O irmão do Jorel

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"Acho que tem muito de cada um de nós no irmão do Jorel (...) Ele dialoga tanto com uma criança de 8 anos quanto com um adulto de 40 ou 70 anos, seja do Brasil, do México, Argentina, Somália, Finlândia ou Papua Nova Guiné"

Marcelo Feitosa
 

No ano de 2014, o mundo da animação ganhava um protagonista sem nome, de olhos esbugalhados, mas com muito carisma. Criada por Juliano Enrico, “Irmão do Jorel” é a primeira série de animação original do Cartoon Network feita no Brasil e na América Latina. Devido ao grande sucesso, o desenho também já é conhecido e transmitido fora do País. A história, cheia de humor ácido, foi adaptada ao universo infantil e virou uma série que é febre no canal. A animação ganhou o prêmio de melhor roteiro infantojuvenil do Festival Internacional de Televisão e já é um dos programas de maior repercussão do canal. Conheça Andrei Duarte, o niteroiense dublador do desenho.

Como começou a sua carreira no mundo da animação?

Desde pequeno, sou fascinado por desenhos animados. Mas não levava muito a sério, já que meu sonho era ser caminhoneiro e não animador. Em 2008, vi um anúncio de uma pós-graduação em animação na PUC-Rio e resolvi me matricular e, para a minha sorte, dois dos professores eram os diretores do Anima Mundi, o César Coelho e a Aída Queiroz. Ambos curtiram muito os meus trabalhos e, então, me chamaram para fazer freelas no estúdio deles, a Campo 4 Desenhos Animados. Lá, eles me ensinaram tudo o que eu sei sobre desenho animado, e eu tive contato com a animação tradicional, feita com papel e mesa de luz, que, a meu ver, é a melhor maneira de se aprender animação. Um dos profissionais que lá trabalhavam e que também foi meu professor na pós-graduação, o Marcelo Marão, me convidou para participar de um filme dele chamado “EngoleLogoUmaJacaEntao” da série “Engolervilha”. Cada animador convidado tinha que fazer uma vinheta animada de no mínimo 30 segundos. O pré-requisito era: a temática tinha que ser bizarra, mas não necessariamente escatológica, e eu claro que eu fui para a escatologia. 

Como o desenho “Irmão do Jorel” surgiu na sua vida?

O pessoal do Copa Studio achou meu traço parecido com o do Juliano, o criador do “Irmão do Jorel”. Até então, o desenho só existia no papel, não havia nada animado ainda. O projeto estava começando a ganhar forma e tudo que eu sabia a respeito era que seria produzido no Copa Studio e que seria veiculado no Cartoon Network. Meu nome foi cotado para ser o diretor de animação do “Irmão do Jorel” quando começasse a ser produzido. Só que um dos sócios do Studio propôs que eu fosse o diretor de arte ao invés de ser o diretor de animação. Quando eu soube, não curti muito a ideia, porque eu estava muito na pilha de animar. Com o tempo, me passaram para conceituar os cenários e, então, passei a ser o desenhista de locação da série.

Quais são suas funções no desenho?

No “Irmão do Jorel”, sou o desenhista e designer de locação, ilustrador, artista de conceitos, ou seja, crio do zero os cenários da série. Conceituo cada locação onde as cenas acontecem, mostrando um plano geral e apontando como devem ser o estilo, o traço e os tratamentos gráficos a serem utilizados. É o meu traço e a minha ideia que devem ser reproduzidos pelos outros ilustradores da equipe de arte de acordo com o que cada cena pede. Crio uma visão geral de como é um determinado ambiente para que a equipe reproduza em outros ângulos ou faça recortes de determinados setores de um cenário. Além de criar os cenários, também sou o ator de voz que interpreta os personagens Irmão do Jorel, Beto Cachinhos e Rambozo.

Que análise você faria do personagem Irmão do Jorel?

Ele é uma criança que está aprendendo a lidar com os primeiros obstáculos da vida, enquanto busca uma identidade própria sendo irmão da lenda que é o Jorel. Acho que tem muito de cada um de nós no irmão do Jorel, e é legal o fato da gente não saber o nome dele porque muitas pessoas realmente se veem nele. Ele dialoga tanto com uma criança de 8 anos quanto com um adulto de 40 ou 70 anos, seja do Brasil, do México, Argentina, Somália, Finlândia ou Papua Nova Guiné. Muitas referências da minha geração (fui criança nos anos 1980) estão ali, tanto no universo, quanto na persona irmão do Jorel. Me identifiquei de cara com o personagem e muitos amigos meus se identificam também.