Quem é Baby?

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Baby vive um momento de efervescência profissional, com a retomada da carreira pop. Ela entra em turnê com os Novos Baianos em setembro e está gravando seu próximo álbum de inéditas

Foto: Divulgação

Aos 17, ela saiu pelo mundo ouvindo os “chamados” que sua espiritualidade apontava. E o que parecia uma loucura a levou a escrever de forma definitiva seu nome na história da música brasileira. No dia em que completou 64 anos, a cantora niteroiense Baby do Brasil encontrou a equipe de OFLU Revista para falar de sua trajetória e da recente retomada da carreira. Era uma tarde fria de 18 de julho, agendada depois de alguns desencontros anteriores. Mas, quando tudo parecia perdido, um produtor ligou dizendo que ela fazia questão de falar para sua terra natal.

Assim, finalmente, um carro parou em frente ao local combinado e, saindo dele, o visual exuberante e os cabelos violeta não deixaram dúvidas: Baby havia chegado. A partir disso, tudo mudou. A energia e o carisma da artista pareciam dissolver a rigidez do inverno, aquecendo todos à sua volta. Suas lembranças, muitas de Niterói, fascinaram, e seus planos futuros traziam a certeza de que a artista, que havia feito tanta falta, tinha voltado e estava cheia de novidades.

Filha do jurista Luís Carlos Cidade e da jornalista Carmem Menna Barreto, Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade, nascida em 18 de julho de 1952 em Niterói, já se interessava por cantar e tocar violão, ao mesmo tempo em que vivia as coisas típicas da sua idade. 

“Me lembro que, quando era pequena, tinha uma sorveteria na Rua Mariz e Barros, em Icaraí, que era um sucesso. Meu pai sempre me levava. Dessa época também me lembro da tranquilidade e da areia maravilhosa da Praia de Icaraí, que era cheia de casas. Também lembro que estudei no Pequeno Polegar, ainda bem pequenininha, depois no Santa Bernadete, em Icaraí, e no Nossa Senhora de Assunção, em São Francisco”, recorda a cantora.  

Entretanto, os tempos de uma menina anônima não duraram muito e, ainda em Niterói, a artista começou a ganhar destaque.

“O Clube Central era a grande balada da cidade. Onde tudo bombava. Lá eu dançava muito, com a maior galera. Foi onde eu também tive uma festa linda de 15 anos. Foi lá, também, onde concorri em um festival com o maestro Eduardo Lages. Eu era novinha, cantava no coro dele escondida do meu pai. A canção acabou ganhando o concurso para eleger uma espécie de hino da cidade. Sou superapaixonada por Niterói. Minhas irmãs, Natália e Patricia,  ainda moram na cidade. É o berço de gente bacana como Sérgio Mendes, o baixista Arturzinho Maia, maestro Eduado Lajes, Gerson, jogador de meio-campo, entre tantos talentos. Sempre tenho vontade de ir passear, curtir aquela praias lindas. Uma hora eu consigo. Está nos meus planos fazer um grande evento em Niterói”, adianta a cantora.

Depois de um retorno comemorado com a turnê “A menina ainda dança”, ao lado do filho, o guitarrista Pedro Baby, a cantora agora trabalha em um novo álbum, vai fazer shows com os Novos Baianos e acaba de lançar a música “Se Ligaê”, parceria inédita com Sergio Mendes e Rogério Flausino.

“Os compositores são craques em misturar samba com pop. É uma letra que fala que, com o balanço do nosso suingue, nós podemos contribuir para uma alegria mundial. Fala, também, da música como um dos elementos espirituais para promover alegria, paz e tranquilidade”, filosofa.

A cantora também confirma que está envolvida em um novo trabalho de carreira, que, apesar de adiantado, ainda não tem data para o lançamento. Segundo ela, o formato do novo álbum ainda é um mistério, que, aos poucos, está se revelando.

