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Mães são defensoras da liberdade de se poder amamentar em público

Foto: Divulgação

Segundo o Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde, a amamentação deve acontecer em livre demanda, ou seja, sempre que o bebê solicitar. No começo de 2015, durante um batizado coletivo de bebês na Capela Sistina, o Papa Francisco saiu em defesa do direito à amamentação em público. Mas casos de mulheres que sofrem intimidação por estarem dando de mamar ao bebê continuam acontecendo. 

Aos 33 anos, Fabiola Álvaro é mãe de um menino de sete e uma menina de um ano. Ela conta que as duas experiências de maternidade foram bem diferentes. Enquanto na primeira ela trabalhava no Rio de Janeiro e morava em Niterói, por isso não conseguia se dedicar integralmente ao filho, na segunda ela está trabalhando em casa e consegue estar todo o tempo disponível para a menina. A hora de mamar, por exemplo, é quando a pequena quer, independentemente de onde estiverem. 

“É livre demanda mesmo, simplesmente quando ela quer mamar. Se tiver que amamentá-la quando estivermos fora de casa, eu amamento. E não boto lencinho por cima não. Fico sem entender como as pessoas reagem de forma tão estranha a um ato tão natural”, comenta.  

Ela revela que, na maioria das vezes, quando a filha começa a dar sinais de que precisa mamar, não tem problemas com as pessoas, que a tratam com carinho. Mas já passou por uma situação chata. 

“Uma vez, estava na Amaral Peixoto (Centro de Niterói) com meu marido, amamentando minha filha. Um senhor passou mordendo os lábios, olhando com claros sinais de desejo. Aquilo me chocou. Foi a primeira vez que pensei ‘nossa, é por isso que as pessoas colocam o paninho’”, relata. 

Fabiola Álvaro realiza atendimento domiciliar em aleitamento materno e é idealizadora do MamaMia, um projeto destinado ao apoio, promoção e proteção da amamentação. Ela explica que é impossível controlar a reação das pessoas que se deparam com uma mulher amamentando, e, por isso, não existe uma forma de prevenir abordagens de intimidação. O ideal, porém, é que ela procure um lugar que se sinta segura e confortável.

“Só a mãe sabe o melhor lugar para amamentar o seu bebê. Cada dupla mãe/bebê tem sua característica de relação. É ela quem decide qual é o melhor lugar para amamentá-lo”, diz. 

Mães que amamentam seus filhos posam para a lente de Alexandre Périgo, em seu projeto “Amores líquidos, Amores lácteos, Amores em livre demanda”

Foto: Divulgação: Alexandre Périgo

Em Niterói, desde setembro de 2015, a mulher tem assegurado por lei o seu direito de amamentar em público, independente de áreas existentes para tal fim. O estabelecimento que proíbe ou constrange o ato da amamentação em suas instalações está sujeito a multa de R$ 418,35. Em caso de reincidência, o valor dobra. A lei, de Nº 3164/2015, é de autoria do vereador Leonardo Giordano (PCdoB). 

“A lei surgiu por conta de relatos de mulheres de Niterói que passaram por constrangimentos ou censura por estarem amamentando em locais públicos. Sacramenta a amamentação como um direito da mulher, além de lembrar que também é importante para a saúde do bebê. Então, a gente protege a mulher e a saúde da criança”, defende. 
Doula, educadora perinatal e ativista da amamentação, Debora Regina Magalhães Diniz é mãe de três. Ela faz questão de pontuar que amamentação é um ato de amor e não apenas de nutrição. 

“Uma mulher que amamenta em público o faz porque está atendendo às necessidades nutricionais do seu filho, é um direito garantido por lei. Se ela se sentir desconfortável, pode denunciar. O que não pode é se calar”, orienta Debora, que aponta a falta de apoio e incentivo como as maiores dificuldades que as mães, principalmente as de primeira viagem, enfrentam na amamentação. Segundo a doula, no Brasil, apesar da forte campanha do Ministério da Saúde em favor do aleitamento materno, a média de tempo de amamentação é de apenas 54 dias. O hormônio responsável pela ejeção do leite, a ocitocina, pressupõe que a mulher esteja tranquila e protegida para ser produzido. 

“Vivemos em uma sociedade em que uma mulher amamentando pode chocar ou ‘incomodar’, mas ninguém se incomoda com mulheres nuas no carnaval ou no comercial de cerveja. Além disso, existem outros ‘boicotadores’ do aleitamento materno, como a indústria do leite em pó”, acredita. 

O fotógrafo Alexandre Périgo fez, no começo desse ano, um ensaio fotográfico chamado “Amores líquidos, Amores lácteos, Amores em livre demanda”. Em cena, oito mamães amamentando seus bebês em público, protestando contra a sexualização em torno do ato de amamentar. 

“A experiência foi ótima. Quando junta muita gente, dificilmente os preconceituosos se manifestam. Essa gente é medrosa, e, quando vê muitas pessoas juntas, não costuma se manifestar. E o pessoal gostou muito do ensaio, em especial as mulheres mamães, porque é uma tentativa de colocar esse ponto em discussão novamente. É algo que não tem cabimento ter qualquer tipo de prurido”, finaliza.