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Daniela Moraschini teve a certeza de que a escola por onde passou na sua infância era a melhor opção para a educação de seus filhos Gabriella e Pedro

Foto: Lucas Benevides

O fim do ano começa a se aproximar e, para muitos pais, já é hora de pensar nos rumos da educação de seus filhos para 2019. Alguns vão ingressar pela primeira vez no ambiente escolar, outros vão mudar de turno e tem ainda aqueles que vão mudar de escola. Um passo decisivo, que exige dos pais responsabilidade e preparo. Para os especialistas, essa é uma decisão que começa por uma boa análise do projeto pedagógico, mas também passa pelas estruturas físicas e pelo acolhimento das instituições escolares. Todos os profissionais concordam em um aspecto: a escolha da escola deve partir dos objetivos e valores das famílias.

Escolher uma escola para o filho, independente da fase escolar, não é tarefa fácil. Cada instituição tem seu jeito, seu projeto. São muitas opções só aqui em Niterói. Fora isso, também vivemos em um tempo em que também há instituições que possuem apenas soluções que atendem apenas o mercado, a despeito da educação, como ressalta o diretor do Colégio La Salle Abel, Marcelo Adriano Piantkoski.

“Tanto a família quanto o estudante precisam se sentir seguros quanto à instituição de ensino escolhida. Seguros contra as intempéries climáticas, seguros na entrada, na saída e no horário de aula. Seguros no modo como as relações serão estabelecidas, mantidas e lembradas. Algumas escolas já têm uma história consolidada em várias décadas de existência, e trazem consigo a marca da tradição”, destaca Piantkoski, que ressalta aspectos importantes que, segundo ele, uma instituição deve ter: solidez, carinho e perspectiva. “Talvez fosse esperado que eu falasse sobre salas de aulas confortáveis, coloridas, com ar-condicionado, internet e quadros interativos. Ou mesmo citar quadras poliesportivas, ambientes equipados com o que for necessário para arte, para a ciência, para a reflexão, para o esporte, para a espiritualidade. Temos ambientes de ponta e os equipamentos mais modernos, mas, sobretudo, oferecemos um clima em que nossos alunos, professores, colaboradores e famílias se sintam confiantes”.

Acima de qualquer infraestrutura, Marcelo acredita que todos precisamos de carinho no que considera um mundo cada vez mais hostil. Segundo ele, mais do que objetivo, um escola precisa ensinar seus alunos a terem perspectiva, ou, como ele mesmo define: plantar, colher, desfrutar e replantar em um processo contínuo e ininterrupto.


Luciana e Paulo César apostaram no tratamento afetuoso que seu filho Henrique recebe na escola

Foto: Lucas Benevides

“A escola não prepara para a vida, porque a vida não está fora da nossa escola, mas dentro dela. Ela instrumentaliza com estratégias para o que vier a surgir. O maior erro dos pais na escolha de uma escola privada para seus filhos é confundir formação com status social. Nesse ponto, estão as opções que visam ao valor da mensalidade, o que nada tem a ver com excelência em educação. Outro erro grave é o foco no acesso ao ensino superior. Toda escola se orgulha dos seus ex-alunos que obtêm os melhores resultados nos processos seletivos, sejam eles quais forem. Mas as escolas verdadeiras sabem que a educação vai muito além de um resultado em alguma avaliação”, defende Adriano.

O desejo dos filhos em permanecerem na escola mesmo nos fins de semana foi a observação feita pela diretora de museu Daniela Magalhães Moraschini, de 36 anos, que teve a certeza de que sua escolha foi acertada para a educação dos filhos Gabriella (8 anos), aluna do terceiro ano fundamental do La Salle Abel, e Pedro (5), aluno do pré-infantil.

“Por ser uma ex-aluna, foi minha opção desde o início para minha filha mais velha. Assim que soube que abririam educação infantil, também matriculei meu caçula lá. Os valores que são transmitidos às crianças, o senso de coletividade, a importância que dão à relação da família, em seus mais diversos perfis, são os pontos fortes, que valorizo na escola”, destaca Daniela, que acredita que a instituição deve oferecer as ferramentas que possam auxiliar as famílias no processo de formação. “Sei que, de lá, eles também levarão as melhores recordações da melhor fase da vida deles, como eu tenho até hoje. Sem falar que também tenho um enorme orgulho de ter meus filhos estudando na escola que fez parte de toda a minha formação”, admite. 

A escola deve, em primeiro lugar, oferecer acolhimento, observando a felicidade e a integração das crianças, sempre em um espaço que garanta a sua integridade, defende a diretora do Cirandinha Creche Escola, Marilza Monnerat, a “Tia Marilza”.  