“Não posso contar tudo porque nem eu mesma tenho todas as respostas. Já tem oito letras prontas, inéditas. Está chegando. É uma surpresa também para mim, porque tenho muitos ritmos no coração. A cara do trabalho precisa de tempo, de deixar amadurecer, para sair da gente a sonoridade definitiva”, adianta.

Garimpando inspirações para o novo trabalho, Baby conta que não tem preocupação com os sucessos do momento.

“De uns seis meses para cá, tenho ouvido demais Simply Red, Tina Turner, Ella Fitzgerald, Beatles, Stevie Wonder. Coisas que eu ouvia antigamente e que voltaram a tocar demais no meu coração. Chego em casa e fico escutando tudo isso sem parar. Adele eu também adoro, porque a gente tem uma coisa parecida da voz berrada e, ao mesmo tempo, com sentimento. Também tem o gospel que eu amo, como David Quinlan, Antonio Cirilo, Michael W Smith e Tom Brooks. E, claro, João Gilberto, Caetano Veloso, Gilberto Gil, João Bosco, Elza Soares, Valdir Azevedo, Ademilde Fonseca, além dos novos talentos como Maria Rita, Adriana Calcanhotto, Tulipa Ruiz, Marisa Monte e Céu. É uma lista que começa e não para mais”, brinca.

Além dos astros internacionais e nacionais, a artista também se confessa uma mãe coruja e não poupa elogios para o trabalho dos filhos.

“Um dos CDs que eu tenho ouvido bastante é o da minha filha Zabelê. Ela tem um estilo supercool e, a mesmo tempo, uma veia pop. O Pedro Baby está gravando um álbum e eu não tenho a menor ideia de como vai ser. Nunca dou palpite no trabalho deles. Também tenho duas filhas que são pastoras. A Sara Sheeva, do culto das princesas, e a Nana Shara, que viaja o mundo pregando com o marido. Ambas cantam maravilhosamente bem e são do gospel. Eu sou a única que faz a ponte para os dois lados. Meu lema é: andando na santidade na Babilônia”, brinca a cantora.

O hiato na carreira de Baby teve uma forte motivação pessoal. Na década de 1990, a cantora se tornou evangélica, direcionando sua produção para o mundo gospel ao mesmo tempo em que se tornou pastora da Igreja Ministério do Espírito Santo de Deus. Foi somente no ano passado que a artista se reencontrou com seu repertório e público.

“Meu filho foi quem me convidou a retomar a carreira. Jejuei, orei e recebi a minha resposta de Deus, e foi sim. Pude, então, fazer aquele trabalho, que me proporcionou um reencontro com o público, que tirou as dúvidas quanto à possibilidade de ser espiritual sem caretices. Gosto de quebrar o paradigma em relação ao Evangelho. Às vezes, você é uma pessoa que tudo que cai na sua mão é para você mostrar um lado diferente, isso acontece muito comigo”, se autodefine.

Diferente do que pode parecer, a retomada da carreira, segundo Baby, faz parte da sua caminhada religiosa.

“Tive um aviso de que ia fazer isso há uns três anos e avisei inclusive à minha igreja. Esse novo trabalho veio depois de uma informação direta de Deus para mim. Eu não esperava, porque também amo estar no meio da congregação, dos louvores e da adoração. É uma coisa que só vivendo para entender”, revela.

O encontro – Foi também no dia de seu aniversário, o de 17, que Baby decidiu que seria uma estrela, fugindo da família com destino a Salvador, onde conheceu seus futuros parceiros do grupo Novos Baianos (Moraes Moreira, Pepeu Gomes – com quem foi casada por 18 anos e pai de seus filhos –, Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Dadi). Algum tempo depois, a banda se mudou para um sítio em Jacarepaguá, no Rio, e passou a trabalhar na criação do disco “Acabou Chorare”, eleito pela revista Rolling Stone Brasil como o maior álbum de música brasileira de todos os tempos. Dezessete anos depois da última reunião completa, o grupo também acaba de se reunir para uma nova turnê.

