“Começa pelo todo. Não sei. Pelo nada. Sei lá. Estava te olhando aqui em silêncio, nós dois em silêncio, mas não aquele vazio mudo e chato onde os casais olham para os seus celulares, relógios e quadros nas paredes como se buscassem refúgios fora daquela cena calada ali. A gente, não. Nosso silêncio é de quem tem mil coisas a falar, mas não sabe como iniciar a frase. Por medo, por culpa dos exageros, pela autossabotagem – daquelas que o Gay Hendricks fala em seu livro. A gente nunca acha que merece viver algo tão gostoso e fica com medo, se tranca em silêncio e estamos aqui: bocas cerradas, mas olhos gritantes.
Juro. Jura? Não. Tá.
Começo por onde? Pelo todo. Que todo? Sei lá, o todo que você quiser. Eu não sei falar sobre o todo, não sou como você, que tem na cabeça um caminho completo com começo, meio e fim. E como você é? Eu sou labirinto. Eu posso tentar chegar ao fim. Você deve se perder. Eu devo me encontrar. Você não sabe nada sobre mim. Você não sabe nada sobre mim, também, e não saber sobre você, nem saber sobre mim, talvez, seja o que nos dá vontade de saber mais e, quem sabe, assim num dia qualquer e banal, num papo besta, a gente perceba que, enfim, alguém no mundo foi capaz de saber quem somos. Você fala muito e eu não entendo nada que você quer dizer. Eu só disse que quero entrar no teu labirinto. Sério? Sério. Jura? Não. Tá.
E agora, a gente faz o quê? Não sei, não é uma dança. Eu não sei dançar. Alguém sabe? Eles sabem. Eles inventam seus passos. A gente inventa o nosso? Você quer tentar? Quero. Você já sabe o que quer. Não coloque frases para isso que eu me perco. Me dá a mão, cola a bochecha na minha, faz tua alma saltar pra cá. Sério? Sério. Jura? Não. Tá.
Pronto. Pronto o quê? Tô aqui. Tô vendo. Não, aqui mesmo. Eu tô vendo você aqui. Você não entende nada sobre estar. Como assim? Eu tô aqui. Eu já disse que estou vendo, oras. Cala a boca, eu sou sensível. Isso é uma música do Phill Veras. Você conhece ele? Já fui num show lindo dele. Me leva? No show? Não, na vida. Sério? Sério. Jura? Não. Tá.
Não prometo não prometer
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