Quem sabe de si é si. E só.

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Eles dizem que seremos felizes. Não somos, aí dá um nó. Não sabemos resolver, não sabemos esperar, eles-disseram-que-seríamos-felizes, repetimos feito um mantra, sempre com o outro ali, meio responsável, meio influente, meio porra nenhuma. Eles dizem que vamos encontrar um trabalho que somos apaixonados e que-nunca-teremos-que-trabalhar. A gente chega cheio de inocência sem o menor preparo para os dias ruins, as más avaliações, os compromissos, as obrigações. Eles dizem que largam tudo e dão volta ao mundo. A gente fica aqui, catando moeda do troco, almoçando barato, usando a mesma camisa e mesmo assim não dá pra ir pra Araruama num final de semana qualquer. Eles dizem que relacionamentos são para sorrir e postar fotos. A gente se perde em qualquer crítica ou lamentação do outro e já se joga em tantas e tantas pessoas que rodeiam, sempre lindas, perfeitas, divertidas, por ali feito abutres esperando recaídas – e sempre há porque a rotina enfeia (sei lá se essa palavra existe), o cotidiano fica chato, as semanas longas, os meses nem falam, os anos nem existem. Eles dizem pra vivermos tudo. A gente vai, mergulha e acorda sozinho. 

“De acordo com as estrelas: todos somos pequeninos”. Escrevi isso no meio de uma bad, uma vez, que tava tomado pelo meu egocentrismo e me deparei com novidades negativas no caminho. Aí comecei a pensar sobre todas as vezes que nos achamos melhores, mais altos, mais fortes, mais espertos do que o outro. O outro, coitado, nunca é colocado em questão. A gente tá nessa de rede sociais, de oi-sumida, de coraçãozinho fake e fácil que, no fundo, no fundo, todo movimento acaba sendo egocêntrico – inclusive este texto aqui. A gente não se cuida e se perde no mar de oportunidade de gente disposta a trocar meia dúzia de palavras vazias que, por alguns minutos, preenchem a nossa própria carência em troca, é claro, de nenhum cuidado e responsabilidade emocional com o outro. Somos todos garotos de programa nos colocando sobre a cama e, ao mesmo tempo, cliente rico oferecendo coisas em troca do outro ir embora o mais rápido possível. Reclamamos e exclamamos no outro defeitos que há em nós mesmos. Empatia e autocrítica são tipo lista do buzzfeed sobre palavras que só há em idiomas que não conhecemos. 

Marçal Aquino já escreveu eu-receberia-as-piores-notícias-dos-seus-lindos-lábios. Eu nunca vi algo tão bonito quanto este título, Marçal. Tanta verdade que a gente é capaz de aguentar até as mentiras. Isso é lindo, Marçal. Exceto o que eu não gostei. Mas é lindo. Ninguém gosta de tudo. Mas cabe aqui o meu descontentamento. E é necessário avisar ao outro o que não se está gostando. O outro vai aceitar, vai entender, mesmo que sejam as piores notícias. É necessário avisar, conversar, crescer, engrandecer, agradecer. Duas pessoas em caminhos paralelos já é algo completo, hoje, então, com o acesso em excesso, deixa tudo ainda mais difícil. Permaneçam fiéis e confidentes. Ninguém tá pronto. Ninguém é perfeito. Nem você, nem o outro. Não se quebrem.

Pra quem não entende de valsa, vai pensar que dançar é esquizofrenia.