O Dylan, não o Marley

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Era como te dizer ou te cantar, assim, na cara, loucamente as palavras do Caio imitando a rouquidão do Bob. O Dylan, não o Marley. Embora você diga preferir o Marley porque dá pra dançar mais devagar. Eu-não-sei-dançar-tão-devagar-pra-te-acompanhar, eu digo, quase cantando, e você rebate em ritmo só teu aquela parte do: tudo-que-eu-posso-te-oferecer-é-solidão-com-vista-pro-mar. Somos bons covers da Marina Lima. Somos bons covers de nós mesmos, na verdade, e eu só te digo que não vou esperar pelo seu amor em vão, mas você não entende, diz que não pegou a referência em português de uma música em inglês, num tom de quem é quase bilíngue e eu só queria mesmo que você entendesse qualquer um dos meus idiomas ou formas de falar para você aparecer ou deixar que eu apareça, agora e no dia seguinte. Talvez no próximo dia, também, sei lá, vai que você queira ir numa exposição e pense que eu possa gostar de algo. Vou até bancar o intelectual e falar dos artistas que conheço, embora sejam poucos – bem poucos – mas parecerá que entendo do assunto como quem estuda para um trabalho específico na faculdade e torce de coração apertado para ninguém fazer perguntas que fujam dos textos que aprendeu no Wikipédia.

Estava perto de você como quem está morrendo de fome, em frente a um prato de pizza – calabresa, sem catchup, sou carioca, mas jogo limpo – mas o mundo inteiro do meu interior faz grave greve, costura meus lábios feito tricoteiras sábias do Nordeste, bonitas, mas que não me permitem dizer nada além do comum oi-como-vai-eu-vou-bem-que-bom-que-você-também. Canto músicas do Cícero em minha cabeça enquanto você fecha a cara como um muro grande e cinza esperando meus olhos te colorirem como grafiteiros da meia-noite, anti-Dória, sem rumos políticos ou coisa assim. 

O amor quer que eu seja rebelde. O desamor me faz ser careta. No meio disso tem eu: um completo vazio recheado de dúvidas sobre o futuro, tristezas do passado e uma vaga esperança de que agora é a minha vez de ser feliz.

Que fique claro que você não tem muita coisa a ver com isso.

Eu só estava divagando em frente ao mar. Mas sem mergulhar. Sem me orgulhar. Apenas no ainda.