica crônica na relação sexual após tratamento. Outro dado revelou que entre as mulheres que sofrem de dor pélvica crônica, 40 % têm o diagnóstico de endometriose e são as que têm sintomas mais severos”, finaliza Marcello.