Minha palavra

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Foi belíssima a temporada do “Parem de Falar Mal da Rotina” no Teatro Fashion Mall, capitaneada pela produtora Emilene Lima. Ali é o meu parlamento, palco do meu pensamento, estrada da minha arte, lugar onde eu deposito o resultado do encontro entre o meu olhar e a vida, e a realidade que vejo e da qual participo.

Nós da Companhia da Outra agradecemos aos amigos que fazemos em cada temporada. Vive-se como uma família por alguns meses. Obrigada Lucas, programador do teatro, pelo convite, ao dedicado trabalho amoroso de Evandro, operando a luz, às sensibilidades do José e do Lincoln, e do Jadson da portaria, que me disse que assistir à peça era fazer uma faculdade.

Foi a primeira vez que nos apresentamos além túnel e foi emocionante de ver gente do Brasil inteiro e de vários lugares do Rio de Janeiro presente como um bando de fiéis trazendo novos “rebanhos”. Houve um cara, o Paulo, que, no penúltimo dia, levou 49 pessoas e, no último, 30.

Uma festa. Passaram por lá também amigos, artistas queridos como Edu Krieger, Mateus Solano, Daniela Mercury, Flávia Oliveira, Luis Erlanger, Gregório Duvivier, Leandro Muniz, Dani Barros, Georgiana Gois, Tatá Lopes, Débora Lan, Mariana Nunes, Marcus Lima, Fabrício Boliveira, Isabela Bicalho, óh, devo me calar, citar é ser injusto! A gente sempre esquece alguém, Cristina Cordeiro, por exemplo, minha figurinista amada.

Enfim, agradeço ao público que, em tempos difíceis como estes, não deixou de ir bater o tambor do “Parem” comigo, obrigada. Há quatorze anos, por causa de vocês é que o “Parem” continua atual, atualizado e atualizador de mim e dos que nossa arte representa. 

Está tudo muito torto, eu sei, muitos desmantelos desse governo interino que atenta, a cada dia, contra a maioria dos programas de inclusão, de alfabetização de adultos, de direitos humanos; ou seja, um governo que vai contra qualquer programa que plante alguma melhora na justiça e na cidadania numa sociedade cruelmente desigual. Uma política de olhar eminentemente neoliberal tende a excluir do projeto de desenvolvimento sua gente pobre.

Temos que lembrar que é muito recente a legislação do trabalho da empregada doméstica, por exemplo. Nosso modelo é a escravidão e eu temo aquele que governar para os privilégios. Já disse aqui, não quero ter razão, quero, como todos, um país melhor e igualdade de oportunidades para todos.

Uma criança não pode valer menos porque é pobre, porque é negra, porque é deficiente, porque é mulher, porque é gay... ai, ai! o mundo todo está doido também. Forças conservadoras ameaçam a Europa, ganham voz em países muito desenvolvidos, o que será que isto quer dizer? Há uma coisa muito certa: sem uma cultura de paz nos destruiremos e isso eu acho que a indústria das armas não pensa, pois se todo mundo se matar, quem vai sobrar para comprar? 

Bem, muitas coisas estão acontecendo no Brasil, em Istambul, aeroporto em que passei quando fui filmar no Líbano e naquela Turquia linda. Mas há muita gente atenta, lutando todos os dias para que vença a amorosa convivência, a cordial convivência. Entre seres inteligentes que têm a palavra como excelente mediadora de conflitos. Como diz Hilda Hilst: Não há metal que cave mais fundo do que a pá da palavra.