Paixão pelo palco

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João Fraga é conhecido pelo cuidado na formatação dos espetáculos, sobretudo aqueles voltados ao público infantil

Foto: Divulgação/ Estúdio JB Comunicação e Produção

Como você começou na área artística e cultural?

Comecei a atuar com 17 anos quando me mudei para Niterói porque vim do interior para poder estudar. Fiquei dos 17 aos 24 somente atuando. A partir daí, comecei a conciliar as duas coisas (atuar e produzir). Acaba que uma coisa puxa a outra nesse meio. Hoje em dia está tudo mais organizado do que antigamente. Eu sempre fui muito organizado nesse sentido.

Como você vê a cena teatral em Niterói? Houve um crescimento? 

Na verdade, tem tido, sim, uma procura pelos espetáculos. Inclusive, eu estava para trazer agora um espetáculo de São Paulo, mas não consegui fechar com eles porque eu estava com outras coisas agendadas. Hoje em dia as produções estão bem interessadas em Niterói. E um movimento muito legal também vem acontecendo, e a gente tem que prestar muita atenção nisso: Niterói também tem produzido grandes coisas e bons espetáculos. Tem saído da própria cidade e ido para outros lugares.

Você falou que vem acompanhando um interesse maior por Niterói...

Sim, as produções de fora pela nossa cidade; e Niterói também produzindo muita coisa boa que está indo para fora. O que também é bom para essa visibilidade, porque, quando as produções olham à cidade, essas coisas que a gente produz, eles pensam algo como “poxa, essas pessoas sabem do que estão falando”. Tem um público que consome e, além disso, os próprios produtores, quando trazem os espetáculos, mostram como é que funciona e as produções se interessam porque nós temos um movimento de teatro que vem ficando bem interessante, com grandes produções.

Como você vê a qualidade das peças?

Isso varia muito, infelizmente, porque muitos projetos não são nem patrocinados e muitos também são feitos por pessoas que, infelizmente, não levam o teatro a sério. E, sim, como uma forma de ganhar uma “merreca”, um dinheiro. Porque eu me preocupo com isso, de fazer coisas de qualidade, que respeitem o público e que não o subestimem. Mas, infelizmente, nem todo muito pensa assim e eu não posso me responsabilizar e te dizer que é generalizado, porque eu sei que não é. Mas tem muita gente séria, sim, e eu, pelo menos, procuro observar bastante a qualidade do trabalho para poder trazer para cá ou para levar para algum lugar. Senão, eu prefiro não trazer, porque a minha profissão é feita muito por nome e eu ainda estou construindo o meu.

Como é que você vê as peças infantis que estão vindo a Niterói?

Tem muita coisa boa na praça. Niterói está se destacando muito no cenário de produções de espetáculos infantis. A peça do “Pinóquio” é um bom exemplo disso, porque, junto com a produtora responsável, para quem eu trabalhei em Niterói como ator e produtor, a gente teve um cuidado de ir para a Itália para pesquisar a questão da manipulação de bonecos, a cidade onde se passou a história, de como eram as fabriquetas de marionetes antigamente e coisas do universo de décadas atrás que a gente pudesse mergulhar e compreender melhor. Inclusive, a história real é a de um menino de madeira mesmo, que não falava, o texto original não tem falas. É de madeira do início ao fim. Tudo isso a gente conseguiu trazer através de pesquisa. A gente conseguiu trazer um projeto de bastante qualidade.  

Você sente diferença na produção de uma peça infantil para uma peça adulta?

Existem produções que não têm cuidado, não têm preocupação e acabam dando para as crianças, para o seu público, uma produção malfeita, mal-acabada, mal construída, com um texto que não é legal. Por outro lado, existem produções muito boas, que não subestimam a inteligência da criança, que utilizam materiais de qualidade, que têm um roteiro que se preocupam com o entendimento da criança no sentido real e não no sentido de querer simplesmente lucrar com aquilo. Não há diferença entre as produções. É claro que a gente está falando para públicos diferentes e a gente tem que respeitar a “cabecinha” de cada público. Tem que respeitar a “cabecinha” e o entendimento de uma criança levando para eles de uma forma que eles entendam, e sem “nhem-nhem-nhem” e “mimimi”, porque, hoje em dia, a criança pequenininha já entende uma linguagem mais madura.

Qual a razão desse entendimento mais precoce?

Acredito que, por conta da internet, isso tem acontecido de uns anos para cá. A velocidade das coisas mudou muito também. Os textos mais antigamente, isso para o teatro adulto e infantil, eram arrastados e não eram dinâmicos. Hoje em dia são dinâmicos, com uma linguagem rápida, uma piada inteligente. São coisas que a internet trouxe tanto para a criança, quanto para os adultos. Mas o adulto já tem um discernimento melhor, nem que seja daqui a meia hora, ele vai entender a piada. Mas a criança, muitas vezes, não tinha isso. Hoje em dia, a internet é tão rápida, trouxe essa velocidade tão grande para todo mundo, independentemente de idade, que a gente já pode ter o conforto e a segurança de ter um texto que não seja desenhado porque criança entende. Isso é não subestimar a inteligência dos pequenos. Isso é tratá-los como criança. 

Há um público que ainda precisa ser cativado para o teatro?

Sim, tem muita gente que ainda não vai ao teatro. Um dos grandes prazeres que eu tenho na minha vida como ator, como produtor, é poder te dizer seguramente que eu já levei muita gente pela primeira vez ao teatro. Muita gente que não tem o hábito de consumir teatro, o que é uma pena, porque é um outro contexto, é uma outra linguagem, diferente da televisão e do cinema, mas que agrada tanto quanto, ou mais, dependendo do ponto de vista que você estiver analisando. 

Você saberia apontar uma causa desse desinteresse de alguns em relação ao teatro?

Eu acho que isso acontece por uma falta de oportunidade ou de conhecimento ou de incentivo mesmo. O Teatro Popular é um teatro que tem uma cota de convites para projetos sociais e para escolas públicas. A gente faz esse trabalho, mas, muitas vezes, a adesão não é o que a gente gostaria que fosse porque não depende só da gente disponibilizar cotas. Deveria haver um esforço político maior, uma atenção maior para as escolas, principalmente as escolas públicas, onde as pessoas têm menos condições financeiras de custear o ingresso de teatro, por mais que o Teatro Popular tenha um valor muito popular. Há que se ter uma atenção política voltada para essas pessoas.