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Otto defende a prática da pesca, ainda que a atividade possa colocar em xeque a vida dos competidores e faz questão de mostrar o lado solidário: parte dos peixes são doados para instituições de caridade
Foto: Lucas Benevides
Boia de sinalização, máscara, faca, roupa isotérmica, respirador, cinto de lastro, armas e arpões. Reunir esses equipamentos é o primeiro passo para praticar a pesca submarina. O segundo é aliá-los à coragem, paciência e resistência. Foi com todos esses predicados que Otto Magalhães entrou no mar pela primeira vez, aos 13 anos, para exercer a atividade que se confundiria com a sua própria vida. Hoje, com 39 anos, ele ocupa o tempo com o fornecimento de atum para restaurantes japoneses e a disputa de campeonatos nacionais e estaduais.
Campeão brasileiro por equipes em duas oportunidades, Otto cresceu na colônia de pescadores em Jurujuba, e via todo mundo pescando. “Vi um amigo que foi um grande pescador e, com isso, vi grandes peixarias como a do Marçal (Melo de Albuquerque), que foi campeão brasileiro, e com ele aprendi muitas coisas. Através dele que tudo começou e eu despertei esse lado de querer praticar a pesca submarina”, conta.
Otto lembra que no início era complicado porque todo mundo ficava preocupado com ele, ainda garoto, querendo ir pescar sozinho. Agora, muito mais experiente, o comerciante dá dicas e lembra com humor das situações de perigo vivenciadas ao longo da empreitada.
“Fui parar no pronto-socorro umas três ou quatro vezes com ouriço. A gente acaba se espetando nele e é complicado”, diz ele, que desvenda os “segredos” para uma boa performance. “O grande lance da pesca submarina é ter conhecimento e autocontrole do seu corpo. E tudo está na respiração. Você tem que fazer uma respiração lenta e profunda para iniciar a descida de uma forma bem relaxada para poder chegar no fundo o mais inteiro possível, sem gastar energia. Eu consigo chegar no fundo em um minuto e 50 segundos. Pesco hoje, a 20, 25 metros de profundidade”, afirma.
Entre os relatos de Otto, um se destaca pela bravura e competência do niteroiense. E não é apenas mais uma “história de pescador”. “Já salvei um amigo. Dei um tiro numa garoupa, a 23 metros. Pedi para que ele não fizesse força, mas ele fez. Só que, no dia, graças a Deus, a água era clara e eu estava em cima do local. Vi meu amigo desmaiando. Foi um moleque que eu vi crescer, podia vir com ele morto dentro do carro”, recorda Otto, que revela ter perdido um amigo de 53 anos na trajetória.
A atividade (também conhecida como caça submarina) exige materiais de primeira qualidade para evitar surpresas desagradáveis. Por isso, é necessário investir na segurança e no conforto dentro d’água, com roupas e acessórios adequados. Nas competições, as provas costumam durar cinco horas, iniciando pela manhã. A pontuação é por peso e não importa a espécie capturada.
Ilha Redonda, Arquipélago das Tijucas, Ilhas Maricás, Saquarema e Ponta Negra são os locais de referência indicados pelo especialista. Embora tenha debutado um pouco antes, Otto considera que 15 anos é a idade ideal para começar a ter contato com o “mundo marítimo”. Porém, acredita que não há limite de tempo para a jornada.
“Tenho amigos veteranos, de 60, 65 anos, que competem comigo. Acho isso o maior barato. É um esporte que vende saúde. Se você estiver dentro d’água frequentemente, levando uma vida sem beber e sem fumar, irá competir até 70 anos”, argumenta.
Grato a Fernando Almeida e José Carlos Rollemberg (comodoro e vice-comodoro, respectivamente), pela oportunidade de treinar atualmente no Clube Naval Charitas, Otto defende a prática da pesca, ainda que a atividade possa colocar em xeque a vida dos competidores. Além disso, faz questão de mostrar o lado solidário do ramo:
“A caça submarina é uma pesca seletiva e tem os seus riscos, mas todos os outros esportes têm também. Então, você tem que saber os seus limites. Parte dos peixes que pegamos, a gente doa para instituições de caridade. A Federação está sempre preocupada em ajudar de alguma forma. Sempre tiramos um pouco para comermos e o restante doamos”, explica Otto.
Pesca seletiva
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