“Nós vivemos juntos dez anos como verdadeiros irmãos. Eu não lembro um dia que não tenha tocado e cantado junto com eles. Mas passaram os anos, todo mundo teve filhos, e com filho não dava para continuar todo mundo junto. Aí a gente resolveu respeitar isso. A minha escola de música e de vida foi ali. A gente lia a Bíblia direto, quase ninguém sabe disso. Todos os Novos Baianos eram muito espirituais, cada um de um jeito. Uma corrente única, uma vida muito intensa ”, recorda.

A volta dos Novos Baianos, aliás, vai acontecer novamente nos dias 12 e 13 de agosto, em São Paulo, no Citybank Hall, e 2 e 3 de setembro, no Metropolitan, no Rio, e 10 de setembro, no BH Hall, em Belo Horizonte. A intenção, segundo Baby, é também criar um registro desse encontro no mínimo histórico.

Além da volta dos Novos Baianos, Baby se junta com Sérgio Mendes e Rogério Flausino para gravar o single “Seligaê”

Foto: Divulgação

A relevância do trabalho dos Novos Baianos no cenário nacional, segundo a artista, foi fruto de um trabalho sério e árduo, e, ao mesmo tempo, de autoafirmação e busca de algo genuíno.

“A gente se empenhou em fazer um trabalho que ficasse para sempre. Assim como Luiz Gonzaga, Lupicinio Rodrigues, Jackson do Pandeiro, entre tantos outros, a gente estava querendo muito fazer algo de substância. Para isso, resgatamos muita coisa. Bumbo, cavaquinho, bandolim, e fomos colocando dentro de uma sonoridade pop. O que acabou gerando um rock brasileiro, principalmente com ‘Tinindo e trincando’ e com a ‘A menina dança’”, recorda.

Os shows lotados e a agenda cheia mostram que a admiração e o carinho do público não se perderam da artista, mesmo com o período de ausência.

“Eu atribuo isso a meu estilo e minha maneira de ser, que foram se confirmando com o passar dos anos. As pessoas se identificam com minha maneira de pensar, com meu amor à vida. Há uma compreensão sobre o meu estilo porque ele tem um começo e um desenrolar. As pessoas conseguem entrar na minha mente de uma certa maneira. Existe uma coerência que só se conquista com ações. O que você fala tem que ser exatamente o que você vive”, enfatiza.

Vaidade e envelhecimento
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Em plena forma com os recém-completados 64 anos, Baby do Brasil afirma que a juventude é uma questão de mentalidade, mas não dispensa alguns cuidados para manutenção da saúde.

“Essa coisa de roupas e sapatos diferentes é uma grande brincadeira, um lado infantil muito gostoso, afinal, é das criancinhas o reino dos céus. Tenho essa coisa do fashion como curtição, mas nunca pensei em ser símbolo sexual. Mesmo quando apareci quase nua na capa do álbum ‘Um’, porque queria muito mostrar como era uma avó do terceiro milênio. Sempre tive o compromisso de não ter o peso da idade. Existe até um estudo falando isso da minha geração, dizendo que ela não está envelhecendo. Ney Matogrosso é um ótimo exemplo. A mentalidade é muito importante. Ela define a sua vida. A minha me vê sempre renovando, curtindo saudável. Além disso, me cuido com alimentos orgânicos e caminhadas”, confessa a artista, que também revela que faz reposição bioidêntica, utilizada na medicina ortomolecular, e a dieta do grupo sanguíneo.

“Fora isso tudo, acho extremamente importante perdoar e se arrepender. Do contrário, vão existir as marcas da devassidão no nosso rosto. A mágoa seca os ossos, como diz a Bíblia. Não podemos permitir que determinados sentimentos transformem nossas crianças sadias em velhos carrancudos e cheios de mágoa”, conclui Baby do Brasil, que, para nosso orgulho, é também um pouco Baby de Niterói.