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A modelo plus size Laís Velame viaja o mundo trabalhando com um novo padrão estético que começa a se impor
Foto: Lucas Benevides
Por um lado, médicos defendem que o sobrepeso oferece diversos riscos à saúde e precisa ser combatido. Por outro, militantes do gordoativismo afirmam que a patologização do corpo gordo é a raiz da chamada gordofobia, que favorece o preconceito. Uma discussão cheia de argumentos fortes, de ambos os lados, que tem como contexto uma sociedade em plena transformação em relação a seus padrões de saúde e beleza.
Segundo o empresário e gordoativista Bernardo Boechat, cada um sofre uma repressão e um estigma diferente. No caso do corpo gordo, este é visto como aquele com pouca mobilidade, diferente do que o mercado busca para ficar muito tempo produzindo. Assim, esse corpo fora do padrão passa a ser relacionado à ideia de uma pessoa sem controle sobre si mesma, à preguiça.
“Mais recentemente, passou-se a tratar o corpo gordo como doente, mais ou menos há uns 10 anos, quando decidiram criar a percepção da obesidade como doença com o argumento de facilitar o acesso ao tratamento, assim como aconteceu com os transexuais. O argumento é que, se visto como doente por hospitais, planos de saúde e governos, esses órgãos passam a ser obrigados a oferecer tratamento. Só que transformar em doença também reforça a ideia de que corpos são bons ou ruins, dependendo do tamanho”, explica Boechat.
Nesse contexto, a gordofobia pode ser considerada como a pior consequência. Segundo Bernardo, é um guarda-chuva para todas as percepções e estereótipos em relação às pessoas gordas, como preconceito, falta de acesso e gordofobia médica. Segundo o ativista, modificar a forma como olhamos para as pessoas gordas é uma reflexão que está apenas começando.
“Eu não acredito em uma posição de combate à classe médica. A gente precisa, sim, é discutir, mostrar que, na sociedade, existe uma espécie de ideia de correção para a pessoa gorda. As pessoas se sentem no direito de humilhar, serem gordofóbicas, com a desculpa de que estão ajudando. O movimento Boby Positive, por exemplo, já é um movimento de aceitação corporal, mas não abarca a questão médica, não sai em defesa de mostrar que o corpo gordo não é um corpo doente. Eu acredito que a patologização do corpo gordo será melhor discutida em breve”, comemora.
Talvez um exemplo de uma mentalidade que começa a se modificar e classificar o corpo gordo como modelo de beleza, a modelo gonçalense Laís Velame, de 22 anos, viaja o mundo trabalhando com um novo padrão que começa a se impor.![]()
Bernardo Boechat luta contra a ideia de que um corpo gordo é obrigatoriamente um corpo doente
Foto: arquivo pessoal
“Sempre quis ser modelo, desde quando eu era pequena, mas nunca tive a oportunidade de estar dentro dos padrões daquela época. Mas, com o tempo, e o crescimento de novos segmentos da moda, tudo mudou. Há mais ou menos três anos, encontramos cada vez mais os termos “curvy” (curvilíneo) e “plus size” como opções que vêm ganhando força nesse mercado”, recorda Laís, que acabou de chegar de uma temporada de moda na China. “Ser modelo plus size, assim como magra, requer medidas específicas. Tanto elas quanto nós precisamos estar dentro de determinados padrões. A diferença é que, entre nós, não existe restrições alimentares loucas para buscar o corpo ideal. Acredito que estou aqui para questionar padrões. E não me considero exceção, pois existem muitas meninas maravilhosas e plus size pelo Brasil e pelo mundo”, afirma a modelo.
Mas se classificar o corpo gordo como doente pode ser um olhar carregado de preconceitos, por outro lado, para os profissionais de saúde, pessoas com sobrepeso têm um risco aumentado de doenças cardiovasculares, tais como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, hipertensão e diabetes. Entretanto, certamente a discriminação também é algo que atrapalha muito a vida dessas pessoas, afirma Giselle Taboada, médica membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
“A preocupação médica com o peso é sempre uma preocupação com a saúde e não estética. O critério para diagnóstico de sobrepeso é baseado em estudos populacionais que avaliaram a associação entre índice de massa corpórea, calculado a partir do peso e da altura do indivíduo, e doenças crônicas ou mortalidade. Esses valores não têm a ver com estética e, sim, com risco de doenças”, ressalta Taboada.
Apesar de ser a ferramenta mais usada para avaliação do “peso ideal”, o índice de massa corpórea (IMC) possui limitações, pois não informa sobre a proporção de massa muscular e gordura. Assim, segundo Giselle, a avaliação deve ser complementada por outras medidas, como a da circunferência abdominal, que permite estimar a quantidade de gordura visceral, a mais relacionada com o aumento do risco de doenças cardiometabólicas.
“Qualquer pessoa se beneficia ao adotar hábitos saudáveis de vida, independentemente do peso. Mas pessoas com sobrepeso se beneficiam por reduzir o risco de doenças e não devem se sentir estigmatizadas por isso”, conclui a médica.
Saúde x sobrepeso
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