“Caso a escola não tenha um olhar afetuoso e individual sobre a história da criança, valorizando o seu bem-estar e autoestima, possivelmente todo o seu desenvolvimento ficará comprometido. Fora isso, investimentos em salas adequadas e espaço físico favorável ao aprendizado cognitivo também é fundamental”, afirma a diretora.

O importante é optar por uma escola cujos princípios educacionais estejam de acordo com os objetivos da família. Para Monnerat, os pais erram quando escolhem por aparência e não pela metodologia e filosofia.

“Escola e família devem ser parceiras e caminhar sempre juntas. Costumo dizer aos pais durante as visitas: ‘Escolha a escola que o seu coração bater mais forte’”, aconselha Tia Marilza. 

Através de indicação de amigos e familiares, a servidora pública Luciana Rocha Sant’Anna (35 anos) conseguiu identificar as melhores opções de escola para seus filhos Gabriela (3) e Henrique (1), mas foi o carinho o fator decisivo para confiar a educação dos pequenos.

“Achei a escola muito alegre e acredito que esse tratamento afetuoso proporciona equilíbrio emocional para meus filhos. Sem contar o tipo de trabalho de desenvolvimento lógico e cognitivo que oferecem, que também foi um fator importante para minha escolha”, revela Luciana. 

Essa é uma avaliação que deve ser feita principalmente observando comportamento social e o desenvolvimento cognitivo das crianças que estudam no local, complementa o engenheiro mecânico Paulo César Pereira de Oliveira (35), marido de Luciana.

“Eu aconselharia que os pais visitassem a escola para conhecer as instalações, a proposta pedagógica, podendo observar o comportamento das crianças que já são alunas da instituição. No nosso caso, estamos muito satisfeitos com a escolha. É uma escola do coração”, declara.

A observação traz questionamentos mais profundos como “O que você busca para o seu filho?”, “Essa proposta combina com o perfil do seu filho?”. Perguntas suscitadas por Marcel Lima, diretor-geral do Colégio pH.


Para Rachel Tinoco, mãe de Helena, uma educação focada no desempenho foi a escolha ideal para a filha

Foto: Lucas Benevides


“Entendemos que o mundo de hoje – plural, digital, interligado – precisa de pessoas capazes de agir e interagir de maneira rápida, flexível e consciente. Estamos atentos a esse movimento e procurando garantir que o aluno ou a aluna seja respeitado nas suas escolhas e no seu modo de ser. Nossa proposta pedagógica une resultados de alto desempenho acadêmico com sensibilidade para desenvolver as habilidades socioemocionais dos alunos”, afirma Marcel. 

A ausência de um ambiente ético e de diálogo aberto para desenvolver as habilidades do século XXI, tais como comunicação e colaboração, são exemplos de fatores que podem comprometer a educação do jovem de hoje, afirma Lima.  

“Atualmente, há uma conscientização sobre o número adequado de alunos por turma e a questão das vagas é uma realidade. Por isso, na hora de escolher, demorar demais para tomar uma decisão e acabar não tendo a opção de escolha por falta de vagas pode ser muito frustrante. Outro ponto importante é tentar não criar expectativas falsas sobre a escola. Para isso, é preciso estar realmente ciente e alinhado à proposta pedagógica oferecida”, destaca o diretor. 

Combinar o perfil da escola ao perfil da filha foi o critério adotado pela professora universitária Rachel Tinoco (40), mãe da Helena (11), aluna do 5º ano do ensino médio. 

“Algumas escolas valorizam o estímulo à criatividade, ao esporte ou à religião, mas eu buscava uma escola que privilegiasse o conteúdo e a formação do aluno até a preparação para o ensino superior. Conversei com a direção e achei o projeto pedagógico excelente”, lembra Rachel, que chama a atenção para a metodologia de exercícios semanais, em forma de estudo dirigido, que, segundo ela, mantém o aluno alinhado com o conteúdo ministrado. “O estudo dirigido se completa com testes não agendados, que funcionam não para intimidar, mas para tornar as avaliações absolutamente naturais e familiares desde a infância. Isso certamente terá reflexo no futuro, não só no ingresso ao ensino superior, mas para toda a vida profissional da minha filha”. 

Conversar sobre o conteúdo e o projeto pedagógico, buscar informações com pais de alunos e, depois do ingresso, acompanhar atentamente a adaptação da criança foram as soluções encontradas por Rachel para fazer sua escolha.

“Alguns alunos que se adequam muito bem ao ritmo e à proposta de uma determinada escola podem não se desenvolver bem em outra e vice-versa. Analisando o conteúdo que é ensinado à minha filha, no 5º ano, vejo que ela estuda assuntos que eu não aprendi até a 7ª ou 8ª série. Ela também chega da escola contando com entusiasmo o que aprendeu”, revela a professora.

