Sem medo de comprometer minha reputação de gosto gastronômico, recomendo a viagem que uma garrafa de nam plá (na Tailândia) ou nuoc nam (no Vietnã) pode proporcionar. Me pergunto se devo percorrer os detalhes de sua preparação, com o risco de obter um resultado oposto ao desejado, ou seja, espantar de vez o leitor que por hora desejo atrair para esse universo. Sim, sejamos honestos, o ingrediente que melhor define a cozinha do sudeste asiático, o molho em questão, é feito de peixes, e, às vezes, crustáceos, deixados com suas vísceras, em fartas quantidades de sal, em tanques ao sol, por meses a fio, até que apodreçam e fermentem. O líquido obtido é filtrado e “voilá”, surge o produto encontrado em 10 de cada 10 casas do sudeste asiático afora, inclusive porque é utilizado no lugar do sal de cozinha. Reconheçamos o fato: qualquer desavisado que, num supermercado, resolva sentir o cheiro antes de comprar, provavelmente vai desistir da ideia. Pena, o cheiro forte do produto pouca relação tem com sua contribuição na construção do ancestral paladar asiático. Combinado na panela, nas preparações tailandesas, o resultado surpreende, e se você ainda não sabe o que é o umami, o quinto sabor perceptível, junto ao doce, salgado, amargo e azedo, o nam plá põe um ponto final na língua, é uma bomba de umami (do japonês umai = delicioso e mi = gosto). Uma garrafa de nam plá vale mais que muito livro de receita!
Peixe no leite de coco
Parece coisa da Bahia, mas vejamos, o uso do nam plá vai catapultar o peixinho diretamente para Bangkok. É simples, refogue alho e cebola numa caçarola baixa, junte 500ml de leite de coco, 50ml de nam plá, uma colher de sopa de gengibre fresco ralado, suco de meio limão, uma pimenta dedo-de-moça picada, uma colherzinha de café com curry. Cozinhe em fogo baixo para incorporar o sabor, coloque 4 filés de peixe firme, dourado é uma boa escolha, tampe a panela e cozinhe em fogo baixo por 15 minutos, vire os filés, salpique coentros e cozinhe por mais 15 minutos. Sirva com arroz basmati. Por lá a turma acompanha com água ou chá, mas por cá o acompanhamento fica entre uma witbier e um vinho verde, nada muito fino, um verde bem gasoso mesmo fica bem nessa farra de sabores vibrantes.
Tape o nariz e seja feliz
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