História passada a limpo

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Cristina Mitidieri, Patrícia Ferreira, Claudia Swan e Brian Higgin fazem parte da Comissão dos 100 anos e são os idealizadores do livro sobre o Rio Yacht Club

Foto: Lucas Benevides

A paixão pela vela e pelo Rio Yacht Club uniu quatro pessoas apaixonadas pelo esporte e dispostas a resgatar uma parte praticamente esquecida da história. Aproveitando as comemorações do centenário do clube, Brian Higgin, Claudia Swan, Patricia Ferreira e Cristina Mitidieri lançaram “100 anos do Rio Yacht Club”. Na publicação, eles abordam não só memórias do clube do qual são sócios, mas também de Niterói, celeiro de tantos talentos, da relação com os ingleses e do próprio iatismo.

Como surgiu a ideia do livro?

Brian: Já havia uma ideia anterior à minha volta ao clube, que ocorreu em 2012, de se lançar um livro do centenário. Depois que retornei, passei a fazer uma pesquisa, falei com a Patrícia sobre o material que estava descobrindo e ela se animou. Depois, a Cláudia e a Cristina embarcaram junto, e esse time maravilhoso acabou surgindo.   

Cristina: É importante ressaltar que esse time foi criado de maneira oficial com a chamada Comissão dos 100 anos.

Falem um pouco sobre a história do clube. Existe uma história extraoficial que diz que os ingleses brigaram com os alemães por conta da Guerra. Porém, isso nunca foi estudado a fundo e comprovado. 

Patricia: Um dos fatos mais interessantes era quando muitos sócios ingleses iam para a guerra. Isso era registrado em ata. Quando o clube recebia a notícia de que eles estavam bem, era uma festa. Ao mesmo tempo, quando não se ouvia falar deles, era aquela tristeza. Patricia: Outro marco da história foi a vela feminina. Existe uma informação de que a primeira regata feminina aconteceu em 1945. Temos registro de que o primeiro troféu de vela feminina aconteceu aqui no clube, em 1921. Portanto, é seguro afirmar que a vela feminina começou aqui.

Qual a relação do clube com Niterói?

Cristina: Em um primeiro momento, podemos relacionar com os ingleses que possuiam uma colônia muito forte. Suas empresas e funcionários. Fora as conquistas que acabaram colocando Niterói no mapa da vela mundial.
Brian: Por exemplo, a Leopoldina Railway tinha, na Estrada Fróes, um alojamento para seus funcionários, além de muitas casas ocupadas por engenheiros. Então, a presença inglesa sempre foi muito forte.

Como explicar o sucesso dos iatistas da cidade?

Cristina: Tem muito a ver com a transmissão de conhecimento de geração para geração, as pessoas que passaram a competir internacionalmente, numa época em que isso não era muito comum, e quando retornavam das competições, sentavam-se na varanda e ficavam conversando, falando sobre o que tinham feito, compartilhando as experiências.
Brian: É mais ou menos o que acontece com o futebol. As pessoas sentam na mesa e discutem, dizem que chutaram de trivela ou que deveriam ter feito isso ou aquilo. Só que aqui, fala-se só de vela. 

Existe o estigma de que a vela é um esporte elitizado... 

Patricia: Em nosso país, não existem marinas públicas. Você precisa de um espaço para guardar seu barco. O material realmente é caro. Agora, todo esporte que se pratica, necessita-se de um investimento inicial. Claro que se formos levar para a competição em alto nível, fica realmente muito mais caro. Mas se formos analisar, tem muito velejador profissional que veio do Projeto Grael, que é gratuito. E eles são muito bons. A vela está aberta para quem quiser aprender.
Brian: E a vela tem um aspecto legal que é democrático, podem velejar crianças, pessoas de mais idade, agrega dos avós aos netos.

A publicação traz histórias do clube, fatos marcantes e um pouco sobre a história da vela, além da relação com Niterói

Foto: Divulgação

Qual a importância das medalhas para o clube? 

Claudia: Título para qualquer clube é importante. Temos 12 medalhas olímpicas. Isso é mais do que muitos países. É um orgulho muito grande para o clube.  
Patricia: Outro ponto importante de ressaltar é que o clube não tem a menor condição ou pretensão de ir atrás de atletas para conquistar medalhas. Os campeões são formados aqui. Eles estão  aqui por que gostam e têm orgulho.  

Qual a importância do Hagen Sharpie, o primeiro barco feito no Brasil? 

Patricia:
Antigamente, cada um tinha um barco diferente. Não havia uma classe definida. O Hagen Sharpie veio para unificar isso. E eles começaram a entrar nas regatas e ganhar de todo mundo. Mais tarde, Preben Schimidt redesenhou o barco. Temos até hoje quatro troféus dele aqui.
 
Como vocês analisam o futuro da vela? 

Claudia: A próxima geração vem muito bem. Eles chegam com água salgada na veia, como dizemos na gíria do iatismo. A chance de surgirem novos campeões é muito grande. O clube está sempre se renovando naturalmente. 

Qual a importância de se manter viva a história da vela? 

Cristina: O Brasil é um país sem memória. Quase não existem projetos esportivos que guardem a história. Em nossa pesquisa, quase não havia literatura a respeito do tema. Conversamos com pessoas de quase 100 anos que nos contaram e nos transmitiram uma história oral que estava perto de ser perdida.  
Brian: Acho que esse livro vai virar uma espécie de baliza da história do clube, da vela, dos ingleses e até mesmo da cidade. Acredito que em pouco tempo ele se tornará uma referência. 

Qual a expectativa para os Jogos Olímpicos de 2016? 
Brian:
O clube funcionará como base dos times da Nova Zelândia, Irlanda e Dinamarca. Isso vai trazer uma grande visibilidade, além da troca de experiências. Patricia: Pelo menos duas medalhas. Acredito que a Martine (Grael) traga uma.  

O clube oferece aulas? É preciso ser sócio para participar? 

Claudia:
Nesse momento, não. Mas existem fases em que a escolinha está aberta, seja para adultos ou para crianças. As aulas são sempre ministradas por sócios e por voluntários. 

Onde está sendo vendido o livro? 

Cristina:
O livro está à venda na sede do clube e custa R$ 140. Se a pessoa estiver em outra cidade ou não puder vir até aqui, é só mandar um email que enviamos.  

Texto: Gustavo Roman