Antes de tudo, os pais precisam saber exatamente o que esperam da escola. Cada família tem aspectos distintos a considerar e fazer uma lista com o que consideram mais importante e fundamental. Para Rodrigo Mendes Sampaio – diretor da Babylândia e Atuação Escola Bilíngue – encontrar a escola certa pode acontecer logo de cara para uns, e demandar tempo e pesquisa para outros.

“Assim como em qualquer outra área, o ramo da educação também passa por períodos de ‘modismos’, com teorias pedagógicas sendo alavancadas e disseminadas sem o devido cuidado e aprofundamento. Obviamente, os resultados disso podem ter o efeito inverso ao esperado, trazendo prejuízos a toda comunidade escolar”, pontua Sampaio, destacando a importância de se visitar o maior número possível de escolas, de preferência com o futuro aluno, que é quem vai passar boa parte do tempo no lugar. Segundo Mendes, essas visitas vão permitir entender as diferenças entre as instituições.

Por fim, a melhor fonte para dar informações são pais que já tiveram filhos na escola. Não há uma fórmula infalível. A escolha da escola certa depende de uma série de fatores, que devem ser combinados.


O casal Silvia Pereira e José Carlos de Abreu já teve a oportunidade de conferir a qualidade da educação oferecida a seus filhos Gabriel e Vinícius

Foto: Lucas Benevides

“Além de muitas características importantes, não devemos esquecer que a escola precisa ser legalizada e autorizada pela Secretaria de Educação, inclusive com autorizações específicas, como no caso das escolas bilíngues”, alerta Rodrigo.

A decisão de colocar os filhos numa escola surgiu com o nascimento do segundo filho do casal – a assistente social Silvia de Souza Pereira (53) e o assistente administrativo José Carlos de Abreu Antunes (56). Na época, após uma reflexão, juntos, chegaram à conclusão de que os irmãos Vinícius (16) e Gabriel (12) deveriam ter uma rotina de socialização com outras crianças ao invés de conviver apenas com adultos da família. 

“O atendimento foi determinante. A escola escolhida foi justamente a que ouviu atenciosamente os nossos anseios e preocupações com os cuidados para com nossos ‘tesouros’. Que, de forma bastante simples e objetiva, nos transmitiu segurança de que daria conta dos cuidados necessários, além de ter como diferencial o ensino bilíngue”, lembra Silvia.
Num mundo globalizado e extremamente competitivo, a confiança na formação oferecida pela escola é de extrema importância. O melhor presente que se pode oferecer para os filhos, segundo Vinícius, é a educação numa escola de excelência, na qual aprendam a conquistar independência e se tornem cidadãos que contribuam para um mundo melhor.  

“Tenho bons exemplos disso. Em um intercâmbio na Universidade de Valência, em Orlando, nos EUA, o idioma inglês aprendido somente na escola bilíngue, sem a necessidade de fazer curso extra em outras instituições de ensino de língua inglesa, permitiu que meus filhos obtivessem excelentes resultados. Outra experiência foi quando eles foram estudar numa escola em Portugal. Fomos chamados para reunião com a diretora de turma para tratar da adaptação. Ficamos apreensivos porque se tratava de uma escola num contexto da Europa, e não sabíamos se eles dariam conta das atividades. Para nossa satisfação, nossos filhos superaram as expectativas”, recorda o pai, orgulhoso.

O que costuma faltar nas escolas e pode comprometer a educação da criança é a infraestrutura física adequada para o estudo, recreação e prática esportiva. Acessibilidade para os indivíduos com algum tipo de deficiência, projeto pedagógico mediador, que contemple atividades diversificadas e proporcionem melhor desenvolvimento afetivo-cognitivo, também são fundamentais, assim como a participação e a colaboração das famílias e a capacidade de trabalhar com as diversidades. A inclusão concreta de alunos deficientes, na proporção adequada de 20% por turma, é um ponto a ser considerado, explica o psiquiatra Jairo Werner, mestre em Educação na UFF e autor do livro “Saúde e Educação: desenvolvimento e aprendizagem do aluno”.

“Os pais esquecem de refletir muito bem sobre que projeto de ser humano estão buscando construir com o apoio da escola. Se querem um filho ou filha mais completo, seguro, criativo, feliz, culto, preparado, equilibrado ou apenas estão preocupados em colocá-lo em escola que vise o sucesso medido por notas. Eles devem buscar sempre o equilíbrio buscando o melhor desenvolvimento afetivo-cognitivo. Para tanto, devem evitar os extremos autoritários ou liberais e não se precipitar em modismos ou propagandas enganosas”, conclui o profissional, que há 30 anos coordena o PROEX-GEAL/UFF, um projeto da psiquiatria infantil da universidade voltado às crianças vítimas do fracasso escolar.