Inteligência que dá tesão

Revista
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Sapiossexuais são pessoas cujo foco de interesse em seus relacionamentos está totalmente ligado à inteligência do outro.

Arte: Leonardo Delfino

Pense na seguinte situação: você conhece uma pessoa que lhe causa nenhuma atração. No decorrer da conversa, aos poucos, você vai se interessando pelos assuntos abordados e começa a perceber o quão inteligente ele ou ela aparenta ser. O fato é que esse “papo cabeça” é capaz de te impressionar a tal ponto de sentir-se atraído por este indivíduo, sem se importar com a sua aparência ou outros fatores que geralmente são alicerces em um flerte. Caso tenha se encaixado neste exemplo, é muito provável que você faça parte do grupo dos “sapiossexuais”.

A terminologia, supostamente criada pelo jornalista Darren Stalder, que afirma ter inventado a expressão durante o verão de 1998, vem do prefixo “sapien”, que no latim significa “inteligência”. Porém, foi só em 2008 que o termo ganhou destaque através de algumas redes sociais, que incluíram a nomenclatura nas opções de orientação sexual. Segundo o psicólogo e especialista em educação sexual Alcindo Miguel Martins Filho, uma tradução ao pé da letra seria “sábio sexual”, ou seja, pessoas cujo foco de interesse em seus relacionamentos está totalmente ligado à inteligência do outro.

“Em princípio, são pessoas que possuem sua atenção voltada para valores imateriais no próximo, como inteligência, cultura, formas específicas de pensamento e falas diferenciadas. Alguns itens saltam para essas pessoas até o primeiro plano, como uma boa conversa ou o humor do outro.

Mesmo assim, não há como eliminar a chance de um sapiossexual encontrar um parceiro que alie a estes itens, que lhe são focais, outros elementos como beleza, segurança ou até mesmo uma boa situação financeira. É muito importante notar que todos estes itens têm referenciais muito subjetivos e variados, abrangendo uma ampla gama de configurações de relacionamentos e perspectivas”, aponta.

Atraída pelo intelecto em seus relacionamentos, a professora de literatura da UFF Carla Portilho, 50, se encaixa no perfil dos sapiossexuais, apesar de não gostar de rótulos. Em sua opinião, ser atraída por uma característica – no caso, a inteligência – apenas não é tão comum quanto sentir atração por um corpo perfeito, mas continua sendo algo normal. Durante sua juventude, por várias vezes, a professora insistiu em relacionamentos que fugiam de sua verdadeira atração e acabou aprendendo com o tempo que os rostos ou os corpos bonitos não lhe traziam a mesma satisfação que uma mente arguta lhe proporcionava.

“Sempre me interessei por pessoas com quem compartilho interesses, com quem posso conversar animadamente por horas a fio, com quem rio junto. Pessoas inteligentes, cultas e que têm senso de humor fazem totalmente meu perfil”, explica Carla.

A tecnologia é um dos grandes fatores que permitem a ampliação de conexões entre os mais diversos perfis de pessoas. A cada dia que passa, os aplicativos de paquera vêm ganhando mais usuários, que buscam, através deles, relacionamentos sérios ou os famosos matchs. Similar à interface do Tinder, mas com o objetivo e público-alvo diferente, a Humanist Dating LLC criou o aplicativo Sapio, para sistemas Androids e IOS. A criação, que está disponível apenas na versão em inglês, tem como foco os sapiossexuais e funciona da seguinte forma: após duas pessoas terem se curtido – também conhecido como “match” –, o usuário passa por um questionário e, com base nas respostas, o aplicativo analisa se realmente ela combina com aquela pessoa, que também já respondeu as perguntas. Quanto mais respostas em comum, mais chances da combinação aumentar. Assim como o Tinder, abre-se um chat após o teste de compatibilidade e os usuários ficam à vontade para trocarem contato, conversarem e se conhecerem. 

A sexóloga Katia Godinho explica que, no caso dos sapiossexuais, a idolatria e a excitação caminham juntas e, geralmente, são pessoas curiosas, abertas às novas experiências e desprendidas de valores morais, que admiram o novo e o criativo.

“A qualidade da conversa, a complexidade do conhecimento ou a especialização da pessoa em algo que desperte algum interesse são fatores que levam os sapiossexuais a se sentirem seduzidos por aqueles que possuem estes atributos. Ambos os sexos podem ter esse tipo de atração, mas a maior parte é feminina”, explica a profissional.

Segundo a psicologia social, a atração do ser humano pelo próximo está ligada a fatores como: semelhança, proximidade, reciprocidade, atração física ou, no caso dos sapiossexuais, pelo intelecto do outro. A fotógrafa Claudia Catherine Perpétuo, 45, mesmo tendo como foco pessoas que lhe proporcionem trocas intelectuais, além de afetivas, não descarta a aparência física, que vem como segundo plano. Para ela, o tipo de pessoa que mais lhe causa aversão são as agressivas, preconceituosas, machistas, ignorantes, que não se dispõem a aprender ou a dialogar.

“Uma conversa agradável, boa bagagem cultural, inteligência, cultura, visão crítica, bom humor e gentileza são pontos importantes que sempre procuro. Não me considero essencialmente sapiossexual, porém, é inevitável afirmar que o que chama mais minha atenção e abre possibilidade para relacionamentos é a inteligência e a boa articulação”, confessa Claudia, e acrescenta: “Não adianta ser inteligentíssimo e não saber lidar com o ser humano. Tem gente que chega exaltando os próprios feitos, querendo dar aula sobre si próprio, e isso não é legal. A conversa tem que fluir, não é uma demonstração de poder”, conclui a fotógrafa.