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Jucema Gomes, Marcos Fioravanti e Sheyla Henry fazem parte do projeto musical

Foto: Douglas Macedo

É preciso socializar. O idoso deve se sentir inserido em um ambiente social, seja exercendo seus direitos e deveres, seja em atividades que têm o simples objetivo de fazer bem, tanto para a saúde, quanto para a mente. Criado pelo percussionista niteroiense Tadeu Campany, o projeto musical Rio Pandeiro tem se mostrado uma espécie de válvula de escape para um significativo grupo de idosos da cidade. 

Com atividades há quase três anos em Niterói, o curso de percussão tem como foco a variedade de ritmos regionais que a cultura popular brasileira oferece e possui uma didática nas aulas na qual permite que qualquer pessoa, mesmo quem nunca tocou nenhum instrumento, consiga aprender. O seu trabalho é estruturado em pesquisa das tradições populares no Brasil, onde o pandeiro e os tambores têm papel fundamental e são protagonistas.

“Podemos dizer que, a partir dos 16 anos, a oficina que ministramos é para todas as idades. O surgimento de idosos no curso acontece de forma natural. É assim desde o início do projeto, por um motivo muito simples: a música não escolhe idade, pelo contrário, ela revela a nossa juventude incorrigível! Como bem disse Nelson Rodrigues: ‘O adulto não existe. O homem é o menino perene’”, afirma Tadeu.
 
Para o percussionista, é fundamental que o idoso se sinta inserido na aula e no grupo como um tudo. Ele garante que não existe tratamento e ensinamento diferente com os idosos, que todos recebem o mesmo tipo de informação, pelo mesmo método.

“Quando uma pessoa começa a participar do curso e percebe que, além de conseguir tocar um instrumento, recebe o mesmo nível de instrução e exigência que um colega de turma 40 anos mais novo, vê-se completamente conectada ao assunto, à turma, à música, à experiência empírica concreta. Ou seja, a idade passa a ser um mero detalhe. Nesse sentido, nada mais jovem. Sem dúvida, o principal benefício do Rio Pandeiro é a conexão dos participantes à cultura popular. É o eixo de todo o projeto”, conta.

Uma das alunas, a dona de casa Jucema Gomes, de 62 anos, já havia estudado música antes e decidiu se aprofundar em um instrumento como uma atividade para ocupar a mente. Foi quando o Rio Pandeiro entrou em sua vida.

“Conheci o Rio Pandeiro no Campo de São Bento, enquanto alguns membros estavam fazendo um ensaio aberto e me interessei. Logo procurei uma das responsáveis pelo projeto e perguntei como fazia para participar. No primeiro ano que tentei, não consegui vaga, mas, no ano seguinte, consegui entrar no grupo”, relembra Jucema.

Desde que entrou, Jucema associa diretamente os exercícios com sua saúde. A dona de casa acredita que as aulas proporcionam uma atividade terapêutica para todos que participam.

“A minha coordenação motora melhorou bastante, mesmo não tendo nenhum problema grave. Tive melhora na minha memória, já que fazemos um trabalho de exercício mental guardando a partitura, além de trazer muita alegria para nossa vida. Eu indico sempre o projeto para todos, não só meus amigos da terceira idade, como também os jovens. A música é boa para nossa alma. E essa experiência acalenta meu coração”, conta.  

Há um ano nas aulas, Sheyla Henry de Almeida Cunha, de 66 anos, acaba de ser formar na turma de pandeiro. Durante as aulas, a dona de casa pratica, além do pandeiro, tam-tam e alfaia. 

“Sempre gostei de percussão em geral, mas o pandeiro foi um presente na minha vida. Sempre tive contato com a música, e já tinha feito um curso de teclado”, diz.

Frequentadora assídua de roda de samba, Sheyla passou a observar mais o som da percussão e o interesse em aprender ficou ainda mais acentuado. Até que recebeu um convite que mudaria seu jeito de ver a vida.

“Fiquei sabendo do Rio Pandeiro através de uma amiga que já frequentava o curso, a Maria Luiza Ortiz. Ela me falou sobre as aulas e eu me encantei na hora com o projeto. A união do grupo, o compromisso de todos os alunos é gratificante. O Rio Pandeiro é uma família. Eu sou cardiopata grave, tenho duas próteses mecânicas no coração. E para participar das aulas é preciso bastante disposição. Pra mim a aula é uma verdadeira terapia, a música em si já é uma terapia. Fazer parte desse grupo é uma bênção, um aprendizado incrível, porque temos um mestre maravilhoso, que nos cobra muita dedicação e amor. O projeto restaura a energia do idoso, põe ele no convívio social”, afirma Sheyla. 

O advogado Marcos Fioravanti, de 72 anos, conheceu o projeto através de alguns amigos e pacientes que atende como psicoterapeuta geriátrico, em instituições de idosos em Niterói. Os elogios e incentivos fizeram com que Marcos se matriculasse nas aulas. A música faz parte da vida do advogado desde criança, quando fez parte da primeira turma de alunos do Instituto Abel, nos anos 50, onde aprendeu a lidar e admirar os instrumentos de percussão. 

“Agregado a outras iniciativas terapêuticas, o Rio Pandeiro vem proporcionando excelentes benefícios na manutenção de meu sistema imunológico. O projeto proporciona a todos os seus alunos momentos de relaxamento, superação de angústias, tensões, fobias e estresses. Liberta expressões de sentimentos e faz explodir alegrias vividas durante as aulas, integrando seus alunos e fortalecendo laços de convivência e companheirismo”, diz Marcos.